Os democratas afinal não gostam da democracia
22 Fev, 2018
Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3664
O jornalismo no desporto, como o conhecíamos, já não é o mesmo. As instituições desportivas são, elas próprias, detentoras de media, geradores e proprietários de conteúdos que outros media tradicionais anteriormente exploravam e lucravam a seu belo prazer. O jornalismo desportivo, actualmente, perdeu a “relação” jornalística com o desporto, sendo cada vez mais negócio, como afirma o investigador Miguel Moragas Spa (2012):
“Vemos como as novas relações entre meios de comunicação e instituições desportivas afectam o trabalho jornalístico que tende a perder a independência desejável em relação ao espectáculo narrado. Os media convertem-se em parte implicada do evento como actores do próprio espectáculo, obrigados pelas necessidades empresariais a obter o máximo de retorno dos seus investimentos, tentando obter mais audiências e subscrições. Então, o jornalismo deixa de ter uma "relação" jornalística com o desporto e passa a ter uma nova relação "business to business", uma relação de negócios na nova rede global”.
Estas alterações explicam muito do que se passa actualmente no mundo dos media e, em Portugal, no que ao desporto diz respeito e ao futebol em particular. Sob o manto do jornalismo, escondem-se lógicas empresariais que conflituam com os interesses legítimos dos Clubes. A propriedade industrial protege os titulares das marcas. As SAD’s são empresas cotadas, pelo que, da mesma forma que os media não exploram indevidamente marcas como Coca-Cola ou Pepsi, também não o podem fazer relativamente às dos Clubes.
O apelo do Presidente do Sporting para que os seus associados deixem de comprar jornais desportivos e de ver programas de comentário de futebol na TV portuguesa, gerou alarido desmedido em algumas corporações. Se Pinto Balsemão propusesse aos accionistas da Impresa que vissem e comprassem apenas as publicações do Grupo em detrimento da concorrência, ou Paulo Fernandes fizesse o mesmo relativamente à Cofina, também seria crime de lesa majestade?
A histeria que levou o Sindicato dos Jornalistas e o CNID a fazerem comunicados sancionatórios e ridículos e que, por contágio, levaram também a ERC a emitir posição, só pode ser mesmo de gente mal informada ou então mal-intencionada. O Presidente Bruno de Carvalho não limitou ou impôs qualquer obrigação a ninguém, nem tão pouco restringiu o direito de qualquer ordem. Para quem não sabe, ou finge não saber, o Jornal Sporting e a Sporting TV integram jornalistas portadores do título da carteira profissional de jornalista, sendo titulares de direitos e deveres como todos os outros.
Recomendar que comprem o Jornal Sporting (o que naturalmente aplaudimos) e que vejam a Sporting TV, e ignorem as outras publicações é crime? Limita que liberdade, se cada um é livre de decidir o que fazer? Onde estão os arautos da polícia de costumes, da moral e da ética, quando assistimos a programas de televisão de propaganda e manipulação sob a capa de jornalismo independente, usando e abusando da iliteracia sobre os media que, infelizmente, assola a nossa população?
Onde estavam estas entidades tão ofendidas quando foi divulgado um pretenso email de Carlos Janela visando o controlo directo e efectivo de uma lista de jornalistas na defesa de um clube? Onde estavam todas estas corporações, que se apresentam como virgens ofendidas e que comunicados emitiram quando o Benfica interpôs providências cautelares para silenciar e ameaçar os jornalistas no caso dos emails?
O direito à indignação é um direito que assiste a qualquer cidadão ou instituição. Não é crime, mas sim uma prerrogativa de um estado de direito. Em democracia, a vontade da maioria prevalece sobre a da minoria. Embora esta não perca os seus legítimos direitos, também não pode ganhar mais por isso.
A decisão dos Sócios, os únicos que têm a legitimidade de se pronunciarem sobre os destinos do nosso Clube, foi clara e inequívoca. Aqueles que acusaram de ditadura, populismo e totalitarismo, acabam por demonstrar que eles é que o são de facto. Não aceitar os resultados da expressão avassaladora da vontade dos Sócios do Sporting é o que está a provocar toda esta chinfrineira. Por mais que estridem nos media, não representam mais por isso. Disto deveriam ter consciência quando assistiram à maioria silenciosa passar a ruidosa, e a fazer imperar, democraticamente, a sua vontade em prol do Sporting e dos seus Órgãos Sociais.
Boa leitura!