MANUEL FERNANDES!
04 Jul, 2024
O nosso Grande Manuel Fernandes partiu! Foi – apesar de esperada, pelas notícias da evolução do seu estado de saúde – uma tristíssima notícia que invadiu a família Sportinguista, na passada quinta-feira, e de um modo geral, Portugal de lés-a-lés e o Mundo do Futebol!
Manuel Fernandes – é bom que se acentue – não morreu. E não morreu porque – com os seus 50 anos de Esforço, Dedicação e Devoção ao Sporting CP – ganhou a Glória! E com esta, qual “Deus”, entrou no Olimpo e ganhou a imortalidade, desde logo no coração e na memória de todos os que o conheceram e muito especialmente dos Sportinguistas.
Recordar Manuel Fernandes é reviver 50 anos da vida do nosso amado Sporting CP. Talvez até mais, um pouco mais.
Recordo que Manuel Fernandes chega ao Clube, em 1975, já com 24 anos, vindo da CUF do Barreiro, na altura senhora de uma grande equipa, jogando no seu mítico Estádio do Lavradio, de longe o melhor clube-empresa que alguma vez existiu em Portugal (pese embora outras experiências como, por exemplo, a Riopele e até o Campomaiorense).
Manuel Fernandes chega quase discretamente a Alvalade (a exemplo do que às vezes sucede no Sporting CP, como também aconteceu, há menos anos, com Bruno Fernandes), sem grandes parangonas e “cantares de hosanas”… chega para uma missão verdadeiramente impossível, a de “substituir o insubstituível”… o mítico Yazalde! O astro dos astros!
Sou desse tempo, vivi nesse tempo! E recordo que, na altura, com a saída de Yazalde (transferido, em 1975, pelo presidente João Rocha) para o Marselha, o Sporting CP – depois do extraordinário campeonato de 1973/1974 – começava um difícil período de adaptação à nova realidade do país, também dos clubes, nomeadamente com o início do ressurgimento do FC Porto (Pinto da Costa / Pedroto) e a cristalização e perpetuação do SL Benfica como “clube do regime”.
É neste contexto que, no “defeso” de 1975, aparece um tal de Manuel Fernandes como novo jogador do Sporting CP… tenho ideia que se sabia que era bom jogador, mas as dúvidas eram mais que muitas… e havia uma certeza: não era Yazalde, nem nunca o poderia verdadeiramente substituir, porque isso era simplesmente impossível!
Manuel Fernandes começou a sua carreira neste contexto e foi fulgurante a sua afirmação no Clube! Dizer fulgurante é mesmo o mínimo que se pode dizer! Era um jogador completamente diferente de Yazalde (este mais um Gyökeres da altura, um monumental “senhor de área”, com um pontapé “peyroteano”!), pois Manuel Fernandes assentava o seu futebol na inteligência, na “finesse”, na finta curta, na triangulação, no futebol assistido. Na sua extraordinária técnica individual, no seu insuperável controlo de bola… e no seu pontapé preciso, potente e sempre, sempre bem colocado!
Ao fim da primeira época Manuel Fernandes já tinha conquistado Alvalade! Uma afirmação espantosa!
Depois, depois chegou – em 1976 – outro monstro do futebol, Salif Keita! E durante três anos os dois – com o também imorredoiro Manoel do Ó e com, a partir de 1977, Rui Jordão, resgatado em Espanha para vir jogar para o seu clube do coração – tudo fizeram para dar grandeza e vitórias ao nosso Sporting CP!
Chegamos a 1980… e o Sporting CP – com, entre outros, Rui Jordão, Manoel do Ó, o jovem Freire, Ademar, Fraguito, Eurico, Bastos, Inácio, Artur, Barão, José Eduardo, Vaz e Fidalgo – alcança o primeiro título de Campeão Nacional de Manuel Fernandes… finalmente e merecidíssimo! Manuel Fernandes carimbou esse título ao marcar o primeiro golo da vitória do Sporting CP sobre o União de Leiria, no velhinho Estádio José Alvalade a rebentar pelas costuras! Antes, nas Antas, onde estive, jogámos contra o FC Porto e fomos prejudicados pelo triunvirato de árbitros de primeira… António Garrido, Carlos Correia e Mário Luís! Empatámos a um golo, primeiro um golo do Freire, tivemos um segundo golo marcado pelo Manuel Fernandes que foi anulado por um inenarrável fora-de-jogo posicional do Freire que estava noutra zona do campo, estatelado no chão, lesionado e contorcendo-se com dores… e para cúmulo o FC Porto marca o seu golo de empate através de um penálti que foi repetido, pois o nosso guarda-redes Vaz defendeu a inicial marcação do mesmo! Valeu tudo nesse jogo! Nunca se tinha visto tal coisa! Mas era o início de uma era… António Garrido, creio que duas épocas depois, foi trabalhar anos a fio para o FC Porto… a convite de Pinto da Costa, claro!
Dois anos depois, em 1981/1982, um campeonato extraordinário, com Malcolm Allison no comando técnico, o Sporting CP ganha tudo, Campeonato, Taça, Supertaça (ainda não havia Taça da Liga)! A nossa linha avançada era soberba… António Oliveira, Rui Jordão e – claro – Manuel Fernandes! Puro luxo! Segundo título de Campeão Nacional para Manuel Fernandes!
Chega, mais tarde, o final de tarde do dia 14 de Dezembro de 1986… é o dia “inteiro”, o dia em que Deus quis mesmo fazer as pazes com o Sporting CP! No Estádio José Alvalade, perante o SL Benfica, que liderava o campeonato (do qual, aliás, se veio a sagrar vencedor), o Sporting CP – superiormente comandado pelo há vários anos capitão Manuel Fernandes – cilindra implacavelmente o seu adversário por uns históricos, impensáveis e surpreendentes 7-1! Desses sete golos, quatro são apontados por Manuel Fernandes, dois de cabeça e dois com o pé direito! Alvalade entra em êxtase! Fez-se História, nesse dia! É a maior goleada de sempre em jogos entre os eternos rivais! E com os seus míticos quatro golos, Manuel Fernandes entra no impossível pódio dos três jogadores Leoninos que presentearam o SL Benfica com esse recorde de golos num só jogo! A saber, Peyroteo, Lourenço (na Luz, com um “chapéu” perfeito e tudo!) e Manuel Fernandes!
Últimas notas: que bom ter visto os nossos rivais representados ao mais alto nível nas cerimónias fúnebres no Estádio José Alvalade. André Villas-Boas e Rui Costa estiveram à altura do momento e do nosso imorredoiro Manuel Fernandes! Honraram o Sporting CP e honraram o Manuel Fernandes! E honraram as suas instituições, respectivamente, SL Benfica e FC Porto! Foi bonito e assim deverá ser!
Outras grandes figuras desses dois enormes clubes rivais foram vistas em Alvalade. Destaco, por todos, um de cada clube: António Oliveira, o homem da mítica frase “Por cada Leão que morrer outro se levantará!”, reconhecido portista e que por mil razões muita ligação tinha com Manuel Fernandes, com quem partilhou balneário, ambos com a camisola do Sporting CP! E Toni (também grande amigo de um enorme Leão, meu amigo, infelizmente desaparecido este ano, o Carlos Matos da Anadia e da CGD, onde o conheci quando lá trabalhei com ele há já 40 anos!), múltiplas vezes adversário em campo de Manuel Fernandes, que confessou o carinho e amizade que nutriam um pelo outro… ao ponto do melhor pargo da vida de Toni ter sido saboreado em Sarilhos Pequenos, na casa de Manuel Fernandes, pois claro!
Duas últimas notas, a primeira para salientar a organização exemplar das cerimónias fúnebres de Manuel Fernandes, desde logo a escolha do Hall VIP do Estádio José Alvalade. Foi tudo feito com muita dignidade e no “ponto certo”. Seguramente que ao nível do que Manuel Fernandes indiscutivelmente mereceu por toda a sua vida de dedicação ao Clube!
A segunda e última nota para sublinhar o empenho que os Órgãos Sociais colocaram em todos os momentos das despedidas a Manuel Fernandes. Foi marcante a sua presença em todos esses momentos. Foi comovente ver como o nosso presidente honrou Manuel Fernandes e se envolveu e emocionou em vários momentos. Obrigado, Frederico! Obrigado, Direcção! Obrigado, Órgãos Sociais!
Fica, em derradeiro comentário e para inolvidável memória futura, a icónica e fabulosa fotografia da entrega da Taça de Campeão Nacional 2023/2024 a Manuel Fernandes… levada ao hospital, em mãos, por Frederico Varandas e por Gyökeres, ambos de costas, e sem o homenageado nesse sumptuoso gesto presente… há mesmo fotografias que valem por mil palavras!
Calo-me, portanto… e choro, choro com o Tiago Fernandes e toda a sua querida família e toda a família Sportinguista!
Viva o Manuel Fernandes! Viva o Eterno Capitão! Viva o Sporting Clube de Portugal!
P.S 1 – Assembleia Geral – Decorreu no passado domingo a Assembleia Geral do Clube para aprovação de Contas Consolidadas e Orçamento para o próximo ano. Mais de 1.200 Sócios compareceram para votar e os dois pontos da ordem de trabalhos foram aprovados com expressivas votações na ordem dos 95%! Ainda bem!
P.S 2 – Sporting TV – O trabalho de cobertura das cerimónias fúnebres de Manuel Fernandes foi notável. Eu estava no Norte do país e sempre que pude lá ia eu passar os olhos no que se passava na Sporting TV. Um verdadeiro e profundo elo de ligação de toda a família Sportinguista! Quando estamos fora de Lisboa damos mesmo mais valor ao “nosso canal”… é que com ele estamos mesmo em casa! Obrigado, Sérgio Sousa! Obrigado, Sporting TV!
P.S 3 – Europeu e Manuel Fernandes – Foi bonito o elogio da UEFA no “minuto de silêncio” no início do jogo de Portugal com a Eslovénia. Foi mesmo – para além do resultado, consequência das fabulosas defesas de um grande guarda-redes como efectivamente é o portista Diogo Costa – o melhor dessa noite! Do resto, das opções de Martínez, pois nem vale a pena falar… é que com tanta “matéria-prima nacional”, a que foi e a que cá ficou, é mesmo difícil fazer tão pouco!