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Uma forma diferente de genialidade

Por sporting
28 maio, 2013

Malcolm Allison, treinador campeão no Sporting, dizia que a equipa tinha dois génios: António Oliveira e este antigo médio.

Nogueira teve uma passagem marcante pelo Sporting, apesar deste antigo médio ter representado o nosso Clube apenas durante duas temporadas (1981/82 e 1982/83). Tempo suficiente para ter deixado uma marca indelével no futebol de grandes equipas «leoninas», que ganharam as três competições nacionais referentes à época 1981/82. “Foi maravilhoso ter tido a possibilidade de representar o Sporting. O grupo de trabalho era extraordinário, éramos todos muito amigos e unidos e tínhamos muita raça. A equipa era madura e eu era dos mais velhos, a seguir ao Meszaros, pois cheguei ao Sporting quando estava quase a fazer 30 anos. Havia outros jogadores muito experientes, como o Manuel Fernandes e o Jordão e ‘malta’ nova, como Inácio, Litos, Carlos Xavier, Mário Jorge Barão, Ademar, Virgílio… Era uma mescla muito interessante”, começa por referir, acrescentando os nomes de Malcolm Allison, “um verdadeiro líder que era um treinador e um psicólogo extraordinário e João Rocha, um presidente fantástico”. O meio-campo daquela altura era formado por três operários: Nogueira, Ademar e Virgílio, cuja forma de jogar facilitava a vida aos “génios” António Oliveira, Manuel Fernandes e Rui Jordão. “Se não fosse aquele trio no meio do terreno não teríamos tido tanto sucesso. Para além de exímios ‘ladrões de bola’, tínhamos boa técnica e fazíamos bons passes à distância. Era um meio-campo rotativo, sem posições fixas”, conta, reconhecendo que “lá na frente havia três foras-de-série”, destacando Rui Jordão, que considera “um dos melhores pontas-de-lança de todos os tempos, com uma classe inigualável e marcador de golos de todas as formas e feitios”. Quanto a Manuel Fernandes, diz que “é um grande homem, das melhores pessoas que algum dia existiram no mundo”. E como jogador, “um grande talento e um avançado com grande sentido de oportunidade”. Para Nogueira, entrar em Alvalade com a camisola do Sporting vestida era sempre especial. “O estádio estava cheio em todos os jogos, com cerca de 50 mil espectadores nas bancadas. Uma vez, com o CSKA, joguei com cerca de 90 mil pessoas! Até adeptos na pista de tartan havia…Era um grande público, sempre a puxar por nós durante os 90 minutos”, elogia. Nogueira revela que podia ter chegado mais cedo ao Sporting. “Ao longo da minha carreira, errei ao assinar contratos longos, de três anos. Quando estava no Boavista, recebi um convite do Sporting. Lesionei-me no joelho e fiz a minha recuperação em Alvalade, com o médico Branco do Amaral. Foi o próprio Sporting que me operou e estava previsto que assinasse pelo Sporting na época seguinte, mas o Valentim Loureiro [presidente do Boavista na altura] pediu muito dinheiro. Acabei por chegar a Alvalade com quatro anos de atraso, tendo assinado em Fevereiro, quando ainda faltava disputar muito da época 1980/81”, conta. E jogar no Sporting foi o concretizar de um sonho. “Estamos a falar do maior clube português, o mais eclético e o que tem mais títulos conquistados. Por outro lado, não entra em guerras e tem uma massa associativa pacífica”, considera. Depois de uma época de tanto sucesso em 1981/82, causou surpresa a ausência de títulos na temporada seguinte. Nogueira explica o que correu mal. “Tínhamos a melhor equipa, mas o Malcolm Allison saiu e o António Oliveira passou a jogador-treinador, não rendendo o que deveria como futebolista. Esse foi um dos nossos males, na minha opinião. O Oliveira raramente treinava, por isso como poderia chegar aos jogos e render?”, questiona. Hoje em dia, é usual Nogueira juntar-se a muitos dos seus ex-colegas do Sporting, em almoços de confraternização. “Dou-me com todos, pois eu era a animação do balneário. Quando eles por vezes estavam tristes ou nervosos, eu chegava e conseguia fazê-los rir, pois eu estava sempre ‘na palhaçada’ e a contar anedotas. Só de olhar para mim, eles já se riam”, confessa. Nogueira gostava muito de brincar com o guarda-redes húngaro Meszaros. “Ele ficava no mesmo quarto que eu e o António Oliveira e fui eu quem lhe ensinei quase tudo daquele Português mais…especial, o dito calão da Alcântara. A sopa, o Sumol e a água tinham outros nomes, pelo menos quando era o Meszaros a fazer o pedido aos empregados (risos). Meszaros que era conhecido por fumar, até nos jogos. “Ele ao intervalo dava sempre umas ‘passas’ e à noite, no quarto, levantava-se e fumava”, confirma. Nogueira era um dos preferidos dos exigentes adeptos «leoninos», como o próprio reconhece. “Gostavam muito, muito de mim! Uma vez, num jogo com o Benfica que ganhámos por 3-1, saí a cinco minutos do fim, para eu receber os aplausos. Foi todo o estádio de pé, em êxtase! Nessa altura, nem liguei muito, mas hoje em dia reconheço todo o carinho que tinham por mim e que fez com que eu me sentisse tão bem no Clube”, diz. Sem falsas modéstias, reconhece que foi importante para o sucesso do Sporting. “O Malcolm Allison costumava dizer que havia dois génios na equipa do Sporting: eu e o António Oliveira. Lembro-me que comecei muito bem a minha primeira época no Sporting, estive em grande plano no estágio na Bulgária, antes de começar o campeonato. Além de ser bom tecnicamente, era alguém que estava os 90 minutos a lutar. Jogava na direita, na esquerda, no centro, ia à frente, ia atrás, enfim não parava…E metia bem a bola a 20, 30 metros, os meus colegas diziam-me que nunca tinham visto alguém que metesse bolas com tanta precisão, ao milímetro”, refere. Reconhecendo que era um jogador duro “mas não maldoso”, Nogueira tinha um adversário que o tirava do sério. “O Rodolfo Reis, médio do FC Porto, era muito maldoso, pior que o Paulinho Santos! Uma vez, ele deu um soco ao António Oliveira, que ficou a sangrar. Logo a seguir, quando o árbitro estava de costas, dei uma cabeçada ao Rodolfo Reis, que ficou no chão, sem se conseguir levantar”, confessa. Quando questionado sobre o jogador do actual plantel do Sporting mais parecido com a sua forma de jogar, Nogueira não hesita na resposta. “O Rinaudo, sem dúvida. Luta durante os 90 minutos, sem desistir e já é mais jogador. Agora, já não dá tanta ‘pancada’ e sabe definir muito melhor as jogadas. E deve ser um bom amigo dos colegas, de outra forma não seria capitão”, defende. Depois de acabar a carreira de futebolista, treinou algumas equipas secundárias, antes de trabalhar no jornal O Jogo. “Era chefe de expedição e trabalhava à noite, controlando as tiragens do jornal. Fazia a contagem e indicava para onde as várias edições deviam seguir. Só me deitava às 4 da manhã, mas às 14 horas, já estava pronto para o serviço outra vez”, recorda. Entre 2001 e 2006 esteve desempregado, até encontrar outra vocação: é negociante de peixe e mais uma vez, “vive” à noite. “Eu compro aquilo que vendo, tenho sempre tudo controlado. Desloco-me a três restaurantes, para ver o que eles precisam e se sobrar alguma coisa, vendo no meu bairro, Alcântara”, conta. E como é uma noite normal de trabalho? “Saio de casa à meia noite e meia, regresso às cinco e durmo apenas duas horas, até às sete, altura em que vou aos restaurantes. Mas antes durmo entre as 21h30 e a meia noite”, reconhecendo tratar-se de “uma vida muito cansativa”. E se durante o Inverno, trabalha apenas três vezes por semana, nesta época fá-lo todos os dias, por ser a época da sardinha. António Manuel da Costa NOGUEIRA Data de Nascimento: 10 de Julho de 1951 (61 anos) Naturalidade: Lisboa Posição: médio Clubes: Atlético (1969/70-1974/75) Sp. Braga (1975/76) Boavista (1976/77-1978/79) Belenenses (1979/80 e 1980/81) SPORTING (1981/82 e 1982/83) Recreio de Águeda (1983/84-1986/87) Títulos: um campeonato nacional, uma Taça de Portugal e uma Supertaça (todos no Sporting) Texto: André Cruz Martins Foto: Melissa Duarte