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O problema grave das leis feitas à medida de clubes

Por Jornal Sporting
20 Nov, 2015

Resumo e análise do programa 'A Hora do Presidente' na Sporting TV

Bruno de Carvalho, Presidente do Sporting, marcou ontem presença no Canal do Clube para mais um ‘A Hora do Presidente’. Ao longo de pouco menos de uma hora, o líder ‘leonino’ abordou diversos temas do quotidiano ‘verde e branco’ e nacional, lançando também o ‘derby’ que se jogaria no sábado – e cujo efeito foi significativo, como se percebeu na atitude confiante, séria e humilde que a equipa teve ao longo dos 120 minutos frente ao Benfica, que culminaram com a passagem à quinta eliminatória da Taça de Portugal através da terceira vitória noutros tantos jogos esta época com o rival.

Num dos pontos altos da conversa com Nuno Graça Dias, director da Sporting TV, Bruno de Carvalho denunciou a existência de ‘lobbies’ do futebol na política, recordando o extenso conjunto de propostas para a melhoria da modalidade no País que acabaram por cair no esquecimento com o tempo.

“Continuam a ver-se leis feitas à medida de clubes. Por muito que isto me custe, existe muita promiscuidade entre a política e o futebol. Vêem-se situações absurdas de favorecimentos de clubes a vários níveis e processos, o que é inenarrável. Percebe-se que o Sporting, não estando de acordo com a criação do seu próprio ‘lobby’, devia ter denunciado tudo isso na altura certa, quando os outros começaram a criá-lo, porque agora é muito mais difícil – já existem, estão feitos. Vêem-se casos arquivados que são uma verdadeira vergonha. Falta uma visão estratégica correcta por parte dos governos. Ou melhor, há uma estratégia mas não a correcta – a de servir de fato à medida para alguns clubes”, analisou o líder ‘leonino’. “É a tal história do ‘somos seis milhões’, ‘somos 14 milhões’... A política faz-se por eleições e quem vota são as pessoas. Se fosse político, que não sou nem nunca serei, se estiver alinhado que me pode dar 14 milhões de votos, por que me vou preocupar com um coitadinho? Isso são mentiras que se entranham e que acabam por reflectir-se depois nos patrocínios ou na negociação dos direitos televisivos, situações que envolvem muito dinheiro em cima da mesa. As pessoas são de facto promíscuas. Por um lado, vão fazendo as leis à medida; por outros, têm medo de criar leis. As coisas funcionam assim entre política e desporto. É a promiscuidade total! Mas se depois falarmos com as pessoas, não existe ligação absolutamente nenhuma a não ser nas tribunas e nos jogos grandes. O Sporting tem de ser campeão para começar a inverter o raciocínio dos seis milhões que está de facto entranhado. O Benfica tem-se vendido muito bem ao longo dos anos mas depois na prática vemos que, por exemplo, estamos a 10/15 mil Sócios deles. Ainda assim, não confundo reconhecimento e adeptos porque, se o fizéssemos, éramos de longe o maior Clube do Mundo. Os estudos apresentados pela imprensa não têm substância, subsistência nem interesse mas é um facto: uma mentira contada muitas vezes tem tendência a tornar-se verdade”, completou a propósito dos mitos criados durante anos.

Em paralelo, Bruno de Carvalho recordou também o processo das ofertas do Benfica a árbitros, delegados e observadores que entronca também na lógica de raciocínio sobre a relevância e a grandeza de Peyroteo – por muito que se queira passar ao lado, o Clube não irá deixar que tal aconteça. “Tenho pena que o futebol português continue a aproveitar-se de subterfúgios para ganhar tempo e não tomar decisões. O tempo apenas serviu para harmonizar posições. Os responsáveis deveriam dizer se está certo ou se está errado, se é assim que deve ou não funcionar, caso contrário andamos aqui no jogo do empurra que não é saudável. É estranho que o árbitro escrever ou não se recebeu ofertas tenha alguma coisa a ver com o cumprimento ou não dos regulamentos; é estranho que se fale se no ‘voucher’ tem escrito ou não refeições quando toda a gente já confirmou que são refeições; é estranho que seja tema se os ‘vouchers’ são dados antes ou depois dos jogos apenas porque falei nisso. O que está em causa é uma série de situações que advêm da falta de coragem para tomar decisões. Em Itália também não era fácil tomarem-se decisões mas elas foram tomadas e com uma equipa como a Juventus. Vou esperar calmamente pela decisão mas a justiça não encerra aqui nem vou ficar calado porque as regras são para cumprir e não vou assistir a mais um dolo sem intenção”, destacou. “Peyroteo tem sido esquecido pela Federação, pela FIFA e pela UEFA. Para nós fazia sentido fazer uma homenagem num jogo grande, porque é justa, mas também chamar a atenção destas entidades. A história não consegue ser apagada”, acrescentou.

Por fim, e destacando que o Sporting chegará ao final da temporada com uma estrutura financeira saudável, o Presidente do Clube admitiu que “a não entrada na Champions foi um revés grande”. “Não há dúvida que estamos curtos desse dinheiro mas os Sportinguistas podem estar calmos. Estamos cá para resolver os problemas, como temos feito”, assegurou antes de abordar também a próxima janela de mercado, que abre a 1 de Janeiro de 2016 : “Dentro do que é a normalidade do plano que foi traçado, faremos o que for necessário para cumprirmos os objectivos. Com calma e discernimento, vamos aproveitando as oportunidades que forem surgindo. O Sporting já está a mexer no mercado de Inverno mas não estamos interessados nos 50 jogadores que já se falaram nem nenhum alvo foi desviado – temos esses jogadores identificados e já mais do que tratados para aquilo que é a nossa realidade e para aquilo que queremos fazer”.