Uma modalidade com história
09 Fev, 2023
Desde sempre que o atletismo me fascina. E desde a estrada ao crosse, passando pela pista e pela pista coberta. Em muito jovem, quantas vezes apanhei o 15, o eléctrico que fazia o trajecto Praça da Figueira − Cruz Quebrada, para ir ao Estádio Nacional, e outras vezes também o autocarro 32 em direcção ao Estádio Universitário de Lisboa, para ver, em ambos os locais os Campeonatos Nacionais ou a Taça Dr. Fernando Amado, ou até ir à Aldeia das Açoteias − ainda recentemente, fenómeno das redes sociais, vi uma foto em que aparecia com amigos da claque Torcida Verde, no pódio, a festejarmos no Algarve mais uma conquista europeia, uma das muitas, na já longínqua década de 80, era o tempo do Prof. Mário Moniz Pereira, Carlos Lopes, Fernando Mamede, Ezequiel Canário, Domingos e Dionísio Castro, etc.
Ia invariavelmente sozinho, porque os meus amigos mais chegados eram mais de ver futebol − eu também, mas adoro desporto e tenho vários focos, desde que lá esteja o símbolo com o Leão rampante.
E no passado domingo, a manhã foi parecida com esses momentos, só que pela via das novas tecnologias. Cedo me levantei e logo procurei um stream onde pudesse ver a Taça dos Campeões Europeus de Crosse. Encontrado que estava, parte substancial da manhã domingueira foi com o telemóvel ligado a ver as provas. Estivemos em todas as competições em disputa, o único clube a fazê-lo − sub-20 masculinos e femininos, seniores masculinos e femininos, e na estafeta mista, também em seniores.
Não alinho em vitórias morais, e assumo que não foi sem uma secreta esperança que acordei mais cedo para ver o Sporting CP ganhar pelo menos mais um título europeu, que seria o quadragésimo terceiro.
Se não ganhámos, até porque a "armada" espanhola do Playas de Castellon foi verdadeiramente inacessível, conseguimos de forma brilhante dois segundos lugares e a respectiva prata com a subida ao pódio colectivo nos seniores masculinos e na estafeta mista. Só os mais mal-intencionados podem falar em fracasso. Sim, sei que já fomos dominadores nesta competição. A história fala por si e não se apaga. O Professor Mário Moniz Pereira, onde estiver, e ele que era um ganhador, que era demasiadamente competitivo e que era de máxima exigência, estará, contudo, feliz. E feliz, sobretudo pelo reaproximar do topo de novo. Ser vice não é ganhar. É factual. Mas só quem não sabe o sacrifício destes atletas, onde era aliás latente o sentido de dever cumprido e de tudo terem feito para trazer para o Museu os títulos, pode achar que o que foi conseguido não foi relevante.
Longe vão os tempos de grande hegemonia de Portugal nas provas de crosse europeu.
O Sporting CP tem 15 títulos nesta competição em seniores masculinos, conseguidos entre 1977 e 2018, e dois em femininos − 2018 e 2019, o que é elucidativo do peso do nosso Clube nesta modalidade. Também fomos campeões europeus de pista em ambos os géneros. Logo, temos obrigações acrescidas. O atletismo é uma verdadeira fábrica de campeões e de trabalho ao longo da história. São inúmeros os atletas que nos representaram com sucesso. Enumerar todos, tanto homens como mulheres, seria impossível por falta de espaço. Durante este mês disputam-se ainda os nacionais de pista coberta, desde as camadas jovens aos seniores.
Existem títulos para conquistar e outros para reconquistar. Cabem sempre mais taças num Museu, o nosso, repleto de conquistas nesta modalidade, mas que quer sempre mais. E o atletismo preenche por lá tanto espaço.
PS - Que o golo de Youssef Chermiti em Vila do Conde tenha sido o primeiro de muitos.