BAS
02 Fev, 2017
Editorial do director interino para a edição nº. 3609
Do alto dos seus 1,96 metros, Bas Dost surge na sala e convívio da ala profissional da Academia de sorriso rasgado. Contrasta com o tempo cinzento e chuvoso, provavelmente mais familiar ao holandês que trocou Wolfsburgo por Lisboa. Recebeu umas fotografias do César Santos e três primeiras páginas do Jornal Sporting consigo em manchete. Natural. Os 16 golos que já leva na Liga – na qual já bisou por cinco vezes, frente a Estoril, Arouca, Feirense, D. Chaves e P. Ferreira –, colocam-no no topo da lista de melhores marcadores da competição doméstica. Melhor ainda: está ao lado de Suárez (Barcelona) e Aubameyang (Dortmund) na lista europeia de goleadores. A última vez que isso aconteceu com um ponta-de-lança do Sporting foi com Jardel, em 2001/02, época em que o brasileiro chegou mesmo ao final como o melhor de todos, com 42 golos. A segunda bota de ouro leonina da história do Clube.
Não é certo que Bas Dost possa alcançar o feito na sua época de estreia mas, convenhamos, chegar a esta altura do campeonato nestas circunstâncias é já, como se costuma dizer, meio caminho andado.
E se de sorriso rasgado entrou, assim saiu mais de uma hora depois, entre a entrevista propriamente dita, maquilhagem, sessão fotográfica e ainda mais uns trabalhos para as redes sociais do Clube. Sorriu, soltou umas gargalhadas, mostrou-se indignado, esteve pensativo, protestou e ‘mostrou os dentes’ quando confrontado com a real possibilidade do Sporting poder ser campeão. Nunca revelou qualquer ar de cansaço, aborrecimento e muito menos de frete, quando se percebe que alguém desempenha algum dever por obrigação e não por gosto. Confessou que está a apaixonar-se pelo Clube – e explica porquê –, revelando mesmo que a vida é boa.
Cultura nórdica, poderá pensar-se. Talvez, embora este tipo de generalizações tenha uma significativa margem de erro. Bas Dost pode ter sido a contratação mais cara da história do nosso Clube, mas não creio que haja alguém na família que não dê todos os cêntimos investidos no novo n.º 28 de Alvalade como seguros e de – até agora – excelente rentabilidade.
Com Bas Dost, não é preciso ler nas entrelinhas. Diz com clareza o que pensa e sobre todos os assuntos, inclusivamente sobre arbitragem. Com elevação. Fala da sua relação com Jorge Jesus e tem a natural humildade – foi realmente genuíno – de admitir que, apesar de gostar de ouvir as bancadas de Alvalade a gritar o seu nome ao ritmo dos AC/DC, sem os companheiros de equipa os seus golos não existiam. Metade dos 18 golos que já marcou em todas as competições vieram de diferentes fornecedores. Adaptação não constituiu qualquer problema. Desfez as malas em Alvalade, aos 27 anos, com uma força interior inabalável para mostrar o real valor. Sabemos bem que quando essa vontade vem do mais fundo de nós, venha quem vier...
A mesma vontade que se quer no Dragão, este sábado, e que André Santos demonstrou ao conquistar o título mundial ISKA, em kickboxing. Vitória por knock-out logo no primeiro assalto. A mesma vontade que teve Patrícia Mamona no 1.º lugar alcançado na New Balance Indoor Grand Prix, em Boston, ultrapassando novamente a marca dos 14 metros este ano. Vontade e entusiasmo também foi a receita levada pelas leoas à Alemanha, ao International Turbine Hallencup. O 2.º lugar na competição, no país das bicampeãs mundiais (2003 e 2007), permitiu que equipa de Nuno Cristóvão deixasse a melhor imagem das líderes do campeonato nacional. Como escreveu Alexandre Herculano: “É erro vulgar confundir o desejo com o querer. O desejo mede os obstáculos, a vontade vence-os”.
Boa leitura.