O senhor deixa-me entrar consigo?
31 Out, 2019
São as muitas vivências do Sporting CP que me arrastaram desde muito jovem para Alvalade
Falar do passado não tem de ser sinónimo de não querer um futuro diferente para melhor, mas sim porque ter memória significa que por mais que a marca do tempo seja indelével, as memórias de um passado Leonino militante deixam sempre marcas pela positiva, sobretudo por inesquecíveis.
São as muitas vivências do Sporting CP que me arrastaram desde muito jovem para Alvalade, onde consumia tudo o que era do nosso Clube, que me fazem recordar tempos idos que jamais esquecerei.
Dos tempos em que às portas do velhinho pavilhão, situado onde hoje é a estação de Metro do Campo Grande, ia ver o hóquei em patins, quando pontificava o dream team que conquistou a primeira Taça dos Campeões Europeus; o andebol, onde então brilhavam Carlos Silva, Manuel Brito, Carlos Correia e João Miranda, entre outros; e o basquetebol onde pontificavam Mário Albuquerque, Nelson Serra, Rui Pinheiro e Israel, etc…, e pedia às pessoas mais idosas para me deixar entrar com elas, porque o dinheiro não abundava, ou porque queria guardar a semanada dada pelos pais. O importante era ver a listada verde-e-branca com o rampante símbolo do Leão.
Também no Estádio José Alvalade, o emblemático e antigo estádio, o ritual era o mesmo, começando pelo ‘peão’, acabando na central, estava sempre o incontornável ‘o senhor deixa-me entrar consigo’. O que contava mesmo era o incontido fervor Leonino, onde ganhei amigos para uma vida. É incontornável que tudo mudou. Que hoje a era digital e a muita e apelativa oferta social leva menos gentes aos estádios e aos pavilhões. Tudo isto é factual e indesmentível.
O que não é indesmentível, mas que continua a ser factual, é que recordo com saudade um ambiente único. Em que o termo família Leonina era apropriado e nos diferenciava. Em que não havia ainda bilhetes reservados pela internet. Em que os torniquetes eram um sonho longínquo no tempo. Em que os porteiros ainda usavam boné. Em que tudo, e não porque me sinta um desadaptado aos tempos actuais, eram de todo diferentes. Perguntar-me-ão se diferentes para pior? São seguramente incomparáveis, é o que me apraz dizer.
Mas de uma coisa sei, e não por saudosismo, nem porque queira recuar no tempo. Estão distantes os tempos imemoriais em que eu, sobretudo nos ‘Dias do Clube’, e em todos os jogos do pavilhão, que tinham obrigatoriamente bilhete para Sócio, arranjava sempre um ‘pai’ a quem pedia para entrar com ele. É que para ver o Sporting Clube de Portugal não existiam - nem existem, limites… ou vergonha!
Apetece-me, por inesquecível, repetir o pedido: ‘O senhor deixa-me entrar consigo?’