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Crescer com uma Lenda

Por Miguel Braga *
14 maio, 2020

(...) aquele que era considerado o mais ágil, o mais felino e o mais elegante dos guarda-redes nacionais (...)

Cresci a ouvir histórias do Vítor Damas. Apesar de ter saído de Portugal para jogar em Espanha, mais ou menos na mesma altura em que eu fazia um ano de idade, os elogios de todos, especialmente do meu pai, estimulavam a imaginação de um pequeno Leão. Lembro-me que contava uma história, de um Sporting CP vs. SL Benfica, onde o Eusébio, depois de ter sido surpreendido por uma defesa do outro mundo do Damas, correu para este de mão estendida para o cumprimentar – na altura, rezam as crónicas, foi assobiado pelos próprios adeptos.

Já depois de 1975, numa altura em que o FC Porto de Pedroto tentava desviar jogadores de Alvalade, a verdade é que o Sporting Clube de Portugal não conseguiu renovar com aquele que era considerado o mais ágil, o mais felino e o mais elegante dos guarda-redes nacionais e o jogador acabou por ir para Espanha, para o Racing de Santander. O facto de ter dito que não ao então seleccionador nacional (Pedroto) e de ter rumado ao país vizinho, fez com que a Selecção Nacional se esquecesse durante uns anos de um dos melhores de sempre na sua posição.

Os tempos eram outros, e por isso, Damas chegou também a ser vítima de uma crueldade dos regulamentos. Foi em 1971, num jogo que opôs o Sporting CP aos escoceses do Glasgow Rangers, na segunda mão de uma eliminatória europeia. Os 90 minutos terminaram com a vitória caseira por 3-2, resultado idêntico ao que tinha acontecido na Escócia. O jogo foi então para prolongamento, o SCP venceu por 4-3, e o árbitro mandou começar a ronda de pontapés de penálti. Entre os postes, Damas foi um gigante, defendendo todos os penáltis para alegria dos adeptos presentes no Estádio. Para o final, porém, já nos balneários, estava guardado o final trágico: apesar da vitória, apesar de ter defendido todos os pontapés da marca dos onze metros, foi o Rangers quem passou a eliminatória: nessa época, tinha entrado em vigor a regra dos golos forasteiros, e nem o desconhecimento da nova lei por parte do árbitro serviu para o Sporting CP convencer a UEFA dos danos morais, materiais e desportivos da derrota.

Damas acabou por regressar a Portugal, primeiro ao Vitória SC, depois ao Portimonense SC, antes de voltar ao Clube do seu coração. Foi mais ou menos por esta altura, que dei também os primeiros e últimos passos na minha curta carreira de guarda-redes. O ponto alto foi um treino no Sporting CP, sob a batuta do mister Osvaldo Silva, onde acabei por perceber que as balizas do Clube eram muito maiores do que as da escola que frequentava. Por isso mesmo, tudo passou a fazer mais sentido quando em 2009, o Sporting CP eternizou Damas no círculo exclusivo de Lendas do Clube, baptizando a Baliza Sul de Alvalade com o seu nome.

 

* Responsável de Comunicação Sporting Clube de Portugal