O transmontano dos golos bonitos
Por sporting
17 maio, 2013
17 maio, 2013
Fraguito brilhou com a camisola do Sporting na década de 70, apesar das muitas lesões que não o deixaram em paz. Aqui ficam as suas recordações…
Fraguito, médio de inesgotáveis recursos técnicos, representou o Sporting durante nove anos, entre 1972 e 1981, tendo ganho dois campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal. Natural de Vila Real, em bebé foi viver para o Brasil, onde representou os escalões jovens do Fluminense, entre os 10 e os 16 anos. Depois regressou a Portugal, representando o Vila Real, durante três temporadas (uma como júnior e duas como sénior). Antes da mudança para Alvalade, actuou ao serviço do Boavista, durante duas épocas. A sua estreia de «leão» ao peito foi no antigo Estádio das Antas, em jogo do campeonato nacional da temporada 1972/73, que terminou com a vitória do Sporting diante do FC Porto, por 1-0, golo apontado por Yazalde. Para além da sua incrível capacidade técnica, possuía bastante força e visão de jogo: era um verdadeiro todo-o-terreno, que desempenhava com o mesmo à-vontade diversas funções no meio-campo. Pena as sucessivas lesões, que impediram uma carreira de maior sucesso. Fraguito recorda com saudade os tempos passados no Brasil. “Fui muito feliz no Rio de Janeiro e tive muita pena de me vir embora, mas os meus pais voltaram para Vila Real e, claro, vim «a reboque» deles”, atira. Na escola de formação do Fluminense, reconhece que aprendeu muito “em termos técnicos, pois os melhores nesse aspecto sempre foram os brasileiros” mas, por outro lado, “não era dado o devido valor à vertente física”. No Vila Real, o seu talento não passou despercebido e foi chamado à selecção nacional de juniores, despertando a atenção do Boavista, que estava em franco crescimento no início da década de 70. A poucos meses de completar 20 anos, chegou ao Sporting, mas o destino original era o Belenenses. “Foi uma enorme confusão essa que me meti! Primeiro, assinei pelo Belenenses, quando fui para a tropa em Lisboa. Eles disseram-me que me livravam de ir para o Ultramar e convenceram-me a assinar. Mas o meu passe ainda era do Boavista, que me vendeu ao Sporting. Tinha contrato por dois clubes e na altura até tive medo de ser irradiado. Acabei por ter sorte a apanhar apenas um mês de castigo e jogar no meu clube do coração”, reconhece. Isto porque, apesar de viver no Brasil nos tempos de criança, Fraguito acompanhava com muito interesse o nosso Clube. “Lia jornais portugueses e naquela altura o Sporting ganhava muitos títulos. O meu pai era do FC Porto, mas eu decidi ser do contra e ainda bem!”, atira. Instado a revelar que tipo de futebolista era, o antigo médio revelou algum acanhamento, mas lá acabou por conceder. “Não gosto de falar disso, acho que os outros é que podem dizer como eu era. Mas tinha técnica e boa visão de jogo. E tentava estar em todo o lado, desde que estivesse bem fisicamente”, conta. No Sporting, Fraguito foi companheiro de equipa de Yazalde, embora na célebre temporada de 1973/74, quando o «Chirola» marcou 46 golos no campeonato, só tenha alinhado em 16 partidas de «leão» ao peito. “Ainda lhe fiz algumas assistências, mas o mérito para marcar golos era muito mais dele do que meu. Tinha um grande sentido de oportunidade”, frisa. Quando questionado sobre o seu melhor jogo pelo Sporting, a resposta não surgiu pronta. “Ui, foram muitos! (risos) E quando estamos em campo, às vezes pensamos que estamos a fazer uma boa exibição e afinal jogámos mal e vice-versa. Mas penso que estive muito bem num Sporting-Sunderland das Taças das Taças de 1973/74, em Alvalade, que ganhámos 2-0 [fora de casa, os ingleses triunfaram por 2-1]. Marquei o segundo golo e fiz boas jogadas. Outra boa exibição foi diante do Cardiff, na mesma época, também em Alvalade e em que vencemos por 2-1 [ficou 0-0 fora] e no qual voltei a marcar o segundo golo”, lembra. Nessa época de 1973/74, o Sporting atingiu as meias-finais da Taça dos Vencedores das Taças, tendo sido eliminado pelo Magdeburgo, da antiga RDA. Fraguito não era um futebolista de muitos golos (marcou 22 em 201 partidas ao serviço do Sporting) mas quando marcava, parecia que valia por dois, tal a beleza dos lances. “O melhor que marquei foi na sequência de um canto, num grande remate de fora da área, mas já não me lembro contra quem”, confessa. Outro momento marcante foi um golo de cabeça ao FC Porto…de fora da área, mais uma vez no Estádio José Alvalade e, para não variar, em 1973/74. Como facilmente se percebe, apesar dos escassos 16 encontros em que foi utilizado nessa mítica temporada de 1973/74, Fraguito acabou por ser decisivo. E considera essa a época mais marcante da carreira: “Tínhamos terminado em 5.º lugar no campeonato de 1972/73. Muitos duvidavam do nosso valor, mas conseguimos ganhar o campeonato, a Taça de Portugal e chegámos às meias-finais da Taça das Taças”. Fraguito sente que as lesões o travaram demasiadas vezes. “Andava sempre magoado! Fui sete vezes operado aos joelhos, cinco ao esquerdo e duas ao direito! Isso acabou obviamente por me afectar e estive muito tempo parado, até porque a medicina estava muito menos desenvolvida do que nos dias de hoje”, realça. Não fossem estes constantes problemas e garante que teria chegado “a um grande clube europeu”. O Atlético de Madrid e o Saragoça apresentaram propostas pelos seus serviços, mas o presidente João Rocha «carimbou-o» como inegociável. “Naqueles tempos, os clubes é que me mandavam, não é como hoje em dia, em que os futebolistas também têm voto na matéria”, diz. Fraguito foi internacional A por Portugal apenas em seis ocasiões, muito pouco para alguém com o seu talento. “Poderiam ter sido muitas mais. Mas como sempre, as lesões prejudicaram-me. Para além disso, fiz um jogo em Goiás com o Brasil e não me avisaram que o meu pai tinha morrido algumas horas antes do jogo, o que me deixou muito magoado. Confesso que, a partir daí, até evitava ir à Selecção”, confessa. O ex-futebolista «leonino» continua a acompanhar a equipa de futebol do nosso Clube e, apesar da má época realizada, mostra-se confiante que tudo será melhor no futuro próximo. “Temos uma boa equipa, com muitos jogadores jovens que estão a crescer. Podemos fazer uma boa figura já na próxima temporada”, antevê. Os malditos problemas físicos fizeram com que Fraguito terminasse a carreira cedo demais, aos 29 anos. Depois disso, regressou a Vila Real, onde tem orientado equipas de escalões jovens, para além de trabalhar na Secretaria do Desporto da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Fraguito sente saudades dos seus tempos no futebol ao mais alto nível, mas não esconde que prefere trabalhar com jovens. Nome: Samuel Ferreira FRAGUITO Data de nascimento: 8 de Setembro de 1951 (61 anos) Naturalidade: Vila Real Posição: Médio Clubes: Vila Real (1967/68-1969/70) Boavista (1970/71 e 1971/72) SPORTING (1972/73-1980/81) Títulos: dois campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal (todos no Sporting) Texto: André Cruz Martins