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Nikčević

Por Pedro Almeida Cabral
28 maio, 2020

Ter tido um jogador assim em campo é um orgulho. Até sempre Nikčević

Com o termo prematuro das épocas desportivas em curso, os plantéis vão sendo recompostos. Assistem-se a algumas dispensas, aguardam-se contratações e desespera-se para voltar a ver o Leão rampante em campo. Uma das saídas dos últimos dias foi a de Ivan Nikčević. O sérvio de 39 anos, talentoso ponta-esquerda da nossa equipa de andebol, terminou a sua quarta e última temporada ao serviço do Clube.

Se há jogadores que apenas passaram pelo Sporting CP, outros há que se tornam inesquecíveis. É esse tipo raro de atletas que nos lembraremos daqui a décadas, quando estivermos a celebrar as vitórias destes anos. Isso acontece não tanto pelo que jogam ou pelo que fazem jogar. Mas, sobretudo, pelo que entregam em campo.

Ficam dois campeonatos nacionais, uma Taça Challenge e golos do outro mundo no João Rocha. Chegado em 2016, o primeiro título de Nikčević foi a Taça Challenge de 2017. É bom recordar o que foi essa final a duas mãos, ganha aos romenos do AHC Potaissa Turda. Nikčević foi o melhor marcador do Sporting CP nos dois jogos. Em casa, com dez golos e fora, com seis. Logo a seguir, a conquista do campeonato nacional, ainda em Odivelas, num épico confronto com o SL Benfica, que valeu o título. Se o golo de Ruesga que faz o 25-23 há-de me acompanhar até ao fim dos meus dias, a concentração do número 37 nos momentos finais, descaindo e distraindo o bloco defensivo do SL Benfica, certamente lembrando os tempos em que jogava com Ruesga em Espanha, no Portland San Antonio, também não será esquecida. Veio o campeonato seguinte, de 2018, e mais exibições superlativas do ponta-‑esquerda, destacando-se o jogo do título novamente contra o SL Benfica, com cinco remates certeiros, apenas atrás de um perfeito Pedro Portela com seis. Pleno de raça, lá andava Nikčević nas funduras da esquerda, sempre pronto a disparar, naquele que foi um dos seus melhores jogos em Portugal.

Tenho pena de não ver Nikčević a chegar aos 400 golos pelo Sporting CP. Estava nos 390 e prometia ainda ser uma boa ajuda para reconquistar o título nacional. Do que sentirei mesmo falta será do seu gesto habitual quando marcava um golo no João Rocha. Dirigia-se para a bancada, com o braço direito em V, em posição de força, e, com um olhar autoritário, exigia que apoiássemos o Sporting CP. A nós, restava-nos corresponder e puxar ainda mais pela equipa. Os títulos que ficam são saborosos. Ter tido um jogador assim em campo é um orgulho. Até sempre Nikčević.