Crescimento
18 Ago, 2022
Nada se consegue sem esforço, dedicação e devoção. Sabemos bem que num ápice se pode ter que recomeçar tudo de novo, qual Sísifo a empurrar a pedra vezes sem conta montanha acima. O antídoto contra este eterno recomeço será sempre o trabalho árduo e sustentado. Sem lirismos nem esquecimentos do caminho percorrido. Seguir em frente, recordando o passado, tanto o recente como o longínquo, sabendo que nada sucede pelo desejo, por mais intenso que seja, mas sim pela preparação meticulosa do futuro.
Foi por isso, com gosto, que estive em Alvalade ver a equipa a defrontar o Rio Ave FC. Depois do aziago empate em Braga, era grande a expectativa para ver como iríamos reagir. E o que vimos foi um belo espectáculo de futebol. Rúben Amorim soube desmontar com paciência a muralha defensiva vila-condense. Destaco, sobretudo, a articulação ofensiva entre Pote, Edwards e Trincão, que souberam desenhar variadas jogadas de ataque que poderiam bem ter dado mais golos. Pote marcou dois tentos, foi perdulário noutros dois e ainda ofereceu outros tantos. Uma exibição ao seu melhor nível, conforme nos habituou na época em que fomos campeões. Edwards também brilhou, com uma assistência primorosa, e desequilíbrios constantes, a prometer muita magia. Por fim, Trincão surgiu mais endiabrado, a lembrar a grande época que fez no SC Braga há três anos. Vadiou pelo campo, como é próprio dos afortunados na leitura do jogo, fez desmarcações precisas e desferiu um potente remate à barra. Já é o segundo jogo seguido em que “cheira” o golo. À terceira, estou certo, obterá o golo que já merece. De resto, Matheus Nunes marcou o que pode bem ser o golo do campeonato e a defesa, reforçada com Neto, cortou o que havia para cortar, sem temores nem tremores. Resultado limpo com três golos marcados sem resposta. Um crescimento com mais acerto e rigor táctico que esperamos que se mantenha no clássico que se aproxima, contra o FC Porto.
A fechar, a possível venda de Matheus Nunes por valores astronómicos face ao investimento do Clube no jogador era irrecusável e, sabemo-lo há muito tempo, inteiramente previsível. Poderá ser a segunda maior venda de sempre do Sporting Clube de Portugal, apenas atrás de Bruno Fernandes. Dizer isto é quase dizer tudo o que há a dizer sobre a valia da venda de um Clube que tem que, ao menos parcialmente, formar e alienar para ter uma vida financeiramente saudável. Poder fazê-lo com preparação e multiplicando por 50 o investimento só é possível com um caminho bem preparado. Também por aqui se vê crescimento.
PS: Uma nota pessoal. Deixou-nos no fim-de-semana uma grande Leoa, Lurdes Serro, atenta leitora desta coluna, mãe de dois fantásticos Leões, com quem acompanhei, jogo a jogo, o nosso campeonato de 2000. Todos contamos para apoiar o Sporting CP e esta grande Sportinguista fazia-o como ninguém. Os meus sentimentos à família.