Os ‘amadores’ de fato de treino e... sapatos
22 Out, 2015
Jornal Sporting recorda jogo com Dínamo de Tirana há 30 anos
"Aproveitei uma recarga de uma bola a pingar na linha de fundo e chutei para cima, o guarda-redes deles assim não teve hipóteses”. Pedro Venâncio, que durante anos a fio foi um daqueles centrais de marcação duros de roer, consegue fintar o próprio jornalista pela precisão com que se recorda do único golo apontado em competições europeias, naquele que foi também o único encontro entre o Sporting e conjuntos albaneses, exactamente há 30 anos. Os ‘leões’ ganharam em Alvalade por 1-0 frente ao Dínamo de Tirana, após o nulo na primeira mão, mas ainda hoje sobram histórias sobre esses encontros.
“Na altura desse sorteio todos nós ficámos curiosos porque não se sabia quase nada da Albânia, era um país ainda muito desconhecido. Também por isso, o avião para lá ia cheio porque havia essa curiosidade de os adeptos do Sporting verem como seria Tirana. Recordo-me de, quando chegámos, haver uma espécie de ‘bunkers’ na estrada com soldados lá dentro, com pouco mais do que a cabeça de fora. O guia explicou-nos que havia o constante receio de serem invadidos pelos países com quem faziam fronteira. Depois, a caminho do hotel, lembro-me que não havia passeios: as delimitações do que era para conduzir e do que era passeio estavam marcadas com tinta no próprio asfalto”, recorda o actual treinador de iniciados dos ‘leões’. “Pensávamos que aquelas coisas já não existiam naquela altura nos países de Leste. Tivemos situações caricatas num local muito pobre e com carências. Hoje sinceramente não sei ao certo como é mas acredito que tenha evoluído”, diz.
As diferenças tiveram prolongamento na segunda mão, em Lisboa, onde é conhecida a história de Vítor Damas ter emprestado umas luvas ao guarda-redes contrário, Luarabi, que acabaria por ser considerado o homem do jogo, adiando até aos 53 minutos o único tento da partida. “À chegada, os jogadores do Dínamo apareceram com o fato de treino e de sapatos. Era um conjunto com limitações, quase amador, mas que se entregou e bem à luta, dificultando e muito a nossa missão. Acabámos por cumprir a nossa obrigação de ganhar e passar a eliminatória. Já no final do encontro, e depois de termos assistido ao que vimos em Tirana e à chegada a Alvalade, demos muitas coisas aos jogadores, de camisolas de jogo a ténis, que percebemos que não tinham. Era algo que para nós não nos fazia falta mas que para eles tinha grande valor”, explica o ex-central Pedro Venâncio.
De referir também que, numa espécie de prolongamento da história até aí e que ainda hoje persiste, o técnico Manuel José utilizou sete jogadores da formação: Damas, Morato, Venâncio, Fernando Mendes, Carlos Xavier, Mário Jorge e Litos. “Desde que subi dos juniores que me habituei a essa situação e nesses anos da década de 80 tivemos sempre grande parte do plantel composto por jogadores das escolas do Clube”, salienta.
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