Quando os ‘leões’ pararam Istambul
01 Out, 2015
Memórias da primeira deslocação à Turquia no Jornal Sporting
Pode gostar-se ou não do estilo e da sonoridade, mas na década de 90 Bon Jovi era sempre dos concertos mais aguardados. Depois de Bruce Springsteen, U2, Metallica, Depeche Mode, Sting ou Prince, Alvalade, o templo de toda a música em Lisboa, recebeu a 11 de Setembro de 1993 a banda americana com uma primeira parte de luxo a cargo de Billy Idol. Dois dias depois, a equipa de futebol viajou para a Turquia, onde iria defrontar pela primeira vez na Europa uma formação local, nesse caso o Kocaelispor. E não é que, à chegada, parte da comitiva que acompanhava os ‘leões’ acabou a noite no terraço do hotel, um local de eleição, a ver um concerto de Bon Jovi?
Foi uma estreia ‘a matar’ do conjunto ‘verde e branco’ em solo turco. Até pela constante simpatia das gentes locais, que disponibilizaram a Sousa Cintra, presidente do Clube, uma limousine branca que fez furor nas ruas de Istambul. Houve jantares orientais com dança do ventre, distribuição de pins por polícias locais, trocas de prendas com a direcção homóloga e espaço para uma visita turística pela cidade com passagem pela mesquita de Santa Sofia, um dos ‘ex-libris’. Tudo num dia e meio e com a constante confusão a propósito das liras turcas – 12.000 liras era o equivalente a um dólar; a partir daí, é só fazer as contas sobre o quebra-cabeças que constituía o pagamento de qualquer coisa, inclusive perfumes a preços abaixo de saldo que, poucos minutos depois, se percebeu que não passavam de frascos que eram cheios por alguns miúdos no centro da cidade nas torneiras existentes ao ar livre (e algumas pessoas ainda caíram no ‘esquema’, acrescente-se).
No dia do jogo, seguiu-se a viagem até Izmit. Com muito trânsito à mistura, foi coisa de quase duas horas. Mas como o ambiente era bom, estava tudo tranquilo. O pior foi mesmo dentro do estádio, o Ismet Pasa: a bancada reservada aos adeptos ‘verde e brancos’ ficava na zona central e estava guardada por um polícia por cada degrau de um lado e de outro, todos munidos com armas de meter respeito. E bares, águas, qualquer coisa? Nem por isso, ao contrário da zona da imprensa onde os jornalistas foram recebidos com chá e... hamburgueres do McDonald’s. Até ao final do jogo, mesmo a casa de banho se devia evitar, não fosse acontecer alguma coisa. Mas, em contrapartida, os adeptos fanáticos locais queriam oferecer jarros de água e um pão tradicional para os interessados. Estranho: afinal, o ‘perigo’ era só fogo de vista.
Em campo, num plantel que contava com sete campeões do Mundo Sub-20, os comandados de Bobby Robson – que somavam por vitórias todos os encontros realizados até essa fase no Campeonato Nacional da I Liga – seguraram o nulo até final do jogo, apesar da insistência do Kocaelispor sobretudo na primeira parte. Jogaram nesse encontro Costinha; Nélson, Valckx, Carlos Jorge, Paulo Torres; Paulo Sousa, Capucho, Cherbakov (Figo), Pacheco (Filipe); Balakov e Cadete. Na segunda mão, os ‘leões’ venceram por 2-0 com golos de Cadete e Pacheco. O Sporting só voltaria a defrontar uma equipa turca em 2003/04: após empate a um, o Gençlerbirligi venceu em Alvalade por 3-0.