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As vitórias do Sporting CP e de Rúben Amorim

Por Rodrigo Pais de Almeida
15 Abr, 2021

Rúben, gostar do Sporting CP não é fácil (…) e não é para qualquer um… Mas habitua‑te, porque impossível mesmo é deixar de o amar!

Era de antever um jogo muito disputado com o FC Famalicão. A entrada de Ivo Vieira para o comando da equipa minhota conseguiu finalmente colocar um plantel de enorme qualidade e com potencial para outros patamares a praticar um bom futebol e com resultados condizentes com essa realidade. Com um futebol de apoio na construção e jogadores muito rápidos na frente e nos corredores. Com uma equipa confiante e com atletas à procura de chamar a atenção dos “grandes”. Com um treinador inteligente, experiente e conhecedor do futebol português. Uma equipa que se encontrou para este último terço da Liga NOS para fazer jus ao potencial de equipa europeia que tem.

Rúben Amorim procurou baralhar o meio‑campo famalicense ao recuar Pedro Gonçalves para a posição oito e ao adiantar João Mário para o apoio lateral/frontal a Paulinho e Tiago Tomás. Rapidamente respondeu Ivo Vieira com o recuo de Gustavo Assunção para terceiro central e aglomerando no bloco central ao condicionar também a saída de jogo pelas alas do Sporting Clube de Portugal e ao direccioná‑lo para a superioridade numérica da sua equipa. Poucos duelos. Poucas oportunidades. Bola dividida. E uma primeira parte onde o empate se ajustava e só satisfazia aos forasteiros.

A equipa do Sporting CP precisava de mais bola, de bola mais rápida entre corredores e de profundidade. As entradas de Daniel Bragança e Matheus Reis empurraram o Sporting CP para uma segunda parte de muita qualidade ofensiva na construção de oportunidades de golo e de segurança defensiva que facilmente controlava as parcas investidas do seu adversário (apenas uma defesa de Adán na segunda parte, na realidade, a sua única defesa nos últimos dois jogos, tão poucos têm sido os remates consentidos à baliza).

À semelhança de Moreira de Cónegos, aconteceu futebol. E em futebol nem sempre a melhor equipa, a que jogou melhor, a que construiu oito vezes mais oportunidade do que o adversário, a que dominou o jogo…. Ganha. As entradas de Jovane e Nuno Santos ainda acrescentaram critério até chegar à finalização, mas a eficácia falhou. A subida de Coates na tentativa de acrescentar centímetros ainda proporcionou mais duas situações de golo nos derradeiros minutos, mas a bola teimou em não entrar. O Sporting CP fez tudo. Os jogadores deram tudo. Mas o empate persistiu e castigou duplamente a equipa de Rúben Amorim.

Faltam oito jogos para terminar a Liga NOS. Depois do empate em Famalicão na primeira volta a equipa perdeu apenas mais dois pontos até final da mesma. Este é um tónico e um guião para os oitos encontros que faltam. Aliás, nestes dois empates consecutivos a única coisa que faltou foi a bola entrar. O futebol é também isto, momentos. E este é um momento para dar a volta, de regressar aos três pontos de acordo com a realidade do que se passa no rectângulo de jogo, e de mostrar as garras Leoninas empurrando a bola para beijar as redes dos adversários. É isso que esperamos todos para a primeira de oito finais, em Faro, já amanhã.

Nota final para as palavras de Rúben Amorim na antevisão do jogo da última jornada da Liga NOS “O treinador é que pode perder o campeonato… o Sporting CP já o ganhou…”. Os Sportinguistas não estão habituados a um discurso frontal e realista como este de Rúben. Alguns podem, num momento de maior exaltação, depois de dois empates, esquecer o ponto de partida desta temporada quando previam que estivéssemos apenas a lutar pelo acesso a um possível lugar na Liga Europa. Outros não acreditavam nos objectivos, na forma de os alcançar, nas pessoas que o lideravam e, em Abril, a oito jogos do fecho da Liga NOS assistem estupefactos à performance estável, segura, sólida e consistente que esta equipa vai apresentando.

Dizes que o Sporting CP já ganhou e eu não podia estar mais de acordo, Rúben. Mas já ganhou muito para além do recorde dos 26 jogos consecutivos invicto que acabou de estabelecer. Já ganhou pela forma como o fez e que abre um novo horizonte no Clube. O Sporting CP já ganhou porque teve a coragem de apostar no momento certo e nas pessoas certas para encabeçar um projecto para o futebol do Clube. O Sporting CP já ganhou porque nesse projecto recuperou o seu ADN de Leão, de clube dotado de uma Academia de Formação ao nível das melhores do Mundo e onde se forma a grande parte do seu plantel sénior de futebol profissional. O Sporting CP já ganhou porque tem hoje uma equipa onde os Sócios se revêem muito para além da excelência dos resultados alcançados. O Sporting CP já ganhou porque se sente nestes jogadores, nesta equipa técnica e em quem lidera o Clube uma verdadeira, clara, radical e convincente mudança de atitude e forma de ser e de estar.

Uma atitude que se diferencia pela forma e pelo conteúdo. Porque relativiza a vitória da mesma forma que confia nos momentos menos bons. Porque resiste à tentação de responder à letra aos ataques fora do campo dos rivais e de outros artistas colocando‑os no lugar de indiferença de onde nunca devem sair. Porque comunica com clareza, firmeza e confiança quando o futebol é “apenas” isso, futebol. Porque não entra em crises prematuras de histeria colectiva e de autoflagelação. Porque trata valores, ideias e ideais de forma inegociável, e que nunca qualquer resultado os fará desviar ou mudar o seu rumo!

Sabes, Rúben, tu também já ganhaste. No dia em que aceitaste sair da tua zona de conforto e aceitar a “louca” ideia de Frederico Varandas e Hugo Viana para encabeçares o seu projecto para o futebol do Clube. No dia em que acreditaste que o Sporting Clube de Portugal era o local certo para desenvolveres o teu percurso profissional. No momento em que entraste na Academia e percebeste o potencial imenso deste Clube, destas gentes, deste amor infindável e que nunca esmorece. No jogo em que disseste “Onde Vai Um Vão Todos” e em que à nossa equipa ligaste os nossos corações até onde ela tiver de ir. E porque aceitaste desde o dia em que chegaste que a atitude e a forma de estar neste Clube estava em mudança e era o primeiro passo para voltar a vencer!

Rúben, gostar do Sporting CP não é fácil pelo histórico de incerteza, de autoflagelação, de “crises de meia idade” ou pelas “dores de crescimento”… Não é para qualquer um, Rúben… Mas habitua‑te, porque impossível mesmo é deixar de o amar!