Já sabe tudo sobre os Cinco Violinos?
31 Jul, 2015
Conheça as curiosidades do melhor ataque 'leonino' de sempre
O Sporting defronta amanhã, a partir das 19h45, a Roma no Troféu Cinco Violinos, que se volta a realizar no Estádio José Alvalade. Mas quem foram os jogadores que fizeram parte na maior orquestra de sempre do Clube em termos ofensivos? Conheça melhor o perfil de Jesus Correia, Travassos, Vasques, Peyroteo e Albano.
Jesus Correia
Ficou conhecido como o “Dois Amores” – e não, a expressão não encerra qualquer referência a Marco Paulo que, na altura, ainda estava para nascer. É que a Jesus Correia (ou Necas, como também era tratado) não bastou ser uma flecha no lado direito do ataque dos Cinco Violinos; foi também atleta de hóquei em patins, ao serviço do Paço de Arcos e da Selecção Nacional. E não um atleta qualquer: foi seis vezes campeão do Mundo e acumulou vários títulos nacionais.
Foi, precisamente, no hóquei e no Paço de Arcos que o violino que mexia as cordas do lado direito do ataque começou a sua carreira. Chamou a atenção do treinador húngaro Joseph Szabo, que o considerou “o atleta ideal” e o convidou para ir ao Sporting fazer provas de futebol – modalidade que praticava, apenas, por brincadeira. Encantado com a sua velocidade e precisão nos cruzamentos, o técnico rapidamente o fez subir das reservas da equipa ‘leonina’ rumo à titularidade – uma aposta que não podia ter sido mais acertada. Nos dez anos em que representou o Sporting, tornou-se um dos melhores marcadores do Clube (cerca de 250 golos em 300 jogos) – estatuto para o qual muito contribuiu a tarde mágica em que marcou por seis vezes ao Atlético de Madrid, construindo a vitória por 6-3 sobre a equipa espanhola.
Deixou os Sportinguistas em choque quando, aos 28 anos, se retirou do futebol e voltou a jogar hóquei pelo Paço de Arcos – forçado que foi, pelo Clube ‘leonino’ a escolher um dos seus dois amores. Mas a ligação ao Sporting manteve-se. Foi de Jesus Correia o pontapé simbólico do Sporting-Machester United que inaugurou o novo Estádio José Alvalade, a 6 de Agosto de 2003.
Travassos
“Menino, vai comer batatas com bacalhau!” Foi com estas palavras que o treinador ‘leonino’ Joseph Szabo se dirigiu a Travassos, assim que lhe topou, pela primeira vez, a figura franzina. O jogador prestava provas para integrar as camadas jovens do Sporting, o Clube do seu coração, mas a nega do técnico foi um duro golpe que o atirou para um início de carreira na CUF, que disputava, na época, a 2.ª Divisão nacional. Ali jogaria Travassos dos 16 aos 20 anos, dividindo o seu tempo entre os pontapés na bola, o trabalho nas oficinas da empresa do sector químico e a prática de atletismo no Sporting – chegou a correr 100 metros em 11 segundos. Foi precisamente numa dessas provas em Lisboa, que emissários do FC Porto, interessados nos préstimos do jogador, o raptaram para Escaramão, isolando-o por 15 dias na pequena aldeia minhota – acção que, já antes, o Sporting teria encetado, ao esconder o promissor atleta durante uma quinzena em Torres Vedras. O coração falou mais alto, levando-o a informar os dirigentes ‘leoninos’ da sua localização. Acabaria por receber, dias depois, uma convocatória para uma inspecção militar que nada mais era do que um pretexto para se deslocar à capital e assinar pelo Sporting – que, na altura, lhe ofereceu um emprego na Frigidaire, uma empresa de material de refrigeração.
Logo na primeira época, 1946/47, foi decisivo e entrou para a história dos ‘dérbies’, ao apontar três dos seis golos com que o Sporting derrotaria o Benfica (6-1). Dono de uma técnica apurada, velocidade, inteligência nas movimentações e leitura de jogo, rapidamente se tornou o motor dos Cinco Violinos, alimentando os golos de Peyroteo mas também marcando muitos – o que era raro num médio ofensivo: em 321 jogos oficiais, facturou por 128 vezes.
Vasques
O trajecto de Vasques parece clonado do de Travassos: ambos começaram a carreira na CUF, ambos jogavam e trabalhavam (Vasques trabalhava na empresa como aprendiz de carpinteiro), ambos se transferiram para o Sporting em 1946, estrearam-se no mesmo jogo, a 24 de Novembro, com o Famalicão, e terminaram juntos o seu caminho no futebol em 1959.
Era o mais virtuoso dos Violinos, capaz de desenhar lances de génio com a bola nos pés – o que lhe valeu a alcunha de ‘Malhoa’, pintor muito em voga na época. Sobrinho de Soeiro, mítico goleador do Sporting nos anos 30, foi levado para o Sporting por influência do tio, seu grande ídolo, que lhe pediu para não assinar nunca um contrato sem antes falar com ele – e o levou para Alvalade desviando-o da Luz, de onde tinha recebido uma proposta do presidente, Joaquim Bogalho. Estreou-se com a camisola verde e branca, precisamente frente à sua anterior equipa, contribuindo, com um golo, para a vitória por 7-0 – e revelando, logo à partida, a sua veia goleadora: Vasques foi o terceiro maior goleador da história do Clube, apenas atrás de Peyroteo e Manuel Fernandes, com 317 golos marcados em 493 jogos.
Peyroteo
Não podia ter melhor cartão de visita: é o maior goleador da história do futebol mundial, com uma impressionante média de 1,68 golos por jogo – traduzida em 694 golos em 432 jogos durante a carreira. Natural de Angola, Peyroteo (que deve o seu invulgar apelido às origens castelhanas da mãe) cedo deu nas vistas no Sporting de Lourenço Marques, despertando a cobiça do ‘leão’. Chegou a Lisboa a 26 de Junho de 1937 e foi direito ao Palácio Foz, onde o Sporting tinha a sua sede há quatro anos. Apesar de não ter gostado do barulho e do fumo, comprometeu-se, ali, a alinhar pelo Sporting – e nem a proposta do FC Porto, que oferecia o dobro, vergou a sua palavra e o separou do seu sonho de sempre: jogar pelo Clube ‘leonino’.
No primeiro treino, dois meses depois, ainda com as pernas a tremer de emoção, marcou três golos ao histórico guarda-redes Azevedo – convencendo de imediato o técnico, Szabo, que passou a treinar com ele quatro vezes por semana, enquanto a restante equipa só se exercitava duas. Trabalho que deu frutos: logo na sua estreia, em Setembro, marcou dois dos cinco golos com que a equipa derrotou o eterno rival por 5-3, no Torneio Trianguar, nas Salésias. Daí em diante não mais parou: nos 12 anos em que envergou o símbolo do leão, Peyroteo integrou, além dos Cinco Violinos (em que era o ‘Stradivarius’), a mítica linha avançada que a antecedeu – composta por Mourão, Pireza, Soeiro e João Cruz.
Albano
Está para o lado esquerdo do ataque dos Cinco Violinos como Jesus Correia está para o direito – ou seja, sempre pronto a municiar Vasques e Peyroteo. Pequeno mas veloz, fazia a cabeça em água aos defesas contrários. Aliás, reza a lenda que, durante uma partida, passou por baixo das pernas de um robusto defesa escocês. A 5 de Janeiro de 1947, na sua estreia pela Selecção Nacional contra a Suíça, terá dito, face ao temporal que se fazia sentir: “Choveu tanto naquele jogo que encolhi mais dois centímetros” – tirada que é reveladora do sentido de humor com que sempre pautou a sua vida.
Arrancou para o futebol no Seixal, onde nasceu, passando depois para os juniores do Barreirense e voltando ao clube da terra já como sénior. Despertou o interesse do Sporting, que pagou, em 1943, a avultada quantia de 20 contos – uma exorbitância que renderia alguma contestação em Alvalade, numa época em que o Clube atravessava dificuldades financeiras. Mas o investimento daria frutos: em 443 jogos com a camisola verde e branca marcaria 252 golos, e contribuiu para a conquista de oito Campeonatos Nacionais, quatro Taças de Portugal e dois Campeonatos de Lisboa.