A 'prata' dos meus amigos
02 Dez, 2022
Um homem já idoso, que comigo se cruzou acidentalmente, mas muito sábio quanto ao Sportinguismo, disse-me um dia, numa tarde chuvosa em que eu regressava a casa de semblante triste depois de um dia menos bom da nossa equipa de futebol, em pleno Estádio José Alvalade, uma frase que guardei no tempo: ' Olha, rapaz. Não fiques triste. Porque ninguém ganha sempre, e se o Sporting ganhou, Viva o Sporting. Se o Sporting perdeu, Viva o Sporting'. Assumo que me marcou, porque então, era ainda adolescente, e nunca antes tinha ouvido algo tão profundo no que respeita à minha vivência Leonina. E com isso, pese a indelével passagem pelas marcas do tempo, sempre me revi nessa frase, que me fez perdurar até ao momento, e assim continuará para todo o sempre.
Foi sempre esse o espírito que me norteou o Sportinguismo, e que, por mais triste − sou emocional − que fique, dou por mim a pensar que nada acaba num momento menos bom do nosso Sporting Clube de Portugal. Até porque depois dos maus momentos, como naquele velho ditado popular que diz que depois da tempestade vem a bonança, no Sporting CP vieram conquistas atrás de conquistas, que sendo o todo a soma das partes, nos faz ser hoje um Clube de dimensão planetária.
Sendo que estou a pouco tempo de receber o emblema de ouro, por causa de uma filiação que nasceu em criança, foi com especial agrado que no passado sábado vi as redes sociais serem invadidas por amigos meus a receber o emblema de prata. Com que orgulho eles partilharam aquele momento. Recuei cerca de 20 anos no tempo e veio a recordação da minha "prata leonina". Nunca me importei por quem seria entregue ou quem fosse o presidente que lá estivesse. Quis foi ali estar com a minha filha a meu lado para receber o Leão na lapela do casaco. Foi inolvidável. Por isso sei o que eles sentiram. É "apenas" um emblema de prata, mas com um simbolismo que só quem o recebeu sente. Como outros que já receberam o de ouro, ou até o de diamante. É o reconhecimento da dedicação ininterrupta ao nosso Clube. E tão garbosos que ficamos.
No meu caso, conto os dias − o tempo voa e não chega aos dedos de uma mão os anos que faltam para o meu "ouro", para lá estar, desta feita com a minha filha, mas também com a minha neta, a Leonor, também ela Associada desde o dia em que nasceu. Sei que é impossível, mas gostaria que nesse momento a entrega do meu emblema fosse feita por Francisco Stromp. Porque quem um dia já longínquo no tempo disse algo como isto: "Não é o Sporting que se orgulha do nosso valor. Nós é que que nos devemos sentir honrados de ter esta camisola vestida'", merece de mim, e de qualquer Leão, o nosso apreço. É para mim a figura mais marcante de um clube repleto de pessoas marcantes. Mas o símbolo, esse, está acima de tudo e de todos. Quando falo em todos, não é preciso ser Leão de prata, de ouro ou de diamante. Porque ser do Sporting Clube de Portugal, que como invariavelmente costumo dizer não se explica, sente-se, não é sequer necessário ser Associado. Porque o Sportinguismo não se mede, nem ninguém é mais Sportinguista que ninguém, e isto da aldeia mais recôndita ao local mais cosmopolita.