"Os clubes têm de ser geridos com conhecimento técnico"
19 Abr, 2016
Na segunda aula livre da tarde, o professor catedrático do ISG, Miguel Varela, focou-se na 'Economia e Gestão no século XXI'
Alguns alunos da área de Desporto ainda inscritos no ensino secundário abriram os livros para rever a seguinte matéria: afinal, quais é que são as semelhanças entre gerir uma empresa e um clube de futebol? O professor Miguel Varela tentou desenlaçar estas e outras questões relacionadas com a Economia e a Gestão, duas disciplinas que, na sua opinião, pertencem ao grupo das ciências sociais.
“Falar destas duas temáticas para potenciais gestores desportivos é uma tarefa complicada”, começou por dizer. “Até porque a vossa geração será uma geração com grandes responsabilidades no futuro. Os clubes, tal como as empresas, têm de ser geridos com conhecimento técnico e com ciência. Claro que dirigir um clube tem especificidades próprias, há muitos factores de incerteza – em relação ao futebol, por exemplo, o sucesso está bastante associado às vitórias, mas continuo a achar que a gestão se preocupa mais em garantir a eficiência do que a eficácia, que depende de inúmeros factores extra”, referindo-se à possibilidade de uma equipa com um excelente plantel não alcançar um único título ao longo da temporada.
Incitando os seus alunos a virar a página, Miguel Varela apontou para um título incontornável na sobrevivência de qualquer organização laboriosa: o financiamento. Apesar das milhares de voltas que o mundo do trabalho já sofreu, haverá sempre uma máxima a pautar o ritmo desta roda gigante, aquela que impõe a necessidade de gerar dinheiro.
“O ser humano dependeu durante milhares de anos da evolução agrícola, depois apareceu a sociedade industrial e hoje em dia vivemos numa comunidade que ainda não foi qualificada porque está em constante transformação. No entanto, há coisas intemporais nas empresas que resistem à passagem do tempo. Os departamentos financeiros, os recursos humanos, os directores comerciais ou de marketing e o aprovisionamento da gestão, necessário para a manutenção da própria empresa, têm de existir”, indicou, antes de revelar alguns dados bastante preocupantes.
Existem cerca de um milhão e meio de empresas em Portugal, sendo que 90% delas não paga impostos. Curiosamente, isso não é um aspecto positivo. Essas empresas não pagam impostos porque não lucram para tal. Quando os alunos se iam questionando entre si acerca do registo, o professor sugeriu um parágrafo capaz de esclarecer a audiência.
“Temos de ser cada vez mais criativos e empreendedores parar gerar receitas para a nossa organização… E até para nós próprios! A gestão vive muito da decisão e para decidirmos correctamente precisamos de informação, uma informação que a empresa poderá comprar, ainda que o preço a pagar não seja o mais agradável. Nos clubes, as quotas dos sócios e as vendas de jogadores são crucias para garantir lucro”, finalizou, fechando um livro demasiado longo para o pouco tempo disponível.