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Auriol

Por Pedro Almeida Cabral
17 Mar, 2022

Tem passado relativamente despercebido o caminho que a nossa atleta Auriol Dongmo vem fazendo. Talvez pelos escassos centímetros a que ficou das medalhas nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020, realizados no ano passado. Para quem tem tanta vontade de vencer, os cinco centímetros que a separaram do bronze custaram muito. Tanto que a levou a declarar, contristada, que ficar em quarto lugar era a coisa mais horrível da vida dela. A verdade é que, tantas vezes injustamente, tendemos a esquecer quem não carrega o glorioso peso das medalhas. Ou talvez seja também pelo facto de Auriol ter uma postura tão avessa a mediatismos e a vaidades. Mistérios que a vida desportiva tece.

Ainda no mês passado, Auriol Dongmo bateu com um só lançamento de peso o recorde nacional e o seu recorde pessoal em pista coberta. Foi em Pombal, nos campeonatos nacionais, com 19,90 metros. A melhor marca mundial do ano até agora. Nem assim lhe arrancaram muita satisfação. Auriol vive obcecada em passar a barreira psicológica dos 20 metros. Disse somente que não chegava para medalhas nos Mundiais. Há escassos dias, conquistou a Taça da Europa de lançamentos, em Leiria, com um arremesso a 19,68 metros. Ao ar livre, é a sua segunda melhor marca. E daria para conquistar folgadamente o tão desejado bronze olímpico. Não foi apenas esse lançamento que impressionou. Sob chuva inclemente e algum vento, Auriol manteve-se imperturbável e lançou quatro vezes acima dos 19 metros. Uma prestação extraordinária para uma atleta indómita. E que já é, por larga distância, a melhor portuguesa de sempre: antes de Auriol, nenhuma mulher tinha feito mais de 17,54 metros. Desde que chegou a Portugal vinda dos Camarões, em 2017, Auriol já melhorou quase dois metros a sua prestação. Revela que foi muito bem acolhida no nosso país (tem nacionalidade portuguesa desde 2019, ano em que nasceu o seu filho) e que a sua opção pelo Sporting CP foi acertada, tendo as condições que necessita para progredir.

A nós, cabe, cada vez mais, apoiar Auriol para as medalhas. E podemos já começar a torcer pela nossa atleta nos Mundiais de pista coberta que terão lugar no próximo fim-de-semana, em Belgrado. Estando tão perto dos 20 metros, tudo pode acontecer, como Auriol merece.