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O Chana era "mágico"

Por Juvenal Carvalho
14 Dez, 2023

No sábado passado, dando continuidade às homenagens que têm sido feitas às várias modalidades no "João Rocha", foi agora a vez − depois do andebol, futsal e voleibol, do hóquei em patins. E esta teve mesmo o simbolismo de ter sido feita na recepção ao Sporting Clube de Tomar, que é a nossa filial número um, a fazer desfilar pelo rinque toda uma história feita de sucesso, nacional, mas também, e muito, internacional. Uma história marcada por conquistas, como o comprovam as três Ligas dos Campeões Europeus, três Taças dos Vencedores de Taças, duas Taças WSE, duas Taças Continental, nove Campeonatos Nacionais, quatro Taças de Portugal e duas Supertaças.

Foram diversos aqueles que, de diversas gerações, que mesmo passando posteriormente por clubes rivais, disseram presente ao apelo do Conselho Directivo e lá estiveram na nossa "casa das modalidades". Alguns deles ainda do tempo em que eu, às escondidas dos meus pais, porque alguns dos jogos ocorriam durante a semana à noite e no dia seguinte havia escola, ouvia no velho rádio de pilhas, abafando o som com a almofada da cama, os relatos do hóquei em patins que eram narrados por Abel Figueiredo ou Fernando Correia, dois grandes nomes do jornalismo.

Corria então a década de 70, aquela que fez as delícias dos apaixonados Leões que enchiam invariavelmente o velhinho Pavilhão de Alvalade, para ver jogar aquele que ainda hoje é conhecido como o "cinco maravilha". António Ramalhete, Júlio Rendeiro, João Sobrinho, Chana e António Livramento, sob a liderança técnica de Torcato Ferreira, ficarão para sempre imortalizados na história da modalidade. Foram eles a trazer para o nosso país a primeira Taça dos Campeões Europeus − era assim então a designação − e patentearam uma classe ímpar... eram mesmo, e decididamente, intratáveis e quase imbatíveis.  

Desde um António Ramalhete que "fechava" a baliza, à classe e pragmatismo de Júlio Rendeiro, passando por um João Sobrinho que disparava verdadeiros "mísseis" às balizas adversárias e complementando, quiçá, com a melhor dupla de avançados de sempre na modalidade, composta pelo "mago" António Livramento e pelo "mágico" Chana. Muitos outros, ao longo dos tempos − e eu ainda sou do tempo de, no velhinho pavilhão, assistir a grandes momentos desta modalidade, que se alargaram mais tarde à Nave de Alvalade e actualmente ao Pavilhão João Rocha, marcaram igualmente a nossa história. 

Mas, respeitando todas as outras opiniões, e na actualidade vejo até grandes jogadores na nossa equipa, que nos deram ainda tão recentemente duas Ligas dos Campeões, e irão seguramente lutar por mais conquistas, recordei, ao ver o desfile da história no "João Rocha", a ausência do meu ídolo de jovem, que foi o Chana. E recordei, sobretudo pela ausência ser motivada por estar a passar um período menos bom da sua saúde.
Ele fez-me vibrar com golos verdadeiramente mirabolantes. Daquele stick eram pintadas verdadeiras obras de arte. Os guarda-redes e defesas adversários, tantas vezes, nem percebiam como ele fazia aqueles golpes que pareciam de pura magia. 

O Chana − Vítor Carvalho de seu nome, para quem não o viu, porque os que o viram jogar deverão certamente corroborar da minha opinião, era completamente deslumbrante. Driblava os adversários de forma que poucos pareciam acreditar como era possível fazer aquilo. Os adversários ficavam até atónitos − termo literal –  e curvados à sua classe ímpar. Ele e António Livramento espalhavam mesmo o "terror" completo em campo. Que felicidade tem o nosso Sporting CP de os ter visto coabitar de Leão ao peito. Tempos inolvidáveis. 

Não menos são os de hoje. Temos igualmente grandes jogadores, que espalham brilhantismo nas quadras.  

Que bonito tem sido o reviver a história do nosso eclectismo. Ainda falta o basquetebol. E esta, confesso para uns, e não é novidade alguma para os outros que me conhecem bem vai, desconfio, trazer-me até umas lágrimas marotas ao rosto.

Obrigado, Sporting Clube de Portugal!