O Silêncio ensurdecedor
26 Abr, 2017
Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3621
Há figuras na história mundial, e são tantas que é impossível enumerá-las que, apesar de nunca terem sujado as mãos, não deixam, por esse facto, de serem criminosas nem, tão pouco, de se tratarem dos responsáveis máximos pelas práticas mais horrendas do crime organizado. O facto de alguém não ser interveniente físico num crime, mas ser o seu mandante ou, nem que seja por omissão, conivente com essa prática, não o poderá ilibar do mesmo e não deixa, por isso, de ser culpado ou até mesmo o seu principal responsável.
De igual forma, ninguém poderá invocar uma prática silenciosa como exemplo impoluto a seguir, quando, na realidade, este não passa de um silêncio ensurdecedor em que as suas marionetas, tal como os papagaios, repetem infinitamente uma maléfica cartilha. Aqui, provavelmente, teremos aquele que é o maior acto de comunicação terrorista contra uma instituição desportiva e uma individualidade de que há memória. Se de cinema se tratasse em vez do filme “O Silêncio dos Inocentes” estaríamos perante um dos principais candidatos aos Óscares, neste caso da malvadeza, mas sob o título: “O Silêncio dos Culpados”.
Se dúvidas houvessem, e já não restam nenhumas quanto a quem é o responsável número um, o mandante que se esconde por detrás da janela passou, após este fim-de-semana, a ter definitivamente um rosto e um nome. Quem é que se refugia no silêncio e ardilosamente manobra a cartilha? O ódio, intriga que se propagam no cumprimento religioso da cartilha, são os principais responsáveis pelo clima de crispação e violência que se tem acentuado no mundo do futebol. Mais do que os “papagaios”, o seu mandante não pode ser inocentado, e esperamos que as autoridades competentes não continuem a assobiar para o lado enquanto esta prática maléfica continua.
Mas o “silêncio ensurdecedor” não é prática única neste domínio, que é também replicado em outras áreas. Trata-se de uma característica genética, como se pode verificar no caso das claques ilegais, as tais que não existem e dizem não ser apoiadas, mas onde o estrago e o estrilho não deixam dúvidas quanto à sua origem e aos seus apoiantes. Aqui a postura daqueles que dão cobertura a estas claques ilegais, quiçá por terem o rabo preso, trazem-nos à memória os “três macaquinhos“ que, apesar da boca, olhos e orelhas grandes…não falam, não vêem e não ouvem!
Se fossem só macaquinhos, até poderia ser engraçado. Mas a mais triste das verdades é que, após tudo o que temos vindo a denunciar e a alertar, a previsível tragédia aconteceu. Mais um adepto Sportinguista foi morto – e aqui não nos interessa, como temos vindo a afirmar, a cor clubística, mas sim que houve mais uma vítima, um ser humano barbaramente morto – deixando, uma vez mais, uma família destroçada.
O que seria espectável de alguém que, após o final do dérbi, vem à zona mista quebrar o “silêncio” é que aproveitasse a oportunidade e a audiência proporcionada para, de forma firme, condenar os actos de violência e se demarcar, veementemente, do trágico acontecimento. Mas não, o presidente do clube rival, em vez de aproveitar o final do dérbi para passar uma mensagem de fair-play e anti-violência veio, de viva voz e sem ser através das habituais marionetas palrantes, com uma despropositada e condenável agressão verbal ao Sporting CP e ao seu Presidente. Para além de tentar justificar o injustificável, como se uma morte horrenda pudesse ser minimizada face aos contextos, acicatou ainda mais um clima de crispação e violência.
O que se esperava de um presidente de um clube da grandeza daquele que representa, é que tivesse tido a sensatez e a coragem de, de uma vez por todas, se demarcar das claques ilegais e das práticas criminosas a que estas dão corpo. Mais ainda, no final do jogo, quando se dirigiu aos jornalistas, deveria ter condenado a prática corrente dos cânticos ofensivos e alusivos ao assassinato de um adepto Sportinguista com um very light que, uma vez mais, acabara de ouvir durante o minuto de silêncio em Alvalade de homenagem ao adepto Sportinguista que morrera na véspera.
Depois de tudo isto, haverá dúvidas? Mas afinal quem é que “atira as pedras e esconde as mãos”?
Uma palavra a todos os Sportinguistas para que continuem, com a grandeza que demonstraram no apoio à nossa equipa no dérbi, em respeito pelos valores do nosso Clube. Ser diferente é também não respondermos da forma que condenamos, nem nos deixarmos levar por provocações baixas e reles.
Boa leitura!