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ORGULHO LEONINO

Por Rodrigo Pais de Almeida
17 Set, 2021

Se há coisa que hoje sentimos é que voltámos a ter um treinador, jogadores e uma EQUIPA ao nível do melhor dos nossos Sócios e adeptos!

O futebol é como a vida. Feito de momentos. Momentos que mudam o curso de um encontro. Que condicionam uma substituição. Uma lesão. Uma decisão, seja ela de um jogador ou do árbitro. Uma jogada. Uma ideia para um jogo. Cada jogo é, por si só, um conjunto de múltiplos momentos sequenciais. Apenas uma pequena alteração num deles e tudo o resto será diferente e levará a um percurso e um final potencialmente diferenciado!

Na mesma semana assistimos a dois jogos completamente assimétricos.

No sábado o Sporting CP rubricou uma exibição de grande nível, com solidez e coesão no meio, a construir inúmeras oportunidades de golo. Só o guarda-redes adversário adiou o dilatar de uma vantagem tão curta que foi desfeita no único remate enquadrado do adversário em todo o jogo. Injusto e doloroso. Uma equipa empolgante. Sem medo de ter bola e de construir jogo em linhas baixas para chegar com espaço mais na frente. Com passes de rotura e longitudinais que criaram desequilíbrios na estrutura defensiva adversária. Uma equipa que mostrou ter crescido muito face aos duelos com o FC Porto da época passada e que nos deixa esperançosos de uma época condizente com as nossas ambições.

Na quarta-feira vimos uma equipa com uma entrada nervosa e que após o primeiro e segundo momentos do jogo se viu a perder por dois golos de diferença. Condicionou tudo e todos. Dos jogadores ao adepto. Das decisões ao treinador. Uma equipa sem a sua referência defensiva (o capitão e melhor jogador da Liga Portuguesa 2020/2021, Coates) num jogo em que era obrigatório ser sólido. Uma equipa sem o grande impulsionador da fase ofensiva (o melhor marcador da Liga 2020/2021, Pedro Gonçalves) quando precisávamos de agitar o jogo.

Uma equipa que defrontou o poderio do campeão dos Países Baixos. Dotados de uma dupla de centrais que são os primeiros construtores de jogo ofensivo e que estudou muito bem a equipa de Rúben Amorim. Percebendo que a dinâmica da dupla Palhinha-Matheus tinha de ser contrariada, colocou Berghuis e especialmente Gravenberch (19 anos de puro talento deste já titular da sua selecção) entre linhas ofensivas por detrás da dupla leonina, e não a jogar de frente como é usual.

Sempre em superioridade numérica no meio-campo fruto desse “falso” posicionamento, Gravenberch apoiava os centrais e o trinco Alvarez na saída de jogo cuidada ora pelo corredor central ou em tabelas laterais. Mas ainda aparecia nas costas de Palhinha-Matheus na cabeça da área a apoiar Haller, Tadic e Antony criando quase que uma linha de cinco atacantes para cinco defensores e onde a rapidez e o sentido de jogo de quem tem bola dá a vantagem aos atacantes.

Quando o Sporting começava a tentar construir a partir de Adán e do trio defensivo (sempre demasiado fechado no corredor central ao invés da habitual abertura para criar espaço para o passe entrar), o peso de dois golos de desvantagem muito prematuros condicionaram o jogo. Alterou dinâmicas. Mexeu com a confiança dos nossos jovens e ainda pouco experientes jogadores nestas quentes noites europeias. Aglomerou homens onde devia haver espaço. Facilitou a pressão intensa do adversário em linhas avançadas, e raramente conseguiu passar essa primeira linha de pressão que poderia ter sido transposta (como se viu em alguns lances) com o apoio baixo de Paulinho ou com a profundidade de Jovane e Nuno Santos depois do apoio curto do nosso homem mais avançado.

A inexperiência da nossa jovem equipa também ficou bem patente num dado estatístico interessante: 11 vs 27 foram as faltas que cada equipa fez. Os jogadores do Ajax nunca hesitaram em travar as nossas transições com faltas que matavam a jogada antes ainda de ela se tornar perigosa.

A primeira parte da nossa estreia na Liga dos Campeões é feita de três momentos. Os únicos três remates à baliza do AFC Ajax. Os três resultaram em golo. Os três mudaram o curso do jogo. Sorte para uns. Eficácia para outros. São momentos marcantes porque dois deles abrem um jogo nos primeiros nove minutos em que o Sporting CP tinha de gerir para controlar a ansiedade natural, e o outro fecha (42’) a mesma primeira parte restabelecendo a vantagem de duas bolas.

Ao momento da possível viragem com o 2.º golo de Paulinho anulado milimetricamente pelo VAR sucede-se o 1-4. E ainda ao momento do derradeiro grito de revolta Leonino com a bola a embater milagrosamente no poste da baliza e a sair quando podia ter entrado, responde no remate seguinte com o 1-5. Sempre que mostrava que não se rendia, o Leão era impiedosamente abatido com mais um golpe de eficácia neerlandesa. Nunca se rendeu. Mas aos momentos de possível reacção, respondeu sempre o adversário com um momento de desequilíbrio e de golo.

Muitos dos melhores momentos da minha vida estão associados ao Sporting CP. Ao Estádio de Alvalade. Ao Jamor. Aos amigos e familiares nas romarias a acompanhar o Sporting CP. A percorrer estádios por esse mundo fora atrás do nosso grande amor. Momentos de alegria. Outros menos bons. Perdoem-me a sinceridade, mas houve momentos no passado em que a equipa não estava à altura dos Sócios que tinha. Infelizmente, no passado, num ou noutro dia menos bom, nós, os Sócios, esquecemo-nos da nossa verdadeira essência e pontualmente não estivemos nós à altura da equipa.

Mas poucos momentos se comparam ao que vivi na 4.ª feira no final do jogo após uma derrota pesada por 1-5 na nossa própria casa. O estádio, de norte a sul, de nascente a poente, em uníssono a despedir-se da equipa com uma salva de palmas arrebatadora e com cânticos de apoio, recordando o verdadeiro sentido leonino. Os valores inegociáveis do que é ser Sporting CP. De quem não tem memória curta. De quem sabe o que custou chegar até aqui e não quer dar um passo que seja atrás! De quem sabe que tem de fazer muito mais com muito menos que os outros. De quem sente que o Clube se reergue e precisa de todos ao seu lado empurrando-o com o que pode para influenciar positivamente a equipa, rumo às ambicionadas vitórias.

Rúben, não te surpreendas com este momento! Sei que ainda te estás a habituar a ter os Sócios e os adeptos no estádio atrás de ti. E, se tens esse orgulho imenso e genuíno nos teus jogadores, acredita que nós também e que nunca vos deixaremos cair! Porque por muito que nos tentem vergar, vocês lutam até à última gota de suor especialmente quando as coisas vos correm menos bem e isso mexe connosco. Porque se há coisa que hoje sentimos é que voltámos a ter um treinador, jogadores e uma EQUIPA ao nível do melhor dos nossos Sócios e adeptos!