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Aquele passe do Mészáros

Por Juvenal Carvalho
15 Set, 2022

O passar da idade traz com ele marcas que são indeléveis. Entre elas o termos tido oportunidade de vivenciar situações tão marcantes, e felizmente tão ganhadoras, que o passar dos anos nos fazem avivar recordações de uma história marcante e inequivocamente bela.

No passado domingo à noite, em telefonema com um amigo - o Pedro Fonseca, homem dos desportos de combate e Leão tremendo que também serviu o nosso Clube  - daqueles que como que por telepatia nos entendemos e que quando falamos de coisas do passado, e que quando um começa a querer abordar determinado momento, o outro, porque também o viveu ao vivo, e embora então ainda não nos conhecíamos, sabe do que está a falar.

E o ter memória, sobretudo de referências tão marcantes do nosso clube, é claramente algo que nos faz felizes.

E o que me leva a escrever esta coluna de opinião começou com uma conversa sobre Vítor Damas, aquele guarda-redes que marcou a minha geração - e a dele - e sua forma felina e espectacular com que defendia as nossas redes. Falámos que ele, mas também Manuel Fernandes, Rui Jordão, Joaquim Agostinho, Carlos Lopes, António Livramento, Fernando Mamede, e outros, nos "forravam" as paredes dos quartos enquanto adolescentes.

De Vítor Damas falámos sobretudo da 'pinta' de guarda-redes e das suas valências morfológicas e de presença na baliza, anormais para a época, e de jogos atrás de jogos em que foi tão determinante e em que tirou golos atrás de golos aos adversários.

Vítor Damas foi o primeiro guarda-redes de que me recordo . Ouvi falar de outros mágicos anteriores como Azevedo - que o meu pai me contou por mais do que uma vez ter defendido com um braço partido um jogo ante o nosso eterno rival -, de Carlos Gomes e de Joaquim Carvalho. O último, felizmente ainda tive o privilégio de com ele me ter cruzado no futebol juvenil do nosso clube. Todos eles foram mágicos. Assumo que sempre fui fã dos últimos a ser batidos, esse lugar tão ingrato mas tão determinante de guarda-redes. No futebol como no andebol, recordo António Bessone Basto e Carlos Silva; no hóquei em patins António Ramalhete e António Chambel; no futsal José Belo e João Benedito - não que outros, ou até mesmo os actuais nestas modalidades não sejam também fantásticos, mas porque estou apenas a falar de vivenciar tempos passados.

Para culminar a tal conversa de domingo à noite, o tema foi acabar num húngaro que também ficou na história, e também ele guarda-redes.
Falámos de Ferenc Mészáros e da forma como, tanto com as mãos como com os pés colocava a bola nos colegas de forma cirúrgica, olhando para um lado e colocando-a no outro. Era sublime. Como sublime foi o momento que nos recordámos de um jogo da época de 1981/82 em que num desses passes, em jogo no Estoril que nos deu o título de campeão nacional, Ferenc Mészáros isolou Rui Jordão e este marcou um golo em que a bola só tocou nos dois, num momento mágico.

Um momento que nos fez muito felizes ainda tão meninos e que ambos vimos ao vivo. E que passados quarenta anos voltámos a recordar como se fosse ao vivo ainda.

O tempo passa mas não se apaga. Por isso, me repito tanta vez. Ser do Sporting CP não se explica, sente-se.