"Dois pilares: os fãs e uma gestão de excelência"
27 Abr, 2017
Bruno de Carvalho traçou as linhas orientadoras da função Presidencial no Sporting CP, sem deixar de abordar questões como a violência no desporto e a recuperação financeira
No segundo dia do Congresso Internacinal The Future of Football, Bruno de Carvalho participou no painel III, referente à Gestão de Nível Mundial, explicando as directrizes que o guiam na Presidência do Sporting CP: "Temos de olhar para o futebol e perceber o dirigente necessário à frente do Clube. Todos sofrem de situações económicas difíceis. A realidade deve ser a de trazer para o Clube a paixão e o know-how com uma visão própria de uma multinacional. Os clubes têm de saber quais os seus pilares e o Sporting CP não sabia. Para mim, são dois: centrar no importante do Clube, que são os fãs, e a gestão de excelência. Os adeptos não foram suficientemente abordados no primeiro dia. É para eles que queremos ganhar, que queremos um Clube sustentado financeiramente. Trabalhamos com o propósito de trazer títulos. Eliminar o número 12 das camisolas das 53 modalidades foi uma medida financeira. Vínhamos da pior época de sempre e conseguimos ter um crescimento exponencial dos associados, mérito indiscutível dos fãs".
Sobre a reestruturação financeira, o líder máximo verde e branco salientou a ligação com os resultados e sucesso desportivo, referindo o crescimento de associados e de reconhecimento europeu: "Há que ter o conhecimento do meio, da comunicação e treinadores. O Presidente tem de ser alguém que não se guia por regras predefinidas. Não temos de estar na tribuna, mas sim usar instintos, ir ao detalhe, lá está para chegar aos resultados. O Clube nunca esteve no top-10 de associados, entretanto já estamos no top-5. Existem três passos a dar: recuperação financeira que está feita, um crescimento consolidado que está a ser conseguido e os resultados, o reflexo dos dois passos anteriores. Não pode haver medo em tomar as medidas diárias, dezenas delas por dia. Confio na minha equipa, nos técnicos e nos departamentos e várias modalidades. Temos uma visão conjunta e queremos criar uma cultura de campeão, sempre com um trabalho em família, sem trabalhar isoladamente. Passámos a ser respeitados pela Europa fora".
Oscar Moscariello, embaixador da Argentina em Portugal e secretário das relações internacionais do Boca Juniors, reforçou a ideia lançada por Bruno de Carvalho: "O futebol é algo em que toda a Sociedade está envolvida, é um desporto que atravessa várias faixas etárias e reflecte o funcionamento de um país. No Boca Juniors foi fundamental uma equipa dirigente capaz, que conseguiram transformar uma crise financeiro num exemplo a seguir. Não tem só bons resultados como uma boa organização. O modelo de negócio chegou a todo o Mundo e foi estudado pela Universidade de Harvard, inclusivamente.todas as secções são pensadas como uma grande empresa. Houve resistência sim, mas um dirigente não deve arruinar o clube com contratações impossíveis. Continua a ser necessário vender promessas da academia, mas não há dependência do montante de direitos televisivos".
Acerca da violência e desrespeito nos recintos desportivos, Bruno de Carvalho apontou à necessidade de que a rivalidade não ultrapasse o limite do razoável, mas apresentou uma mensagem pacificadora: "Futebol é desporto de paixões, mas há que separar criminosos de adeptos. Temos um trabalho árduo, perceber se as acções de apoio são boas ou más para o Clube... Neste último dérbi fizemos a prevenção durante todo o dia, jogo que aconteceu depois de um acontecimento trágico. O resultado não foi bom, mas os adeptos do Sporting CP tiveram um comportamento quase exemplar. Não digo que os adeptos do Sporting CP não cometam excessos, mas, se calhar, somos o único clube que tem uma lista de pessoas que não entram em Alvalade por ordem judicial, O que não faz parte do mundo de futebol são as linhas ultrapassadas. Não podemos cruzar a linha de haver mortes, isto é uma indústria de lazer, logo os assassinatos não têm logica nenhuma. Desde 1996 que sabemos o que é ter adeptos assassinados, aí sim criamos ódios e esse tipo de violência. Não podemos gozar ou ultrapassar barreiras, é um assunto grave que deve ser falado. Não quero generalizar, até porque sei que 99% dos benfiquistas, dos Sportinguistas e dos portistas não quer que isto aconteça. Quero conseguir viver a rivalidade sem mortes nem tentativas de crime".