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Foto César Santos

A corrupção foi debatida ao detalhe no TFOF

Por Jornal Sporting
22 Mar, 2018

A manipulação de resultados, a lavagem de dinheiro e a violência foram apenas alguns dos tópicos que abriram o segundo dia do congresso The Future of Football (TFOF)

O segundo dia do IV congresso internacional The Future of Football abriu com um painel incontornável: o pior do futebol. Assim foi apelidado e abrangeu temas como a corrupção e a manipulação de resultados, a lavagem de dinheiro e as propriedades perversas, a violência e as transferências de jogadores fantasmas. Os oradores foram Fred Lord, conselheiro interno da organização internacional anti-corrupção, Rob Harris, jornalista da Associated Press, Chris Walley, antigo chefe de segurança da Associação Inglesa de Futebol, e Pippo Russo, jornalista italiano que tem investigado a corrupção no futebol.

O primeiro a discursar foi Fred Lord, sobre a corrupção e a manipulação de resultados, e o palestrante alertou para o perigo dos problemas em questão, procurando expô-los e, simultaneamente, explicando como se combatem. “Todos sabemos que há muita manipulação no desporto. É um problema global e precisamos de ter uma solução bem coordenada. Ao nível das apostas não reguladas, houve uma explosão: hoje em dia circulam 11 milhões de euros por minuto em termos de apostas nos jogos através de redes globais muito bem financiadas. A ICSS trabalha ao nível da investigação, monitorizando tudo o que se passa nesse mundo. Desenvolvemos uma rede de atendimento que trabalha 24 horas por dia em mais de 220 línguas”, afirmou, não deixando de mencionar outros problemas reais como o tráfico de jogadores e a criação de passaportes falsos para o mesmo fim.

Mais direcionado para a lavagem de dinheiro e para os diferentes tipos de proprietários de clubes – focando, claro está, nos maus exemplos –, Rob Harris deixou sobretudo questões para reflexão. “Temos visto alguns clubes tornarem-se brinquedos nas mãos dos seus proprietários. Temos de colocar questões profundas sobre esta matéria: de onde vem o dinheiro que os clubes gastam cada vez mais? Quem são as pessoas por trás dos clubes?”, começou por perguntar, prosseguindo, deixando um aviso: “Quão sustentáveis são os investimentos chineses ou árabes que se têm assistido? É normal o governo russo envolver-se nos negócios das equipas? Quando dão por isso, os adeptos muitas vezes já não conseguem reclamar, são calados pelos próprios presidentes. Não conseguem lutar contra o aumento do preço dos bilhetes e outras questões que lhes tocam directamente”, disse, explicando que as massas associativas muitas vezes se deixam levar pela promessa de vitórias e, muitas vezes, não têm triunfos nem poder no seu próprio clube.

Chris Walley trouxe à discussão o tema da violência, dando como exemplo a sua experiência no combate aos hooligans, em Inglaterra. Depois de relembrar o problema, mencionando várias tragédias decorridas sobretudo na década de 80, o inglês apresentou a solução que a federação, os clubes e o governo britânico encontraram em conjunto. “Integração de câmaras, criação de um organismo de segurança (os chamados spotters), aumento do nível de stewards e redução de polícias”, frisou, sublinhando que 10 anos depois da reforma a nível da segurança no futebol 3.500 pessoas estavam banidas de ir aos estádios ingleses. Hoje, Inglaterra tem quatro divisões profissionais e em todas a legislação é igual, envolva o maior ou o mais pequeno clube de cada uma.

Por fim, Pipo Russo abordou as transferências de jogadores fantasma e a gestão das finanças dos clubes, apresentando o caso controverso do Chievo e do Cesena, que afirmou tratarem-se de “clubes gémeos”, isto é, que negoceiam jogadores entre si de forma a equilibrar as respectivas contas (foram vendidos jogadores de 15 anos por dois milhões para esses efeitos). “Quando falámos do futebol de hoje em dia, falamos de falta de transparência. Há grandes quantias de dinheiro a envolver a modalidade e a tendência é aumentarem – não porque todos os clubes gastam mais, mas porque alguns gastam muito mais”, disse, finalizando com um outro caso que se revelou dramático: “Em 2002, o Parma tinha uma dívida muito considerável, que resultou destes sistemas e os clubes, de acordo com a lei, deviam pagar essas dívidas no prazo de 10 a 15 anos. No entanto, na Itália e no futebol em geral, os clubes vivem numa bolha. Foi uma lição não aprendida por todos”, mencionou, sobre um clube que caiu nas divisões secundárias, onde continua até hoje.