Os opinadores
11 Fev, 2021
(...) Repor a justiça é um acto inerente à mesma justiça. Nunca pode ser visto como “precedente perigoso” alguém, e aqui falo de que clube for, querer que se faça justiça. Não querer ver isso é mesmo não querer ver nada
Começo esta coluna de opinião com uma evidência. Decididamente, e não entro em futurologia, e sei bem que nada está ganho e que o caminho a percorrer será árduo, o Sporting Clube de Portugal começa a incomodar, e fundamento a minha opinião sustentando‑a em diversos opinadores da nossa praça.
Falo de pessoas com tempo de antena, que estão para o futebol como Carlos do Carmo estaria para o rock, ou Luciano Pavarotti para o fado.
Aos dias de hoje, aqueles que gostavam tanto de um Sporting CP bonzinho nos relvados, e que até aqui ou ali diziam que éramos prejudicados e que era evidente uma diferença de tratamento, são hoje os mesmos que querem tapar o sol com a peneira e aqui‑d’el‑rei, espumam de raiva e verberam contra o tratamento dado ao clube deles, que no deve e haver têm décadas de saldo positivo e que agora são afinal os ‘calimeros’ da nossa praça. Que viram falta do Coates em Famalicão, que não viram penálti no lance do Zaidu em Alvalade, etc. Como diria o míster Quinito, numa expressão tão sua, e que fez escola, que se referia muitas vezes ao jogo como entretido.
É também entretido, mas com um misto de revolta com escárnio, ouvir esses opinadores, que de lentes coloridas em riste, querem minimizar épocas menos bem preparadas, e que nunca esperavam – e tanto ainda falta – ver o Sporting CP na liderança.
Fiquei feliz em tempos, e não quero pôr toda a gente no mesmo saco, porque programas e pessoas existem em que só se fala do jogo jogado, que alguns canais tivessem acabado com as aleivosidades de alguns em programas que nada acrescentavam que não o fomento do ódio.
São também os mesmos que vêem num cartão amarelo caricato mostrado a João Palhinha no Bessa, e no recurso de despenalização do nosso Clube a um erro admitido pelo próprio árbitro Fábio Veríssimo, um “precedente perigoso”.
Pois bem, precedente perigoso, é outra coisa. É mesmo um jogador entrar em campo e num simples minuto ser‑lhe mostrado amarelo num lance normal. Repor a justiça é um acto inerente à mesma justiça. Nunca pode ser visto como “precedente perigoso” alguém, e aqui falo de que clube for, querer que se faça justiça. Não querer ver isso é mesmo não querer ver nada.
Que o Sporting CP continue a dar razão a estas pessoas para continuarem a sua saga. É sinal de que os incomodamos, e até se percebe no ar uma santa aliança contra os mesmos.
É porque alguma coisa estamos a fazer bem. E estamos a fazer bem no local certo. Dizia‑me um velho Leão que já não está no mundo dos vivos que para ganharmos tínhamos não só de ser melhores, mas sim muito melhores. Era eu uma criança e interiorizei isso. Hoje lembro‑me amiúde dele. E ainda não havia o mediatismo destes opinadores de pacotilha.
Era ainda no tempo da televisão a preto e branco, e em que eu lia no nosso jornal, então ainda muito jovem, as tão bem escritas prosas de Inácio Teigão contra alguns apitadores. Pouco ou nada mudou. Mudaram‑se os tempos, mas não se mudaram as vontades. Continua tudo como dantes... apenas apareceram aqueles que hoje são os protagonistas dos novos tempos e invertem tudo aquilo que nós vimos. Os opinadores.