Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Acreditar até ao fim

Por Miguel Braga *
28 maio, 2020

Quando Luiz Phellype arrancou para a marcação do penálti vitorioso já só olhava para o meu filho que saltou como um Leão para o meu colo quando a bola bateu nas redes

A primeira vez que vi um capitão do Sporting Clube de Portugal levantar o troféu no Jamor foi na mítica época de 1981/1982, depois da equipa de Malcolm Allison cilindrar o SC Braga de Quinito por uns expressivos 4-0. Liderados por um António Oliveira inspirado – marcou dois golos, sendo que Rui Jordão e Manuel Fernandes foram os autores dos outros dois –, recordo-me de no final do jogo descer as escadas de pedra do estádio com o meu pai, rumo ao relvado, onde vi a felicidade estampada na cara de todos, adeptos, jogadores e famílias, num Jamor pintado de verde e branco. Era a minha primeira Taça de Portugal e a décima primeira do Clube.

Durante os anos que se seguiram vivi de tudo no Jamor, vitórias, derrotas, até empates, jogos com golos, casos e, sobretudo, uma paixão que só é possível viver naquela relva. E foi assim, que há mais ou menos um ano, saí de casa, apenas na companhia do meu filho, para ver mais uma final do meu Clube do coração – entre a primeira vez e aquele momento, passaram-se 37 anos de Sporting CP.

O passado recente não me permitia transbordar confiança. “Vamos ganhar, pai”, dizia o meu filho a cada oportunidade, com aquela fé que move montanhas e que é fundamental para alcançar objectivos difíceis. Deixámos o carro num dos parques, passou por nós uma centena de adeptos portistas, ruidosos como mandam as regras, num dia em que a festa começa muito antes do árbitro apitar para o início da partida.

Incidências do jogo à parte – golo bem anulado ao FC Porto com o resultado ainda a zero e falta de coragem para anular o primeiro golo dos dragões –, a verdade é que a exibição de Bruno Fernandes lembrou-me a de Oliveira, a frieza de Bas Dost recordou-me o posicionamento de Manuel Fernandes, Renan incorporou a agilidade de Ferenc Mészáros, Coates e Mathieu cortaram tudo como Zezinho, e depois de 90 minutos empatadas, as equipas foram para o prolongamento. “Vamos ganhar, pai”, repetia o meu filho, saltando para os meus braços quando Bas Dost fez aquilo que melhor sabia fazer de Leão ao peito, aos 101 minutos de jogo. Depois de 20 minutos que pareceram 20 horas, de olhos no relógio e no relvado, senti o mundo a cair quando Filipe, já depois da hora, empatou o jogo para o FC Porto – os adeptos portistas que estavam à minha frente saltaram numa explosão de raiva, eu sentei-me, abanei a cabeça e pensei: “outra vez, não”. Levantei-me rapidamente ainda sem saber o que fazer. Ao meu lado, o meu filho agarrou a minha mão e disse-me, confiante: “Não vamos embora, vamos ganhar, pai”. E foi assim, de mãos dadas e com inabalável fé, que assistimos ao desempate por pontapés da marca de penálti – e nem o remate de Bas Dost à barra demoveu a confiança da criança. “Não faz mal. Vamos ganhar, pai. Eu sei”.

Quando Luiz Phellype arrancou para a marcação do penálti vitorioso já só olhava para o meu filho que saltou como um Leão para o meu colo quando a bola bateu nas redes. “Eu sabia, pai. Esta é nossa”. E foi assim que o meu filho viveu a sua primeira Taça de Portugal e a décima sétima do Clube.

 

* Responsável de Comunicação Sporting Clube de Portugal