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O Malhoa que pintava os relvados de verde e branco

Por Jornal Sporting
29 Jul, 2016

Começou por dar toques nas ruas do Barreiro, foi aprendiz de carpinteiro e mais tarde tornou-se no mais virtuoso dos Cinco Violinos. Rejeitou duas propostas do Benfica e nunca levantou o prémio de assinatura que recebeu do Sporting por razões sentimentais

Era ainda um miúdo quando começou a demonstrar dotes de malabarista. Não com as mãos, mas sim com os pés, que usava para fintar os amigos nas partidas de rua no Barreiro, onde cresceu. Apesar da juventude, Vasques exigia que lhe chamassem Soeiro, assim como o tio, avançado e grande figura do Sporting CP nos anos 30.

Aos 12 anos, decidiu sair da escola primária para se matricular nas aulas nocturnas da escola industrial, mas como não gostava de estudar, tornou-se aprendiz de carpinteiro de moldes na CUF, onde o pai era operário. Cinco anos depois, já jogava na equipa principal da empresa, o que lhe valeu a promoção ao trabalho de escritório.

Com um talento apenas à medida dos predestinados, tal a sua invulgar capacidade goleadora, tanto com os pés como com a cabeça, Vasques chamou a atenção dos ‘grandes’ do futebol português. O Benfica, por intermédio de Joaquim Bogalho, na altura chefe da secção de futebol, chegou-se à frente e colocou-lhe um contrato em cima da mesa. O avançado promissor, na altura com 20 anos, ainda chegou a comparecer em três treinos dos encarnados no Campo Grande, mas o tio convenceu-o a assinar pelo Sporting CP, que lhe pagou um prémio de 18 contos – que depositou no banco e por razões sentimentais nunca o levantou – e ofereceu um salário mensal de 600 escudos.

Em 1951, o Benfica voltou à carga, com uma oferta de 100 contos, mas Vasques voltou a recusar a proposta e o Sporting CP aumentou-lhe o ordenado para o dobro: 1200 escudos. Ainda houve direito a um bónus: o Presidente Ribeiro Ferreira decidiu financiar a Sofril, a empresa de arcas refrigerantes que detinha em sociedade com Travassos.

O dia 8 de Setembro de 1946 marca o início de 13 anos de leão ao peito, em que conquistou 12 títulos, entre os quais oito Campeonatos Nacionais. Capaz de jogar em todas as posições do ataque, sempre com uma enorme delicadeza no drible, foi considerado o mais virtuoso dos Cinco Violinos. Um jogador genial, recordado por muitos como o ‘Malhoa’, uma alcunha atribuída pelo antigo treinador e jornalista Tavares da Silva, por fazer lembrar a arte do reputado pintor português da altura.

"Tinha bola dos pés à cabeça. Quando jogava parecia que estava a pintar. Era mesmo um grande jogador", recordou um dia Jesus Correia, que jogou sete anos ao lado de Vasques no Sporting CP. Apesar dos elogios, o colega de equipa nunca ficou convencido: "Chamavam-me Malhoa para troçar, por ter jogado mal", confessou o próprio Vasques.

Terminou a carreira em 1959, com 33 anos e 349 jogos pelos leões nas pernas, em que apontou 226 golos. No currículo apresenta ainda a terceira posição na lista dos melhores marcadores do Clube. Depois de deixar o relvado de Alvalade, explorou a tabacaria do estádio e posteriormente a Loja Verde, onde passou horas a recordar as histórias do melhor ataque de sempre. Faleceu em 2003, um mês antes da inauguração oficial do novo reino do leão, onde o amigo Jesus Correia deu o pontapé de saída numa nova era.