Pavilhão Municipal dos Desportos Armindo Peneque, em Aljustrel
Árbitros: Miguel Guilherme e Luís Peixoto (Lisboa)
Benfica: Guillem Trabal, Valter Neves, Tiago Rafael, Jordi Adroher e Marc Torra. Jogaram ainda: Nicolia, João Rodrigues (1), Diogo Rafael (1) e António Mendonça
Treinador: Pedro Nunes
Exclusões: Guillem Trabal
SPORTING: Ângelo Girão, Tuco, André Centeno (2), João Pinto (1) e Cacau. Jogaram ainda: André Moreira, Ricardo Figueira, Luís Viana (1), Zé Diogo e Poka
Treinador: Nuno Lopes
Exclusões: Ângelo Girão, Luís Viana e André Centeno
Comecemos por avançar o filme até aos 18 minutos de jogo: o Sporting perdia por 2-0 com o rival Benfica, tentava reagir a duas quebras momentâneas de concentração que penalizaram em demasia uma estratégia bem montada, tinha os seus fiéis e devotos adeptos em minoria em Aljustrel. Qualquer equipa ficava arrasada, qualquer apoiante acusava a festa alheia. Mas este conjunto de hóquei em patins ‘leonino’ teima em provar que essa coisa mundana do impossível não existe, funcionando como exemplo daquele que é o verdadeiro sentido atribuído a um grupo de trabalho. E esta falange ‘verde e branca’ teima em provar que essa coisa mundana do impossível não existe, funcionando como exemplo daquele que é o verdadeiro sentido atribuído a uma massa humana que faz quase 200 quilómetros para estar ao lado dos atletas nos bons e maus momentos. A empatia entre jogadores e adeptos é a gasolina que alimenta a vontade de vencer, mas a recuperação até ao 4-2 que permitiu a conquista da Supertaça António Livramento foi iniciada antes, no trabalho de casa.
Apesar da ligeira supremacia no número de remates do Benfica, o encontro teve um início equilibrado entre duas filosofias: os ‘leões’ tiveram um ataque mais prolongado e trabalhado, explorando os cruzamentos entre Cacau e João Pinto e a meia distância de Tuco, ao passo que as ofensivas ‘encarnadas’ apostavam mais na velocidade para criar desequilíbrios. No entanto, as defesas foram superiores aos ataques e os espaços para transições (interpretadas de forma sublime por André Centeno) eram raros, quase nulos. No lapso de um minuto, a estratégia ‘verde e branca’ ruiu e o adversário apontou dois golos de rajada, por João Rodrigues, num lance ofensivo fantástico de combinação com Nicolia, e por Diogo Rafael, a aproveitar um deslize de marcação para desviar à boca da baliza um passe de Valter Neves. Ainda assim, logo aos 19 minutos, Centeno leu bem uma saída do Benfica, recuperou a bola logo na primeira zona de construção e correu meio rinque até fintar Trabal e reduzir a desvantagem. As mudanças nas equipas baixaram um pouco a qualidade do espectáculo, mas mantiveram a intensidade e provocaram mais situações de desequilíbrio que nunca chegaram a ser aproveitadas.
No segundo tempo, e já depois de duas faltas duvidosas que colocaram o Sporting quase no limite do livre directo, os ‘leões’ venceram o jogo com uma mexida táctica: com o ligeiro recuo das linhas defensivas, os comandados de Nuno Lopes colocaram óleo na pista para o adversário ter acidentes perante a velocidade dos motores de Centeno – que empatou em mais um bom lance individual de transição – e João Pinto, o Mustang que abriu o livro no lance do terceiro golo, logo aos seis minutos, obtido na recarga a uma primeira investida com uma fantástica finta por trás das costas. O Benfica, que parecia estar a actuar como vencedor antes do jogo ter começado, tentou de tudo para tirar a décima falta, ao passo que o conjunto ‘leonino’, cada vez mais sólido enquanto bloco defensivo, saía rápido em transições que ameaçavam a baliza de Trabal. Era preciso algo para desequilibrar e repetiu-se o filme da Taça de Portugal, com dualidade de critérios e disciplina desequilibrada. Aos 14 minutos, e na sequência de uma falta sobre Poka, as ‘águias’ beneficiaram de um livre directo que Girão defendeu. O árbitro mandou repetir, o guarda-redes protestou como tantos outros tinham feito até aí e viu o azul. E foi nesse momento que apareceu Zé Diogo, um autêntico muro a evitar por três vezes o empate em ‘under play’, num dos lances com a felicidade de ver um disparo de Nicolia embater ainda no poste. Girão defenderia mais um livre directo (Nicolia) e um ‘penalty’ (João Rodrigues), até Luís Viana, à segunda oportunidade, fazer o 4-2 num lance de génio no seguimento de um livre directo. Após mais um azul a Centeno, que reagiu a uma agressão de Diogo Rafael a Tuco, os ‘leões’ acabaram a defender só com três unidades contra cinco jogadores do Benfica, que prescindiu do guarda-redes, e nem assim a malha furou.
A festa estava claramente montada para outro vencedor, mas o Sporting provou que as taças ficam sempre para as equipas e não para os conjuntos de bons jogadores. Contra tudo e contra todos, os ‘leões’ repetiram o triunfo na edição inaugural da prova e mostraram uma evolução notória em relação à última época, em termos colectivos e individuais. Foi uma tarde memorável em Aljustrel.