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Foto César Santos

Final pelo pé do mago Merlim

Por Jornal Sporting
28 Abr, 2017

Leões seguros e senhores do jogo garantem lugar na final de domingo pelo título europeu com vitória sobre o campeão em título

Reza a lenda da monarquia britânica que o mago Merlim terá sido o guia do rei Artur para que este obtivesse a espada Excalibur que lhe permita ascender ao trono. Fantasias à parte, até porque a final da UEFA Futsal Cup é já uma realidade, o Sporting CP está apenas a um passo de se poder sagrar campeão europeu. A vitória frente ao Ugra, por 2-1, na primeira meia-final, que abriu a competição, assim o determinou.

O sonho tornou-se mais perto a partir do momento em que Alex Merlim desbloqueou, aos cinco minutos da segunda parte, o encaixe táctico que os leões vinham a aguentar frente aos russos do Gazprom Ugra, os detentores do título europeu, a base da selecção russa, duas vezes vice-campeã europeia e actuais vice-campeões mundiais da modalidade. Adversário bem mais potente fisicamente e, acima de tudo, com uma superioridade na altura, o que nas bolas altas fazia toda a diferença

Comecemos pelo início, como de resto deve ser. O encontro principiou de forma bastante nervosa de ambas as partes. De tal forma, que nos primeiros minutos houve algumas picardias, sobretudo entre Chishkala e Leo, com o russo nitidamente a tentar amarelar o brasileiro naturalizado cazaque, que ao entrar em campo na apresentação das equipas recebeu a maior ovação do dia. Ainda assim, foi o Sporting CP que foi criando as maiores ocasiões de perigo. Só o herói cazaque, à sua conta, somou uma mão cheia delas (2'; 3';, sendo a mais perigosa aos 13 minutos, com um remate à trave, na sequência de um pontapé de canto, o que reforça a importância das bolas paradas no sucesso da estratégia leonina).

Sem golos, do primeiro tempo pouco ou nada mais há a referir, a não ser o facto de ambas as equipas terem chegado ao limite das quatro faltas a três minutos do intervalo. Os respectivos time out foram pedidos – primeiro pelo Sporting CP, depois pelo Ugra, separados por 35 segundos –, para afinar as estratégias, mas apenas os russos deram conta do recado, com duas situações de aparente maior aflição para Marcão. Primeiro por Shayakhmetov, com o guardião leonino a desviar com o olhar; a segunda a agarrar com segurança o remate de Chishkala.

Foi na segunda parte que tudo aconteceu. Golos, emoção e sem qualquer traço de nervosismo, o Sporting CP, como Nuno Dias tinha afirmado na véspera, na conferência de imprensa de antevisão do encontro, soube sofrer quando assim tinha de acontecer e aproveitou ao máximo as oportunidades construídas. Aos 23 minutos, com Marcão mais adiantado na quadra, Cavinato falhou a emenda. Estava lançado o mote. Foi precisamente pela ala, desta feita pelo pé do mago Merlim, que os leões se adiantaram no marcador. Ultrapassou Chishkala no corredor esquerdo e bate Kupatadze, que até então tinha estado irrepreensível.

O Sporting CP, em vantagem, começou a arriscar mais, consciente do que tal significava. Aliás, se há motivo de orgulho nesta equipa é que, para além de nunca terem perdido a concentração no que havia para fazer – Marcênio, por exemplo, foi uma sombra do que poderia realmente render ao Ugra –, soube ser paciente e o chavão do colectivo ter estado acima das individualidades fez o sentido que realmente deve ter. E ser.

Diogo, que entrou no segundo tempo para uma exibição de luxo, foi o rosto desse risco calculado aliado a uma confiança de quem sabe o que fazer e quando o devia fazer. A 11 minutos do fim, carrega a bola pelo corredor direito desde a sua área, passando por três russos e ainda rematou com a bola a soprar uma aragem ao poste esquerdo da baliza de Kupatadze. Aliás, o mesmo Diogo acertou no poste dois minutos depois.

Dieguinho tornou o sonho da final ainda mais real ao marcar o 2-0, num lance algo confuso, já no chão, com um toque subtil mas suficiente para bater o guarda-redes russo. Naturalmente, Kaká, técnico do Ugra, pede desconto de tempo e entrar na quadra com Shayakhmetov como guarda-redes avançado. O jogo estava a 6'34'' do fim e o Sporting CP sabia que a partir desse momento começava o trabalho mais doloroso. O tal sofrimento que Nuno Dias havia referido. Aliás, o técnico leonino pareceu premonitório: o jogo terminou exactamente como havia dito que iria acabar, em cinco para quatro. Pormenor delicioso foi ouvir Deo gritar, para os companheiros que entravam de novo em jogo depois do time out: "Gente, confiança!"

O Sporting CP foi estoico na pressão, sério na abordagem à defesa, seguro na perseguição à bola e ao homem que a tinha e até o golo sofrido, a 1'49'' do final do encontro foi um mero tiro de sorte, traído por um pequeno toque em Caio Japa – um autêntico leão na defesa, como o capitão João Matos, que até do banco incentivava os companheiros –, que acabou por enganar Marcão. Nem sequere se pode considerar falha no sistema montado para aguentar o cinco para quatro final.

A cada defesa de Marcão, celebrada pelo próprio e por todos no banco de suplentes como se de um golo se tratasse, o cronómetro caía vertiginosamente.

Os festejos finais, justificados, foram a descompressão de 40 minutos onde a vida se concentrou na quadra da bonita, funcional, mas atrasada Arena Almaty – perdeu a rede de internet antes mesmo do jogo e não houve quem a recuperasse... e custou mais de 200 milhões de euros! O Sporting CP garantiu a presença na final da UEFA Futsal Cup pela segunda vez, novamente em Almaty, defrontando o Inter Movistar, que venceu o Kairat por 3-2.