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O adeus da "Pérola Negra"

Por Juvenal Carvalho
07 Set, 2023

Existem jogadores que nos marcam indelevelmente. Que o nosso imaginário de criança nos faz recordar momentos verdadeiramente incríveis e inolvidáveis. E um desses jogadores, entre diversos outros, e tantos foram até à data de hoje, de uma história que tem sido escrita e feita de inúmeras figuras lendárias que passaram pelo Sporting Clube de Portugal, é o maliano Salif Keita, uma verdadeira "Pérola Negra", que é para muitos o melhor jogador estrangeiro que passou pelo futebol português.

Chegado a Alvalade no Verão de 1976 - como o tempo voa -, onde permaneceu três épocas, com a conquista de uma Taça de Portugal e onde fez 33 golos em 77 jogos de Leão ao peito. Mas o maliano fez, e representa, muito mais do que isso. Espalhou magia, literalmente. Tinha classe a rodos. Recordo, ainda criança, ir, quase de forma peregrina a Alvalade para ver tudo o que fosse, do futebol às modalidades pelas mãos do Sr. Olímpio, quiçá o maior culpado do meu Sportinguismo, a par de Héctor Yazalde, e vi um jogador negro que me ficou na retina, e que, quase num amor à primeira vista, jamais saiu do meu imaginário. Fazia com a bola algo parecido com aquilo que os norte-americanos "globetrotters", fantasistas como só eles, faziam no basquetebol. Escondia simplesmente a bola aos adversários. Pura magia. Na minha memória, e sempre que vem à colação, em conversa com amigos Sportinguistas momentos do passado, Salif Keita nunca é esquecido. Seria impossível não falar daquele que driblava adversários com a mesma facilidade com que bebia copos de água. Que os deixava mesmo de gatas, rendidos a uma técnica sublime e estonteante. Fascinante é termo ligeiro para o classificar. Era mesmo mágico, tirava verdadeiros coelhos da cartola com um talento inato, que parecia até ser proveniente de uma qualquer acção divina.

Podem dizer vocês, sobretudo os que são mais jovens, que não tiveram a oportunidade de o ver jogar, se não será um manifesto exagero colocar assim no pedestal um jogador que pouco ganhou e esteve apenas três anos com o nosso símbolo ao peito. A esses respondo: não, não é um exagero. Se tiverem oportunidade consultem momentos deste fabuloso jogador. Que mesmo chegado já com 30 anos ao reino do Leão, e assolado por lesões, fará indubitavelmente parte da galeria dos imortais. Que seria se tivesse chegado mais jovem. Uma pergunta que teria resposta fácil: Seria ainda mais estratosférico.

Mas os heróis também partem. E no passado sábado, dia 2 de Setembro, a notícia chegou-me, por mensagem de amigo, gélida, cruel e dilacerante e deixou imensamente triste e mais pobre todo o universo do nosso Clube. Salif Keita, partia do mundo dos vivos aos 76 anos de idade. Para mim, não partiu só um ser humano que me fez a felicidade de então menino leão. Partiu mesmo, a par de diversos outros que idolatro, um dos mais talentosos leões que tive a oportunidade de ver jogar com o nosso símbolo colado ao peito.

Até sempre, "Pérola Negra" do Mali. Até sempre, Salif Keita. E muito obrigado pelo que representaste para a criança que então havia em mim, mas sobretudo, e mais importante, para o Sporting Clube de Portugal.

PS - O futebol português é um local muito mal frequentado. Cada vez mais. Resta-nos ter que ser mais fortes... ainda. A onda verde tem que continuar. Somos muitos. E de antes quebrar que torcer. Só nos curvamos para beijar o símbolo.