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Um símbolo nunca perde brilho

Por sporting
10 maio, 2015

Joaquim Agostinho, o maior de todos os tempos, partiu há 31 anos

Foi às 9h37 de 10 de Maio de 1984 que a Rádio Televisão Portuguesa avançou com a notícia que deixou Portugal em choque: morrera o grande e eterno Joaquim Agostinho. “Lembro-me que, pouco antes da sua última prova, disse-me que dava tudo para não ter de ir. Foi exactamente antes de arrancar para a Volta ao Algarve. E foi aí que tudo aconteceu”, recorda Carlos Lopes, campeão olímpico e mundial que privou de perto com ‘Tino’, como era carinhosamente tratado. A 30 de Abril, um cão atravessou-se à sua frente e fez com que caísse quando tinha a camisola amarela (para não variar, claro). O embate com a cabeça foi violento, mas ainda assim, ou não fosse ele o grande Joaquim Agostinho, levantou-se e conseguiu concluir a etapa com a ajuda de dois companheiros de equipa do Sporting. No entanto, as sequelas tinham ficado – as fortes dores de cabeça conduziram-no ao hospital de Loulé, de onde viajou para Lisboa. Foi sujeito a várias intervenções cirúrgicas, sem sucesso. E, as muitas pessoas que preparavam autênticas romarias a Fátima, para pedirem pelo seu herói, não foram a tempo de salvarem o ciclista de 41 anos. Portugal ficou de luto com o desaparecimento do “Quim Cambalhotas”, uma das várias alcunhas carinhosas, como era tratado pelas sucessivas quedas que foi tendo ao longo da carreira. A última acabou por ser fatal. E o Sporting perdeu um dos seus maiores símbolos de sempre, de forma injusta e precoce. Recordar Joaquim Agostinho é recuperar o passado que deu dimensão ao Sporting, respeitar o presente, que continua a manter o Clube no topo, e projectar o futuro. O rapaz com uma força anormal que João Roque descobriu aos 25 anos quando treinava em Torres Vedras (já depois de ter cumprido serviço militar em Lourenço Marques) varreu todos os títulos nacionais e atingiu o apogeu com as prestações no Tour, onde ficou oito vezes entre os dez primeiros, nas 12 participações (conseguiu também um 2.º lugar na Vuelta de 1974). Ainda hoje, basta passar pela Wikipedia para se ter noção do estatuto conseguido, apesar de ter começado tarde a carreira – a versão em inglês está bem mais completa do que a portuguesa. E as memórias elogiosas à sua figura são transversais a outros grandes mitos da modalidade. “Era um grande atleta, daqueles que quando fugia era difícil apanhar. Nas etapas do ‘sobe e desce’ era impressionante”, comentou Eddie Merckx, considerado o melhor ciclista do século XX. “Para mim foi o melhor atleta nacional de sempre porque, na altura, não existiam muitos portugueses que se distinguissem internacionalmente e ele era um deles”, analisa Júlio Rendeiro, capitão do ‘Cinco Maravilha’ que se sagrou campeão europeu de hóquei em patins. “Correu como um sportinguista”, acrescenta Hilário, vencedor da Taça das Taças de futebol. “Está para o ciclismo como eu para o atletismo ou a Amália para o fado”, conclui Carlos Lopes. Joaquim Agostinho até pode ter começado tarde no ciclismo (25 anos) mas foi a tempo de conseguir um palmarés digno de um campeão: três Voltas a Portugal em bicicleta (1970, 1971 e 1972, porque as de 1969 e 1973 lhe foram retiradas); cinco Campeonatos Nacionais de fundo; ou o Campeonato Nacional de perseguição são exemplos de uma carreira vitoriosa que teve o seu apogeu em termos internacionais: depois de conquistar a Volta a São Paulo, em 1968, foi figura de proa durante a década de 70 no ‘Tour’, onde alcançou dois pódios (3.º lugar) em 1978 e 1979. Neste último ano, ‘Tino’, que já tinha conseguido vencer na Torre ou nas Penhas da Saúde, ganhou a mítica etapa do Alpe d’Huez, onde ainda permanece hoje um busto em sua homenagem. Porque um símbolo, quando é símbolo, nunca perde brilho.