Aquela madrugada de 1984
18 Ago, 2022
Passaram já 38 anos. Dizer que me lembro como se fosse ontem, seria um manifesto exagero, muito embora me interrogue como passaram tão rapidamente quase quatro décadas, num Mundo em que tanto mudou, em que regimes autocráticos caíram, em que a tecnologia mudou o Mundo, em que até os States foram alvo de um ataque sem precedentes às Torres Gémeas, e mesmo no Sporting Clube de Portugal de hoje já tanto se alterou em relação a esse tempo, menos naquilo que é o seu ADN, em que está implícita a cultura ganhadora que vem dos primórdios da nossa existência.
Foi precisamente no dia 12 de Agosto de 1984 que o desporto português teve a sua primeira medalha de ouro Olímpica. O palco foi a cidade norte-americana de Los Angeles, e o feito foi conseguido pelo campeão dos campeões, o nosso Carlos Lopes. A particularidade maior desse feito, foi não só a medalha de ouro daquele atleta invulgar, com uma capacidade ainda hoje nunca vista que pôs os portugueses espalhados pelo Mundo em êxtase, como ainda o recorde Olímpico da maratona, que haveria de perdurar no tempo 24 anos.
Dessa madrugada, do então teenager que havia em mim, e na ausência dos meus pais, que se encontravam de férias, recordo o nervoso miudinho, mas sobretudo o momento em que Carlos Lopes entra no estádio destacado e já não lhe fugia o ouro. Pulei, gritei, chorei de alegria até. Tinha então um gato siamês que me acompanhava quase desde bebé, o Kimba, e a recordação é de ele - sim, parece mentira - se pendurar literalmente na televisão a ver o 'nosso' Carlos Lopes a cortar a meta.
Foi esse, depois das vitórias do Sporting no Campeonato Nacional de futebol de 1980 e 1982, juntamente com a conquista da Taça dos Campeões Europeus de hóquei em patins em 1977, os meus momentos mais marcantes do meu Sportinguismo na fase de adolescente. Apenas superado pelo dia em que pelas mãos de meu pai, e acompanhado do Sr. Olímpio, o Sócio proponente - tempos em que existia essa obrigação para se ser Associado do Sporting CP -, entrei pela secretaria do antigo estádio e me fiz sócio em menino, que me faz ser hoje tão garbosamente o número 4375-0.
Quis o destino que depois de 1984, e de rejubilar com o feito do grande campeão Carlos Lopes, tivesse tido o prazer de o conhecer pessoalmente, e a cada momento em que estive com ele recordar-me daquela madrugada de 1984, entre tantos outros feitos com a camisola das quinas ou com o Leão rampante ao peito.
Ele, para mim, é o campeão maior de um clube que é o meu - nosso - feito de uma história de campeões e de figuras gradas do desporto português e até internacional. Já se ganhou tanta coisa, a tanta tarde e noite de glória assisti ao vivo ou através da televisão, mas a efeméride do dia 12 de Agosto de 1984 fez-me rebobinar as memórias... e que belas elas foram.
Obrigado ao Carlos Lopes, esse Leão viseense, mais propriamente de Vildemoinhos, de uma têmpera como ninguém, e que para ele ganhar, naquele jeito tão peculiar e franzino, era como respirar, fazia-o naturalmente.
São momentos como este que me faz repetir vezes sem conta que ser Sportinguista não se explica, sente-se.
Obrigado, Sporting Clube de Portugal. Obrigado, Carlos Alberto de Sousa Lopes!