Guerra não, Sporting sim!
17 Mar, 2022
E que arrepiante é esta guerra, provocada pela invasão à Ucrânia por parte do autocrata russo Vladimir Putin. Numa escalada de insensibilidade que apanhou pelo caminho tantos e tantos indefesos, de crianças a idosos, passando pelos animais, com imagens diárias absolutamente chocantes de milhares de pessoas a sair das fronteiras ucranianas para a "terra de ninguém", mas que em último recurso aproveitam a solidariedade de seres humanos como eles, mas que em zonas de maior conforto os acolheram de braços abertos para os deslocarem para diversos locais do Mundo onde, como é óbvio, Portugal não deixaria de dizer presente no tão nosso bom acolher.
É duro. É triste. É chocante. É abjecto. Esta guerra, como todas as guerras. Que serve interesses políticos e em que os que se encontram no seu pedestal se esquecem do essencial, o povo. Sim, esses que são meros peões de brega desta sociedade cada vez mais perdida nos seus valores.
Falar de guerra, faz com que cada caracter desta coluna de opinião seja manchado de sangue. E nas guerras entre países irmãos − sim, é o caso desta − consigo encontrar na palavra "irmãos", e no desporto, algo que ameniza esta dor imensa.
Vou falar de um ucraniano e de um russo − sim, porque não distingo os bons dos maus e neste caso eles são iguais, detesto até que se ostracize cidadãos russos que nenhuma culpa têm da loucura de quem os preside. E quem são esses "irmãos" de quem vos vou falar. São eles, respectivamente, Viktor Tchikoulaev, 58 anos, natural de Odessa(Ucrânia) e de Vladimir Bolotskih, 52 anos, natural de Vladivostok (Rússia). Quis o destino que Portugal fosse o eleito no final da década de 80 do século passado, tendo-se tornado portugueses e representado a nossa selecção, com uma enorme contribuição para a evolução da modalidade nosso país, e por cá terem igualmente constituído família. O andebol trouxe-os para o nosso país, e a amizade ficou para a vida. O Viktor e o Vladimir, que tiveram o ABC de Braga como primeiro emblema no nosso país, acabaram, em anos diferentes, por representar igualmente o nosso Clube. Que jogadores de excelência eles eram. Que orgulho eu tenho que eles tenham envergado o símbolo do Leão. Hoje, serão cidadãos tristes e longe do espectro da guerra. Eles eram "guerrilheiros" de boas causas dentro do campo. Essa era a sua "guerra", tão só. Com o Viktor Tchikoulaev tive o privilégio de me ter cruzado, então como dirigente no andebol do Sporting CP durante a sua passagem pelo Clube, e com a particularidade de termos estado no final da década de 90, na sua Ucrânia, em eliminatória europeia contra o HC Motor Zaporozhye. Não consigo distinguir um do outro. São ambos cidadãos do Mundo e da paz, pese o local onde nasceram. Aqui não entra guerra alguma. Entra a paz.
E também entra a paz na actualidade, com o Sporting Clube de Portugal como denominador comum novamente. Com Dinis Cherepenko, de apenas 16 anos, filho de cidadãos ucranianos que residem em Portugal, e que joga basquetebol nos sub-18 do Sporting, e Evgenyia Bochkareva, de 25 anos, russa, que joga na nossa equipa principal de voleibol feminino, a selarem laços de amizade entre os povos. Quando o Sporting CP, mesmo que naquilo que é possível serve para fomentar a paz, e não fazer distinções, claro que ficamos felizes. No passado como no presente, estes casos, bem como vários outros e de outras modalidades, tiveram russos e ucranianos lado a lado e de Leão ao peito. No fundo, a loucura da guerra nunca poderá sobrepor-se ao desporto. Eles foram e são "irmãos" de Leão ao peito. Como num slogan qualquer: "Guerra não, Sporting sim".