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O silêncio está cada vez mais alto

Por Miguel Braga
18 maio, 2023

Editorial da edição n.º 3924 do Jornal Sporting

No passado fim-de-semana, assistimos a mais um espectáculo de variedades no final do FC Porto vs. Casa Pia AC, com os protagonistas do costume. Apesar dos gestos ofensivos e de toda uma postura agressiva, Sérgio Conceição conseguiu o feito de não ser expulso outra vez. E outra vez porque conta no seu cadastro de treinador com 23 expulsões (13 das quais ao serviço do FC Porto), tendo igualado já esta época o máximo da sua carreira de quatro expulsões numa só temporada − não é fácil. Do lado do clube azul e branco, tentou arranjar-se explicações para o comportamento do treinador, como é apanágio dos dragões, passando a mensagem de que Sérgio Conceição não tem culpas em qualquer cartório, de que é uma vítima de um sistema que, apesar de tudo, o continua a proteger, a si e aos seus, semana após semana.

Mas não se pense que foi caso único de reincidências. Também o agora administrador da SAD e antigo director-geral do futebol do FC Porto, Luís Gonçalves, lá estava na confusão final, sendo agarrado pelos atletas, furioso com tudo e com todos. Segundo os especialistas da matéria, “foi expulso no final do jogo”, muito embora argumentem os ventos do Norte que “não tenha visto o cartão vermelho, nem sequer a admoestação tenha constado no ‘match center’ no site da Liga”. Mistérios à parte, estamos a falar do mesmo Luís Gonçalves que já protagonizou cenas lamentáveis por esses relvados fora, confrontando atletas, staff, dirigentes, até árbitros. Em 2017 chegou a dizer a um que este iria ter uma carreira curta. No fim dessa época, o árbitro desceu de divisão, mas foi apenas uma coincidência semântica, daquelas que acontecem no nosso futebol. O sempre prestável Francisco J. Marques explicou na altura: “É preciso perceber se a despromoção do árbitro Tiago Antunes teve interferência do engenheiro Luís Gonçalves, ou seja, se após ter dito aquela frase, [ele] falou com alguém, mexeu algum cordelinho, exerceu algum tipo de influência que causasse a despromoção do árbitro. Ele não fez nada disso, portanto, isto irá, naturalmente, não resultar em nada”. Naturalmente, não resultou.

No início desta época, o SL Benfica deixou o aviso que “se não nos respeitarem, seguramente não seremos candidatos ao prémio Fair-Play”. Há 15 dias, para garantir a exclusão do prémio recebido no último campeonato, o adjunto de Roger Schmidt, Fernando Ferreira, achou por bem ficar com a bola de jogo, atrasando o reatamento do mesmo para o SC Braga. Confusão generalizada, com entrada dos stewards em campo como já não se via desde o célebre jogo do Dragão, onde os coletes azuis agrediram jogadores do Sporting CP. Um modus operandi de intimidação e que não deveria ser permitido nos nossos estádios, mas que, pelos vistos, continua a ser. Até à data, são desconhecidas as medidas do clube encarnado sobre o assunto, sabendo-se apenas que na sua newsletter deram conta de que “o inferno da Luz esteve ao rubro e foi determinante para a vitória”. Não devia valer tudo para ganhar.

O futebol português em particular e o desporto em geral precisam de coragem para mudar o estado das coisas. O silêncio absoluto de quem pode e deve fazer alguma coisa, é cada vez mais ensurdecedor.