All men are created equal*
10 Dez, 2020
(...) Porque nós podíamos querer jogar fora das regras e podíamos querer ser outra coisa qualquer, mas só sabemos ser uma coisa: Sporting CP! Não é defeito, é ADN. E onde vai um, VÃO TODOS!
Por mera coincidência do acaso tanto o Sporting Clube de Portugal como o regulador norte-americano do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (FDA) têm o mesmo ano de fundação: 1906.
Já não por coincidência muito se tem falado, recentemente, de ambos por motivos de Regulação. No caso do Sporting CP devido aos casos de arbitragem que originaram a perda de quatro pontos no futebol, e no caso da FDA devido aos pedidos de emergência apresentados pelas farmacêuticas no âmbito da aceleração da aprovação da vacina contra a COVID-19.
Aproveito para relembrar a origem, intuito e importância de um regulador. No essencial a função de um regulador é a de um árbitro que assegura o cumprimento de regras pré-estabelecidas para garantir que existe competitividade.
Competitividade pode ser definido como “conflito de acordo com regras”. Isto é, existem duas partes em “conflito”, cuja existência de regras assegura o cumprimento de um objectivo final comum “cooperativo” de interacção – a competição. Sem regras existe apenas conflito.
Porém, a existência de regras é uma condição necessária, mas não suficiente. É preciso assegurar que elas são cumpridas de forma correcta. E por isso não cabe somente ao regulador a criação das regras e a sua evolução, mas também assegurar o seu bom cumprimento.
No desporto há uma parte que quer ganhar à outra, sob a tutela de regras definidas e órgãos e equipas de arbitragem que as fazem cumprir. A ausência de qualquer um dos dois tornaria qualquer modalidade em “vale-tudo”.
A ausência de critérios uniformes no tratamento dos vários clubes, dentro e fora de campo, é inaceitável e não preserva a competição.
É factual que o Conselho de Arbitragem (CA) decidiu pronunciar-se via media apenas sobre o lance específico do golo de Coates. Mas, além de se estranhar a própria decisão em si tendo em conta o que dizem as regras, estranha-se a rapidez, estranha-se a especificidade no lance, e estranha-se a forma. Mas mais se estranha, e é factual também, que o tratamento perante o nosso rival há menos de um ano tenha sido exactamente o contrário. O mesmo se aplica à Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF).
Porquê as abordagens distintas? Não sei e caberá aos mesmos darem resposta. Algo que solicitámos ontem por carta ao CA, aproveitando para reforçar a importância de que os áudios de comunicação com o VAR sejam públicos durante as decisões. Ambição que tornámos pública em primeira mão e que consideramos crucial no caminho construtivo e de transparência que protege o sector e o entorno competitivo. Aliás, este e outros temas, serão foco do “Webinar VAR Future Challenges”, que já tínhamos anunciado e que vamos promover no próximo dia 21 de Dezembro e no qual participarão nomes de referência como Paddy O’Brien ou Nigel Owens, do rugby, o ex-árbitro Keith Hackett ou Greg Barkey da MLS, entre outros.
No final do dia o Sporting CP quer apenas que a “estrada” da competição seja igual para todos, que esteja bem demarcada e sem linhas rectas para uns e com curvas para outros. Porque nós podíamos querer jogar fora das regras e podíamos querer ser outra coisa qualquer, mas só sabemos ser uma coisa: Sporting CP! Não é defeito, é ADN. E onde vai um, VÃO TODOS!
*Frase extraída da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América de 1776 e que proclama a igualdade de direitos e deveres de todos os cidadãos perante a lei. Traduzido em português “Todos os homens são criados iguais”.
Editorial da edição n.º 3797 do Jornal Sporting