Leões saem vivos de Nantes
23 Abr, 2025
Sporting CP perdeu pela margem mínima e traz jogo decisivo para o Pavilhão João Rocha (28-27)
Tudo em aberto: a equipa de andebol do Sporting Clube de Portugal voltou a encantar a Europa, mesmo perdendo com o HBC Nantes (28-27) na primeira mão dos quartos-de-final da EHF Champions League. Num confronto muito equilibrado do início ao fim, os Leões mantém-se vivos na eliminatória e trazem para Lisboa a resolução da eliminatória.
Numa noite (ainda mais) especial para Pedro Portela e William Hoghielm, que reencontraram o antigo emblema, os verdes e brancos entraram na H-Arena conscientes de que já tinham inscrito o seu nome nos compêndios do desporto português, disputando pela primeira vez esta fase da competição. Os gauleses, contudo, têm pergaminhos na prova - em seis participações na Liga dos Campeões, o HBC Nantes chegou por quatro vezes aos quartos-de-final da competição, alcançou a final four por duas ocasiões e em 2017/2018 foi mesmo finalista.
Esta temporada, o vice-campeão francês terminou o Grupo B na terceira posição, e, nos play-offs, eliminou o Orlen Wisła Płock, emblema polaco de boa memória para o Sporting CP. Foi precisamente na sua arena que os Leões garantiram um lugar entre os oito melhores da Europa. Sabendo de antemão as dificuldades e a exigência do desafio, os Leões voltaram a demonstrar o espírito que os tem guiado e, com a final four no horizonte, viajaram até Nantes com fome de mais.
E que fome! Num pavilhão ruidoso, frente a uma equipa que ainda não tinha conhecido a derrota em casa, o Sporting CP entrou determinado e sem medo, embora sem sucesso nas duas primeiras investidas à baliza.
Apesar de o HBC Nantes ter inaugurado o marcador logo na sua posse inicial, à passagem dos três minutos o resultado ainda era de 1-0 — mérito de André Kristensen, firme entre os postes, e de Pedro Martínez, sólido no bloco defensivo Leonino.
Martim Costa, com um golo portentoso, assinou o empate e, pouco depois, aos seis minutos, voltou a marcar, colocando o Sporting CP pela primeira vez em vantagem (1-2).
Os primeiros instantes do encontro confirmavam o que se previa: equilíbrio, intensidade e uma enorme entrega de parte a parte. Com Ivan Pesic também em destaque na baliza dos franceses, aos 10 minutos somavam-se mais defesas do que golos (3-3).
A liderança do marcador foi passando de umas mãos para as outras, até que, aos 16 minutos, o Nantes HBC conseguiu a primeira vantagem de dois golos. O técnico gaulês pedira instantes antes um time-out, onde ajustou a defesa, e os anfitriões passaram a condicionar mais eficazmente as entradas dos Leões, encontrando também espaços no ataque (8-5).
Ricardo Costa respondeu de imediato, pedindo também um time-out aos 19 minutos. Com correcções tácticas e palavras de incentivo, o efeito foi imediato: Martim Costa, com pontaria afinada, reduziu para 8-6, e Jan Gurri, aos 22’, fixou a margem mínima (8-7). Ainda no mesmo minuto, após uma excelente jogada colectiva, William Hoghielm assinou o empate (8-8).
De time-out em time-out, os franceses reagiram. Numa disputa de xadrez em ritmo acelerado, o Nantes HBC voltou a mexer no jogo. Aos 24 minutos, André Kristensen registava uns impressionantes 47% de eficácia na baliza Leonina, mas nem isso impediu o 9-8 na ressaca dessa intervenção. Do outro lado, Ivan Pesic continuava a brilhar, negando (mais) um golo a Martim Costa e mantendo acesa a chama dos da casa.
Após duas falhas técnicas, e nesta fase mais motivado, o Nantes HBC voltou a distanciar-se, e aos 27 minutos já vencia por 12-8. A dois minutos do intervalo, Jan Gurri assumiu o protagonismo, reduzindo com dois golos consecutivos (12-10), mas os franceses mostraram-se mais eficazes, e quando a buzina para o descanso soou, já tinham colocado o resultado em 13-10. A diferença no marcador reflectia os combates intensos, o encaixe técnico e táctico, e, sobretudo, os 50% de eficácia do guardião do conjunto da casa.
Com a faixa “Nós e vocês, juntos para fazer história”, os cerca de 150 adeptos portugueses faziam a festa à entrada para a segunda parte. No entanto, e apesar do apoio vibrante vindo da bancada reservada aos Sportinguistas, foi o Nantes HBC quem entrou mais eficaz, convertendo as duas primeiras posses do segundo tempo — ao contrário dos comandados de Ricardo Costa, que as desperdiçaram.
Salvador Salvador fez o 15-11 aos 32’ e Diogo Branquinho também marcou por duas ocasiões no decorrer do minuto 33 (16-13), igualando a diferença que se registava ao intervalo. Os dois conjuntos imprimiram velocidade ao encontro e assumiram-se muito mais finalizadores nestes minutos iniciais, com Diogo Branquinho – muito eficaz - a assinar um contra-golo (17-15) aos 35’.
Aos 36’, cruzando de uma ponta à outra do terreno, Natán Suárez personificou a reacção verde e branca (17-16) num golo de enorme importância, apesar de o Nantes HBC ter marcado logo depois (18-16). Edy Silva repôs a diferença mínima e ambos os conjuntos, muito aguerridos, precipitaram-se numa sequência de falhas que tornaram o jogo confuso.
Aos 42’, o Nantes HBC vencia por três (20-17), mas Diogo Branquinho, inspirado, entrou pela esquerda para reduzir. Depois, foi a vez de Francisco Costa reaproximar o Sporting CP por duas vezes (21-20).
No equador do segundo tempo, e com nenhuma das equipas a descolar, a diferença mantinha-se curta (23-22), e, aos 49’, os Leões conseguiram mesmo empatar por intermédio do inevitável Martim Costa.
O Sporting CP voltou a permitir ao Nantes HBC construir uma vantagem de dois golos - porém o outro Costa, Francisco, apareceu para, implacável, pintar o parcial de maior equilíbrio (25-24). Também André Kristensen, sempre providencial, somou duas excelentes intervenções às suas estatísticas e a indefinição no resultado foi-se prologando (26-24).
Com Edy Silva excluído por dois minutos, Ricardo Costa utilizou o seu time-out para ‘colocar gelo’ na partida e reinventar estratégias. Nessa fase, aos 55’, Natán Suárez conquistou um livre de sete metros e o especialista Orri Þorkelsson manteve a sua eficácia desde a marca, fez uma boa picadinha e colocou o resultado em 26-25.
Apesar da inferioridade numérica, o Sporting CP não balançou defensivamente (27-25), e, com a sua formação já completa, partiu para cima: Martim Costa fez o 27-26 e, com uma bola de diferença, ‘obrigou’ o Nantes HBC a pedir um time-out a três minutos do fim.
Também de bola parada, os franceses fizeram o 28.º golo, mas Natán Suárez voltou a recuperar a posse e, em drible, cruzou todo o campo para reduzir (28-27). A vinte e dois segundos, e com bola para empatar a partida, Ricardo Costa pediu um time-out mas os Leões não conseguiram concretizar.
Com coragem, ambição e um colectivo em alta rotação, o Sporting CP manteve o jogo vivo com um espectacular resultado (28-27), ficando mesmo tudo por resolver no João Rocha. Assim, o Sporting CP deu o primeiro passo rumo a novo feito inédito - mas, com a caminhada ainda vai a meio, o decisivo reencontro entre os emblemas está marcado para a próxima quarta-feira, 30 de Abril, às 19h45, num Pavilhão João Rocha com lotação esgotada.
Sporting CP: Edy Silva (2), Pedro Portela (1), Francisco Costa (3), Natán Suárez (2), Jan Gurri (3), Pedro Martínez, William Hoghielm (1), Salvador Salvador [C] (2), Orri Þorkelsson (1), Mamadou Gassama, André Kristensen [GR], Diogo Branquinho (4), João Gomes, Christian Moga, Martim Costa (8) e Mohamed Aly [GR]. Treinador: Ricardo Costa. Disciplina: cartão amarelo para Ricardo Costa (20’).