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O dia em que os 'penalties' não foram uma lotaria

Por Jornal Sporting
16 Jun, 2015

‘Leões’ perdem título em mais um dia triste para a modalidade

Quem disse um dia que a decisão de um jogo por grandes penalidades era uma lotaria teve hoje a prova provada de que a ideia não passa de um mero chavão. E não, não é apenas por aquilo que se trabalha durante a semana, pelos vídeos que se preparam ou pela frieza na hora da verdade. Em mais um dia de grande propaganda para a modalidade, com pavilhão cheio e duas equipas a darem tudo pela vitória, foi a dupla de Coimbra constituída Nuno Bogalho e Filipe Duarte - apresentada na transmissão televisiva da partida como uma das melhores da actualidade, como infelizmente não se comprovou - a decidir a atribuição do Campeonato para o Benfica, que venceu por 3-2 nas grandes penalidades após o empate a duas bolas no final do prolongamento. Será esta a propaganda que se quer ou é mesmo suposto a lotaria estar viciada?  

O Sporting entrou na quadra com perfeita consciência daquilo que no jogo três da final tinha corrido mal e, em paralelo, da melhor forma de dar a volta a essas questões. Por isso, começou-se a ver desde início um 'leão' com sede de vitória, a querer ganhar mais cada uma das bolas divididas do que o adversário e com uma atitude muito forte. Aliás, foram esses condimentos que proporcionaram o primeiro golo da partida, por parte de Diogo, logo aos três minutos. Os 'encarnados' foram procurando criar perigo, mas a grande organização defensiva da formação de Nuno Dias e a frieza de André Sousa impediram que os jogadores da Luz causassem grandes calafrios. E até foram os visitados a estarem mais perto do 2-0, com Marcelinho a atirar ao poste e Juanjo a brilhar com algumas boas intervenções.

No reatamento, o Benfica tentou subir um pouco mais as linhas defensivas e a sua zona de pressão em busca do empate mas seria o Sporting a aumentar o marcador, com Caio Japa a marcar num lance de estratégia iniciado por Diogo. No entanto, por algum desgaste físico e erros individuais, os visitantes conseguiriam ainda levar o encontro para prolongamento com golos de Xande (num lance onde existe mais um bloqueio ilegal no início da jogada, como tantos outros que marcaram esta final do 'playoff' sem a respectiva sanção) e de Patias, de livre directo. 

Nos dez minutos de prolongamento, e com o intuito de evitar o adiar da decisão para as grandes penalidades, o Sporting teve mais posse e ameaçou duas vezes logo nos primeiros minutos com outras tantas bolas nos postes, de Miguel Ângelo e Fábio Aguiar. Nos últimos dois minutos do tempo extra, Nuno Dias arriscou mesmo o 5x4 mas os 'leões' não conseguiram quebrar a resistência da muralha defensiva 'encarnada'. Aliás, quase parecia que os visitantes sabiam estar na posse do número premiado na lotaria do desempate... 

Nos 'penalties', o jogo deixou de ser decidido pelos intérpretes das duas equipas e passou para as mãos dos artistas da (e de) terceira. Djô começou o desempate com uma bomba à trave, Patias enganou André Sousa, Diogo, Bruno Coelho e Fábio Aguiar também marcaram. Tudo, sempre, com os guarda-redes a darem pelo menos um pequeno passo para a frente da linha onde deveriam estar até a bola sair da marca de grande penalidade mas sem qualquer repetição. Xande tinha a decisão nos pés, André Sousa defendeu mas, eis se não quando, Nuno Bogalho mandou repetir o 'penalty'. Com razão, acrescente-se, mas sem repetir o critério em relação às cinco anteriores. E aqui não se pode dizer se está mais ou menos centímetros à frente - ou é legal ou não é. E, neste caso, nenhum foi.

Indignados com a decisão e com os ânimos ainda mais acesos face às constantes provocações de Juanjo para as bancadas, os adeptos 'leoninos' faziam-se sentir e terão sido, alegadamente, atirados objectos para a área de jogo. Quando o recinto estava a ficar pronto para o recomeço do desempate, mais uma decisão pitoresca: trocar de baliza para o lado onde estavam os adeptos 'encarnados', provavelmente com intenção de colocar logo a festa mais perto para que nada faltasse aos visitantes. Xande partiu então de novo, atirou e André Sousa voltou a defender da mesma forma como tinha feito na baliza contrária, agora sem qualquer advertência.

Fábio Lima partiu então para a marcação do quarto 'penalty', Juanjo defendeu e a bola bateu no poste, com o guarda-redes 'encarnado' claramente adiantado em relação à linha de baliza onde deveria estar colocado. E, nesta bola em específico, foi esse 'pormenor' que teve influência no desfecho do lance. De seguida, Jefferson voltava a ter a bola de título, André Sousa colocou-se na baliza mas foi preciso recorrer a nova limpeza de piso para retirar a água, moedas e demais objectos atirados da bancada dos adeptos visitantes. Ou seja, deveria ter-se jogado de novo na baliza contrária. Mas nem neste aspecto houve a mínima coerência, ao ponto de ser o próprio guarda-redes 'leonino' a tentar secar o piso com as calças. O brasileiro lá marcou, o internacional português defendeu e... 'penalty' repetido (e bem, pois estava adiantado tal como Juanjo também estava no castigo marcado por Fábio Lima). A seguir, lá veio o golo e a decisão do Campeonato.

Decisão dramática, referiu-se. É mais uma daquelas expressões bonitas mas que não querem dizer nada. Mas neste filme que mais parecia uma comédia se não fosse tão triste e grave, o real drama foi aquele que se criou sem necessidade nenhuma para evitar levar a final para o caminho natural e justo: a 'negra' no Pavilhão da Luz. À semelhança do que já tinha acontecido em 2012, quando factores externos evitaram o tricampeonato do Sporting, o filme repetiu-se e, da forma como aconteceu, tirou mérito aos vencedores (que também o tiveram, óbvio). De facto, existe uma propaganda a retirar: se os 'penalties' são uma lotaria, esta taluda estava viciada.