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As vozes do dono

Por Juvenal Carvalho
17 Dez, 2020

(...) um pedido aos Leões comandados por Rúben Amorim. Continuem a praticar bom futebol e a ser uma muralha inexpugnável. E deixem-nos falar... porque será a voz da razão – neste caso a do bom futebol – contra as vozes do dono

Ainda sou do tempo, como dizia aquele bem conseguido spot publicitário, que as discussões de futebol se faziam entre amigos, de forma calorosa, e tinham como palco os cafés ou mesmo as ruas dos locais onde vivíamos. Eram discussões acaloradas, mas vividas de forma desinteressada, até porque as cartilhas eram única e simplesmente o amor fervoroso pelo nosso símbolo, fosse ele qual fosse. 

Eu como Sportinguista estive em tantos momentos desses, que eram mesmo de antes quebrar que torcer. Afinal, qual de nós não teve momentos desses entre amigos, que começavam aos gritos, e acabavam – refiro-me só aos civilizados – com umas cervejas e com um abraço fraterno, depois de cada um defender o seu clube até à exaustão.

Eram tempos saudáveis e sem agenda. Falava-se do jogo – sim, porque o futebol não é uma ciência exacta, desassombrada e apaixonadamente.

Quando digo eram, coloco mesmo o tempo do verbo no passado. Hoje essas discussões não só deixaram de ser saudáveis, como passaram também a ser viciadas no pensamento, porque é na sua maioria com base em opiniões de outros, só porque ouviram algumas intelegentzias dizer em determinados canais televisivos.

Hoje proliferam os programas sobre futebol, e não generalizando na mediocridade dos intervenientes, porque também existe algum bom senso e conhecimento do jogo por parte de alguns, na sua maioria é composto por pessoas sem conhecimento algum, até porque muitas delas que nem desporto praticaram, e que falam de “nadas” com tão douta sapiência.

Hoje promove-se o ódio e a viciação de pensamento, por pessoas que dizem o que lhes mandam, num vale-tudo que não deveria existir. Felizmente já deixaram de proliferar alguns habitués da guerrilha porque, e muito bem, por mudanças nas grelhas televisivas, foram extintos os programas onde participavam alguns proeminentes incendiários, que viam tudo aquilo que as imagens repetidas vezes sem conta diziam o seu contrário

Este “jogo falado” é contraproducente. Tem até cariz de promoção de uma guerra de guerrilha que em vez de valorizar o futebol e os seus agentes, tem sim, e cada vez mais, o condão de afastar as pessoas do fenómeno.

Nada me move contra ninguém, porque nem conheço pessoalmente a grande maioria dos intervenientes, e até evito de ver os mesmos depois de ter aderido à causa durante algum tempo, sobretudo pelo que a novidade acarretava então.

E porquê, perguntam alguns de vós, se ele não vê porque critica? Fundamento a minha análise, porque nos dias que se seguiram ao nosso jogo de Famalicão, e porque o Sporting CP consegue começar a incomodar o status vigente, quis perceber se algo tinha mudado. Mas não. Tudo na mesma, ou mesmo que sendo muito difícil piorar o que já era mau, a realidade é que ainda achei pior. Até o célebre e jocoso “está a chegar o Natal”, para contrariar as críticas Leoninas à arbitragem ouvi. Numa postura, quiçá a mando de uma tal cartilha, que está mesmo em proporções inusitadas aos dias de hoje.

E não creiam que esta coluna de opinião é escrita na versão Calimero. É tão só uma questão factual. E porque a minha “cartilha” é escrever semanalmente neste espaço e dizer sem amarras o que me vai na alma, que peço aos nossos rapazes, na tal lógica do “onde vai um vão todos”, que sejamos fortes dentro de campo, para que com a qualidade da razão, deixem ainda mais aziados os profetas da desgraça, que opinam sobre futebol com a qualidade com que provavelmente Amália Rodrigues cantaria rock.

Em suma, ganhamos pouco mas incomodamos tanto os que tão céleres são a tentar adulterar o que todos vêem. 

Termino reiterando um pedido aos Leões comandados por Rúben Amorim. Continuem a praticar bom futebol e a ser uma muralha inexpugnável. E deixem-nos falar... porque será a voz da razão – neste caso a do bom futebol – contra as vozes do dono.