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Carta aberta a João “Mágico” Eduardo

Por Rodrigo Pais de Almeida
21 maio, 2021

João, eu também tenho um sonho. Continuar a ver um dos nossos a ser feliz. Continuar a ver-te jogar de verde e branco e com o Leão rampante na camisola. A espalhar magia em Alvalade e por esse mundo fora

Caro João “Mágico” Eduardo,

Começo como tenho obrigatoriamente de acabar: Obrigado, Campeão! A tua vontade conjugada com a do Clube, o forcing final naqueles dias 5 e 6 de Outubro do presidente Frederico Varandas para que fosse possível o regresso do “filho pródigo” e a validação do míster Rúben Amorim para completar com uma pedra basilar de experiência e de qualidade inquestionável o plantel 2020/2021 foi um factor que considero ter sido essencial para a conquista deste 23.º Campeonato Nacional e da Taça da Liga.

E tanto que tu trouxeste, João! Os posicionamentos, as dinâmicas e a ideia de jogo do nosso jovem treinador parecem ter sido desenhados para ti, mesmo sem saber se podia contar contigo. A dupla de meio-campo com um ‘6’ que fecha espaços e impede a progressão dos adversários, gerindo os timings da transição ataque‑defesa, pedia um jogador que cada vez mais escasseia no futebol mundial. Alguém com a capacidade física para carregar o jogo como um ‘8’, mas que saiba pensar e pautar o jogo como um verdadeiro ‘10’. Alguém que brilhe no passe que define o sucesso de uma jogada ofensiva (seja o último ou o de ruptura), mas que seja o mais altruísta de todos os génios e corra por todos no momento da perda de bola. Alguém que paute o jogo ofensivo, acelerando ao perceber que o adversário está em inferioridade ou mal posicionado, mas que saiba suster a posse de bola, aguentar a pressão de múltiplos adversários sem a perder, e libertá-la para um colega quando todos achavam que já estava perdida. Esse alguém só podias ser tu, João “Mágico” Eduardo.

A arte de tornar o complexo no mais simples dos processos de jogo. A saída de bola na construção do jogo ofensivo, seja entre linhas, dando opção de passe, ou a libertar espaço para jogar nos corredores laterais. O jogo com o tempo de ter e não ter a bola, usando os parcos espaços que existem e que se querem criar. A segurança que deste à equipa com bola, mas também a ocupação de espaços sem bola que tão bem fizeste. O domínio do terreno de jogo sobre “pantufas”, mesmo quando a bola pede um pontapé na frente e tu “investiste” tempo a acarinhá-la como o farias à tua linda recém-nascida Leoa, não cedendo à tentação de te livrares dela mesmo perante superioridades numéricas do adversário. Que me perdoe o Adán, o Gonçalo Inácio, o Pote, o mini-Modric (AKA Daniel Bragança) ou o Paulinho, mas ninguém “fala” com a bola como tu. A verdadeira “insustentável leveza” de carregar às costas e nos pés o jogo do Sporting Clube de Portugal! Classe! Só ao alcance de um jogador de topo Mundial!

Sem legendas talvez possa passar despercebido aos leigos, mas trouxeste muito mais. Fizeste crescer para níveis como o teu o João Palhinha, o Pedro Gonçalves ou os laterais Nuno Mendes e Pedro Porro. O equilíbrio táctico entre a linha defensiva e ofensiva, e a indefinição do corredor preferencial em cada momento (lateral ou central) fizeram aparecer um João Palhinha mais completo e que o fez crescer na construção e no passe (especialmente no longo), libertou o Pedro Gonçalves para deambular no ataque ao lado do avançado, nas suas costas ou em qualquer um dos corredores, aproximando-o da baliza adversária e do golo, e permitiu ainda o crescimento na profundidade dos alas que assim conseguiram brilhar no duelo individual a romper nas defesas contrárias e no cruzamento, criando oportunidades de golo. E sim, o jovem central Gonçalo Inácio e a sua qualidade indiscutível com bola tão inabitual para um central… Eu sei que sabias, mas… foste sempre o seu alvo preferencial no primeiro passe… Porque será?

O belíssimo golo com o Boavista FC na 32.ª jornada, que culminou o trajecto de uma equipa que chega a Campeã Nacional sem derrotas, é um guião perfeito da importância de existires nesta equipa e demonstra a raridade de aparecerem jogadores cerebrais como tu. A forma como apareces entre linhas longitudinais, permitindo ao Feddal encontrar-te no passe. A recepção orientada na latitude com a cabeça já a procurar a movimentação dinâmica dos colegas. A temporização com bola, valorizando o timing da posse e permitindo chamar a ti o “engodo” da marcação dos adversários (e foram quatro), permitiram ao Paulinho ficar 1x1 na área e ao Nuno Santos ficar disponível para receber na esquerda a bola redondinha dos teus pés e centrá-la com conta, peso e medida para o Paulinho facturar. Este golo foi um verdadeiro compêndio do futebol de Rúben Amorim. És a verdadeira personificação deste treinador dentro de campo!

Eu vejo o brilho nos olhos do presidente Frederico Varandas quando fala de ti. Faz por esta altura nove anos daquele título de Campeão Nacional de juniores que conquistaram lado a lado. Conseguirem repetir essa façanha é recordar do que é feito o ADN e o propósito de todo o projecto do Clube. É para isto que dezenas de afortunados jovens são escolhidos e entram na Academia de Alcochete todos os anos. Para começarem, para crescerem, para evoluírem, para conquistarem títulos e a Glória que o nosso Clube merece. Perseguem o sonho de um dia se estrearem na equipa profissional de futebol. Sonham diariamente em serem Campeões e fazerem felizes os milhões de Sportinguistas.

Sabes João, sempre disse e escrevi: Zero ídolos uma “treta”! Estes jovens, esta equipa, o NOSSO Clube… Todos nós precisamos de referências, de ídolos, de pessoas que nos guiem e nos façam sonhar. Que nos façam acreditar que os sonhos são realizáveis e podem sair da utopia ou das conversas com a nossa almofada. Tu és a realização do sonho de todos os nossos jogadores da formação. De todos nós. Vieste do zero. Cresceste. Afirmaste-te na formação. Nos seniores. Internacionalmente. E nunca esqueceste as tuas origens e quem te ajudou. Teres regressado para cumprir o sonho de criança de seres Campeão na equipa principal não fecha este capítulo… não pode fechar!

Vieste para seres feliz. Hoje és feliz. Fizeste-nos felizes! Ajudaste numa das maiores conquistas do Sporting CP dentro de campo e também fora dele. O Sporting CP voltou a ser o Clube mais atractivo para todos os jovens que se querem afirmar no futebol em Portugal e será o mais apetecível para todos os jovens talentos! Hoje és uma das maiores referências desportivas no Sporting Clube de Portugal. Hoje mereces continuar a ser feliz… estou seguro do que aquele sorriso e o “tal” brilho nos olhos de Frederico Varandas, quando te abraçou no final do jogo com o Boavista FC que quebrou o jejum de 19 anos sem vencer o Campeonato, queria dizer. És um dos nossos! Como diz a música, faremos tudo o que pudermos para que continues a ser feliz onde gostas de ser feliz. Aqui, que é a tua casa!

João, eu também tenho um sonho. Continuar a ver um dos nossos a ser feliz. Continuar a ver-te jogar de verde e branco e com o Leão rampante na camisola. A espalhar magia em Alvalade e por esse mundo fora. Com o escudo de Campeão. Com o símbolo da Champions League na lapela a lutar contar os melhores clubes da Europa. O melhor para o Sporting CP é o melhor para o João Mário Eduardo… Continuarmos juntos em 2021/2022.

Obrigado, Campeão!