A prática de um líder também tem a sua teoria
22 Fev, 2016
Sporting CP vence Boavista com dois golos de bola parada em nove minutos
O jogo era só à noite mas a vitória começou a ser desenhada de manhã, no último treino antes da recepção ao Boavista: num encontro onde foi sempre superior a todos os níveis, o Sporting CP conseguiu ganhar por 2-0 com dois golos apontados na sequência de bolas paradas e criou mais oportunidades em lances de estratégia bem trabalhados que tiveram o condão de surpreender a densa muralha adversária. Em mais uma final, o conjunto ‘verde e branco’ repetiu o ‘xeque’ e provou que o futebol também pode ser decidido com jogadas previamente pensadas para provocar o ‘mate’ ao opositor. Em paralelo, e numa jornada marcada por grandes penalidades fantasma que decidiram as partidas dos rivais, os ‘leões’ provaram que a única ajuda que necessitam é aquela que tiveram, têm e terão do início ao fim do Campeonato: os melhores adeptos da Europa!
O encontro começou com a confirmação da ideia de Erwin Sánchez de que as ‘panteras’ não se iriam limitar a ficar na sua jaula defensiva, tentando esticar a zona de pressão à primeira fase de construção dos ‘verde e brancos’. Com a intensidade de sempre mas uma maior organização em termos colectivos no seu todo, os visitantes obrigaram o Sporting CP a jogar muitas vezes directo, cortando linhas de passe e fechando os espaços entre linhas. Ainda assim, percebia-se que era mais problemático para o aumento de ritmo a sinfonia de faltas que iam sendo apitadas (e outras ficaram por marcar, como um empurrão claro sobre Gelson Martins numa iniciativa prometedora já no último terço do terreno) do que a oposição do Boavista, o que ficaria comprovado a partir dos 15 minutos iniciais: numa jogada que começou nos pés de Patrício, Marvin cavalgou pelo corredor esquerdo, Bryan Ruiz cruzou mas o desvio de Teo Gutiérrez passou ao lado da baliza de Mika (18’).
A resposta ao enigma defensivo colocado pela formação boavisteira estava encontrada: passando essa primeira zona de pressão, os ‘leões’ tinham o espaço necessário para irem subindo no terreno criando superioridade pelas laterais em jogadas de envolvimento. Aos 33 minutos, Ruiz voltou a ter um cruzamento-remate a pedir um desvio que não surgiu; dois minutos depois, o tiro de meia-distância de João Mário passou ao lado; e, aos 37’, Ewerton inaugurou o marcador de cabeça, ao primeiro poste, na sequência de um canto.
O trabalho desenvolvido pela equipa ‘verde e branca’ na manhã do jogo surtiu efeito e, à beira do intervalo, mereceu ainda um bafejar de sorte: no seguimento de um livre directo descaído sobre a direita do ataque, o remate em jeito de Bryan Ruiz bateu na barreira, foi ao poste e acabou mesmo por anichar-se nas redes de Mika aos 45 minutos. Apesar da boa fluidez de jogo corrido, o Sporting resolvida de bola parada. E a situação só não ficou mais desafogada porque Rui Costa não puniu uma clara agressão de Philipe Sampaio sobre Gelson Martins aos 40 minutos, o que poderia arrumar de vez a partida. O intervalo chegava com um Sporting CP dominador, com mais do dobro de ataques, remates e posse, e, sobretudo, eficaz nas ocasiões que estudou (e bem) para este jogo.
O segundo tempo começou com um ponto em comum em relação à primeira parte... e pelas piores razões: numa fronteira muito ténue entre agressividade e agressão, Idris teve mais uma entrada brutal ao tornozelo de Slimani que, do mal o menos, ainda mereceu um cartão amarelo (Philipe Sampaio nem isso tinha visto na cotovelada sobre Gelson). Todavia, essa vontade – muitas vezes em excesso – do Boavista também se reflectia na frente e por pouco não deu golo quando Anderson Carvalho, com um bom gesto técnico de remate após um cruzamento da direita, acertou no poste esquerdo da baliza de Rui Patrício aos 53 minutos. Ainda antes da primeira hora de jogo, Iriberri também obrigou o guarda-redes ‘leonino’ a defesa apertada após remate cruzado (59’).
O aviso estava dado e os comandados de Jorge Jesus acataram-no da melhor forma, voltando a assumir as rédeas do jogo sem permitir qualquer tipo de saída aos visitantes. A entrada de Carlos Mané para o lugar de Teo Gutiérrez, aos 62 minutos, trouxe aquilo que estava a faltar ao Sporting CP no início da etapa complementar: uma maior ligação entre meio-campo e ataque. E cedo o jovem avançado formado na Academia começou a dar nas vistas, isolando Slimani com um passe de ruptura que, já de um ângulo apertado, foi defendido para canto. Mais tarde, apenas num minuto, Mané atirou forte ao lado no seguimento de uma bola a pingar à entrada da área (75’) e João Mário obrigou Mika a uma excelente intervenção, com um remate rasteiro puxado ao ângulo inferior de novo travado para canto (76’).
O Boavista pouco ou nenhum perigo criava, limitando-se a jogar no erro como aconteceu aos 78 minutos, com Schelotto a perder a bola em zona proibida e Anderson Carvalho a colocar de novo os reflexos de Rui Patrício à prova. Logo de seguida, Jorge Jesus voltou a reforçar o ‘miolo’ com Aquilani no lugar de Gelson Martins e, no minuto seguinte (80’), o laboratório voltou a trabalhar... quase na perfeição: livre lateral junto à área batido por Bryan Ruiz para o remate de Slimani na área, defesa incompleta de Mika e recarga de Carlos Mané em zona de golo obrigatório a acertar no poste (81’). O xeque-mate estava dado e, nos últimos minutos, quem brilhou foram mesmo... os adeptos.