“A sorte dá muito trabalho”
29 Mar, 2018
Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3669
A semana terminou, e começou, em festa! Na sexta-feira passada, completaram-se cinco anos que a equipa liderada pelo Presidente Bruno de Carvalho foi eleita pela primeira vez. Neste dia, foi inaugurada a nova Loja Verde, na baixa lisboeta, junto ao elevador de Santa Justa. Os Sportinguistas inundaram a Rua Augusta, tornando-a numa correnteza verde e branca, onde a alegria, entusiasmo e orgulho foram notas dominantes. Na segunda-feira seguinte, assinalaram-se cinco anos da tomada de posse dos órgãos sociais sufragados em 2013 e fez-se a inauguração da exposição temporária no Museu Sporting sobre o saudoso Prof. Mário Moniz Pereira.
Estamos, naturalmente, satisfeitos e orgulhosos pelo trabalho efectuado, mas não deslumbrados. Sabemos bem das exigências e responsabilidades, bem como das adversidades que teremos de superar para manter o Sporting no rumo certo.
Quando evocamos os cincos anos da primeira eleição da equipa liderada por Bruno de Carvalho, tal como na Pirâmide de Maslow em que a hierarquização das necessidades parte dos níveis mais básicos e só depois de estes estarem satisfeitos é que se passa para níveis hierárquicos superiores, a realidade hoje vivida no Clube situa-se em níveis de exigência tal que muitos ignoram ou não se lembram das necessidades básicas que se sentiam em 2013.
Porque a memória é um alicerce do futuro, nomeadamente para que não se cometam os erros do passado e destes se retirem lições aprendidas que nos tornem mais conhecedores e robustos para os desafios a enfrentar, recordamos aqui alguns episódios. Poucos se lembrarão que, contrariamente a todos os membros da sua equipa, o Presidente Bruno de Carvalho não tomou posse, no dia 27 de Março de 2013, mas sim na véspera. Esta antecipação deveu-se à gravidade extrema em que o Clube então vivia, pelo que só por aqui se percebe a mudança drástica a que assistimos…
De um Clube desrespeitado, descrente, com Sócios e adeptos afastados, com o orgulho ferido, situação desportiva e financeira calamitosa, passámos para uma recuperação extraordinária que os Sócios vieram, aliás, a reconhecer e a premiar com o seu voto nas eleições de 2017 e mais recentemente, na última AG, de 17 de Fevereiro de 2018.
Quem for honesto e queira fazer uma análise séria e objectiva, verifica que melhorámos em todas as dimensões do nosso Clube. Vivemos, actualmente, uma situação robusta no plano desportivo e financeiro; temos um Clube em expansão a nível global, marcando a agenda internacional (p.e. TPO ou VAR); reconhecemos os nossos ídolos tão injustamente esquecidos (veja-se o caso de Peyroteo e a criação dos Prémios Honoris); aumentámos o número de Sócios, quase duplicando a sua cifra, chamando simultaneamente a nós figuras galácticas, como Cristiano Ronaldo e Cantona; reforçámos este Jornal, que celebra esta semana o 96.º aniversário, e criámos a Sporting TV; aumentámos o património, concretizando o sonho de milhões, construindo o Pavilhão João Rocha; quase duplicámos o número de modalidades praticadas, não esquecendo o desporto paralímpico; ganhámos mais seis títulos europeus por equipas (em quatro modalidades distintas); aumentámos decisivamente a nossa competência e competitividade com as nossas modalidades na liderança ou na disputa das mesmas.
Tratou-se de uma recuperação extraordinária num ambiente e contexto particularmente difíceis, pelo que, parafraseando Moniz Pereira, “a sorte dá muito trabalho”.
É verdade sim, há um titulo que todos procuramos e ainda não conseguimos, o de Campeão Nacional, em futebol sénior masculino (pois no feminino já estamos a caminho do “bi”). Partimos, em 2013, de uma situação em que ficámos na 7.ª posição e arredados da Europa. Neste período, no entanto, já estivemos muito perto (15/16) mas não chegámos lá, apesar de termos batido o recorde de pontos alcançados. Talvez a muita informação que ultimamente tem vindo a público possa ajudar a perceber a sua razão. Mesmo assim, conquistámos uma Taça de Portugal (14/15), uma Supertaça (15/16) e, já esta época, a Taça da Liga. Neste momento, estamos em três frentes, situação que há muito por esta altura não vivíamos.
Somos muito mais que um Clube de futebol! A nossa grandeza, e aquilo que nos torna na maior potencia desportiva mundial, é prova disso mesmo. Sabemos, e não escamoteamos, que o futebol é o seu principal motor, pelo que todos, legitimamente, nos questionamos: se conseguimos ganhar em todas modalidades, por que razão não vencemos ainda no futebol? Pensamos que a resposta não se fica apenas por termos sido menos competentes…
Faça-se justiça! Sabemos que ainda não conseguimos, mas todos sentimos que estamos cada vez mais perto.
Boa leitura!