"O dinheiro da NOS não vai para bancos ou comissões"
31 Dez, 2015
Excertos da entrevista de Bruno de Carvalho ao jornal 'Expresso'
Bruno de Carvalho, Presidente do Sporting Clube de Portugal e da Sporting SAD, concedeu hoje uma entrevista ao semanário ‘Expresso’ a propósito dos recentes acordos com NOS e PPTV com contrapartidas financeiras globais para os ‘leões’ de 515 milhões de euros. “Nunca tinha visto o Sporting fazer um negócio a este nível, de patrocínios e direitos televisivos, melhor do que os rivais”, destaca.
“Para o Sporting era importante perceber como se iriam posicionar Benfica e FC Porto. As conversações existiam mas há que esperar sempre pelo momento certo, sem pressas. Se beneficiou por ter sido o terceiro? É como olhar se o mérito é de quem marcou mais golos ou o demérito de quem os sofreu. A minha estratégia foi esperar para ver o que acontecia nos rivais e, a partir daí, fazer valer a dimensão do Sporting. Há clubes que querem fazer as coisas de forma apressada, ou porque têm estratégias específicas ou porque têm eleições, dívidas de dezenas largas ou mesmo centenas para pagar. O Sporting fez o seu negócio: o maior negócio de sempre do futebol português”, refere na fase inicial da conversa a propósito dos ‘timings’ e estratégia de concretização.
“Havia uma história que se contava, dos seis milhões que depois eram 14, mais a capa do jornal em que o País era vermelho e o resto do Mundo azul, como se o Sporting, que é verde e os marcianos são verdes, só tivesse adeptos em Marte. O mercado reconhece a grandeza, credibilidade e solidez do projecto do Sporting”, acrescenta, antes de salientar que, por questões de confidencialidade, não se pode revelar as parcelas do negócio. “Quando discriminamos o contrato é porque temos esta maneira de ser e de estar. O comunicado deixou isto bem claro: o Sporting vendeu a publicidade de primeira linha e na camisola, direitos televisivos e a exclusividade do seu canal a partir de 1 de Julho de 2017”, explica.
“Este dinheiro é ‘cash’, agora vamos esperar para ver os relatórios e contas dos outros para se perceber qual a diferença entre os contratos. O dinheiro vai estar todo disponível para o Sporting, não vai para bancos ou comissões, que também são custos associados às receitas. O Sporting não está obrigado a destinar verbas para os bancos por causa deste contrato. Se foi proposto algum negócio ao Sporting que incluísse esse tipo de pagamentos? Em termos de banca, não; em termos de comissões, sim”, complementa.
De seguida, no seguimento de uma pergunta sobre os canais para a canalização de verbas, Bruno de Carvalho fala de outras temáticas do Clube e da SAD. “Ainda não aconteceu nada no caso Doyen, a não ser uma primeira decisão do Tribunal Arbitral do Desporto. Estamos a trabalhar no recurso e não temos dúvida de que no mínimo há situações previstas na lei cível e na lei desportiva que tiram validade ao contrato da Doyen. Quanto à não entrada na Liga dos Campeões, foi um revés mas com este contrato acho que resolvemos alguns problemas”, advoga, prosseguindo: “Processo tudo? Já cumprimos vários contratos hediondos. Não eram nulos nem anuláveis, só péssimos negócios. Quando entrámos havia cerca de 21 milhões de euros de assuntos considerados na reestruturação financeira como contingências. O Sporting teria de arranjar verbas pelos seus meios para os pagar. Dessas, até agora, sem custo nenhum para o Sporting, já foram resolvidos 19 milhões. Isto significa que o Sporting pela primeira vez está a dar lucro, está a pagar as suas dívidas aos bancos, está a amortizar capital em dívida e consegue ainda resolver 21 milhões de problemas herdados”.
O Presidente ‘leonino’ aborda ainda a questão da centralização dos direitos televisivos e a posição de Pedro Proença, presidente da Liga, a esse propósito. “O Sporting era a favor da centralização e fomos os primeiros a falar nisto, mas a partir do momento em que um dos clubes que faz parte da presidência da Liga avança para outro lado e fura o acordo, o Sporting tinha de ir para o mercado. Pedro Proença? Quando um clube lhe puxa o tapete, depois de assinar um contrato vai fazer o contrário, e ele vem dar os parabéns porque é um bom sinal para o futebol português... Deixa de haver compromisso. O Pedro errou e muito”, analisa, antes de admitir que em casa já tinha antes... NOS.
Por fim, e mais sobre o presente e futuro do Sporting, Bruno de Carvalho enumera muitos dos pontos vitais que foram conseguidos mas ressalva: “Quero fazer melhor, melhor, melhor...”. “O Sporting precisa de ousadia e coragem. Costuma dizer-se que a sorte protege os audazes e que a sorte dá muito trabalho. Ora, como trabalhamos muito, temos sorte, e temos sorte porque somos audazes. No futebol, já tinha dito que não sairia ninguém que o Sporting não quisesse. Temos o melhor treinador, o plantel é considerado como o mais valioso, o Pavilhão está em crescimento, voltou uma modalidade histórica como hóquei que ganhou logo uma taça europeia no regresso, volta agora o ciclismo para honrar a memória do Joaquim Agostinho... o que é que quer que se faça mais? Mas tendo em conta a Onda Verde que se criou, a alegria que se vê nos olhos dos Sportinguistas, a fé e a crença que se sente, estaria a ser hipócrita se não dissesse que seria uma grande desilusão não ser campeão”, frisa.
“O Sporting-FC Porto é um jogo muito importante. São duas excelentes equipas e estamos a falar de um jogo que pode mudar ou sedimentar posições no Campeonato. Tem esses dois picantes, mas muitas vezes os Campeonatos ganham-se e perdem-se nos outros jogos. E é nisso que a equipa tem de estar focada”, conclui a propósito do clássico do próximo sábado no Estádio José Alvalade.