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Português, Portugal

Esplendor na quadra

Por Pedro Almeida Cabral
07 maio, 2021

Ao Sporting CP não basta ganhar, há que ganhar com os que formámos desde cedo para a vida desportiva. É ao formar atletas que o Sporting CP transmite valores da superação pelo desporto

Há poucas palavras para descrever aquele que é um dos maiores feitos desportivos de sempre do Sporting Clube de Portugal. Ao escrever estas linhas, ainda é algo incrédulo que recordo a final da Liga de Campeões de futsal que vencemos por 4‑3, frente ao Barcelona FC, provavelmente a melhor e mais cara equipa de futsal em competição. Não foi somente a conquista de mais um troféu para um atafulhado museu de títulos nacionais e europeus. Foi, sobretudo, uma vitória do que é, na sua essência mais profunda, o Sporting CP. Explico porquê.

Ao contrário de outros clubes, que adquiriram direitos desportivos para criar a modalidade, o Sporting CP é um dos fundadores do futsal em Portugal. Primeiro, na sua versão antiquada do futebol de salão, e depois, na forma do jogo que vingaria, o futsal. Foi o Sporting CP que venceu o primeiro campeonato nacional, que se disputou em 1991. Desde então, o Sporting CP participou ininterruptamente em 30 campeonatos, tendo conquistado metade das edições. Podíamos pensar que esta história é restrita às nossas fronteiras. Mas não. O Sporting CP já esteve em cinco finais europeias da Champions de futsal, tantas quantas as do Barcelona FC e apenas atrás do Inter FS e do MFK Dínamo Moscovo. A história nacional e europeia do futsal escreve‑se e confunde‑se com o Sporting CP. Tudo isto é cultura desportiva do Sporting CP, completamente oposta a modalidades instantâneas e a camisolas patrocinadas para título de oportunidade.

Para vencer esta edição da UEFA Futsal Champions League, o Sporting CP derrotou, à vez, o campeão russo, o campeão espanhol e o campeão europeu. Na final, chegámos ao intervalo a perder por 2‑0. O que se passou na segunda parte foi extraordinário. Uma reviravolta absolutamente invulgar em futsal até fechar o marcador a nosso favor. Tão invulgar que em 20 finais europeias, esta foi somente a segunda vez que uma equipa recuperou de desvantagem de dois golos. Um jogo assim só se faz com uma equipa perfeita, treinada pelo melhor treinador de futsal do mundo, Nuno Dias, que já não perde um jogo desde Janeiro de 2020. Acima de tudo, e isso é o mais importante, vencemos com uma equipa recheada de miúdos da formação. Zicky, um pivô de características únicas, que será rapidamente dos melhores na sua posição, Erick, que secou Ferrão – o melhor jogador da actualidade –, ou Tomás Paçó, sempre bem no jogo. Ao Sporting CP não basta ganhar, há que ganhar com os que formámos desde cedo para a vida desportiva. É ao formar atletas que o Sporting CP transmite valores da superação pelo desporto. Por isso, foi esta vitória esplendorosa na quadra tão saborosa e tão exemplar para o que deve ser o Sporting CP.

 

Heróis

Por Pedro Almeida Cabral
29 Abr, 2021

(...) É assim que tem sido a nossa equipa nos 29 jogos do campeonato, mesmo nos que não ganhámos. E será assim que entraremos em campo nos cinco jogos que faltam. Se a sorte protege os audazes, sorri ainda mais aos heróis

Os campeonatos fazem‑se de histórias. Este já leva muito que contar. Desde os miúdos que agarraram o lugar, como Nuno Mendes ou Tiago Tomás, até aos golos do capitão Coates, feito ponta‑de‑lança, passando pelos decisivos tentos de Matheus Nunes contra o SC Braga e o SL Benfica, os 29 jogos do Sporting Clube de Portugal no campeonato têm sido uma caminhada inesquecível. Porém, nada será tão lembrado como o heróico jogo contra o SC Braga do passado domingo.

Raras vezes uma equipa de futebol se superou de forma tão perfeita. Com uma entrada titubeante face à organização ofensiva dos bracarenses, seria Gonçalo Inácio a marcar o jogo, com uma expulsão, decorridos somente 18 minutos. Para muitos que consideravam que Rúben Amorim andava a fazer leituras pouco clarividentes, o nosso míster deu uma resposta esclarecedora. De imediato, baixou as linhas e orientou a equipa para jogar num simples ferrolho 5‑4, defendendo a baliza de Adán com todos os jogadores que tivessem duas pernas. Ao intervalo, as entradas de Neto e Matheus Nunes deram ainda mais consistência a esta estratégia. O brilhantismo esteve em fazer com que uma equipa tão empenhada em defender nunca voltasse a cara à vitória. Só um onze extremamente motivado e confiante poderia fazer este jogo: dentes cerrados cá atrás, olhos focados lá à frente, na baliza adversária. Isto é trabalho de treinador. Quem acompanha o campeonato desde o início, sabe a valia superior que tem Amorim no conhecimento do jogo e no treino psicológico de jogadores tão novos. E, por isso, tantos sabiam que a vitória podia chegar.

E chegou mesmo, aos 81 minutos. Uma jogada estudada, um entendimento sublime, um golo que arrancou exuberantes festejos ao mais contido Sportinguista. Foi Porro quem fez sinal a Matheus Nunes para se desmarcar, que enganou toda a defesa do SC Braga e conseguiu um precioso avanço de alguns metros para bater o guardião adversário. Depois, restava não mexer em nada, guardando um pouco mais a bola, como fez Plata, que entrou nos minutos finais.

Não é possível vencer um jogo destes, com um a menos e a lutar contra um vendaval atacante, sem sofrimento, abnegação e sabedoria. É desta massa que são feitos os heróis, atingindo o que muitos acham impossível. É assim que tem sido a nossa equipa nos 29 jogos do campeonato, mesmo nos que não ganhámos. E será assim que entraremos em campo nos cinco jogos que faltam. Se a sorte protege os audazes, sorri ainda mais aos heróis.

 

Saber sofrer

Por Pedro Almeida Cabral
23 Abr, 2021

Continuamos em primeiro lugar isolados, onde todos os outros candidatos ao título queriam estar. Continuamos a ter o segundo melhor ataque e a ter, de longe, a defesa menos batida

Defrontou o Sporting Clube de Portugal um irreconhecível clube, a Belenenses SAD, num dos dérbis de Lisboa. Em tempos de (agora já moribunda) Superliga, é uma oportunidade para pensar no que sucede quando os clubes se desprendem da sua circunstância histórica e do calor dos seus adeptos. Saldou-se o encontro por um empate a duas bolas, tendo o Sporting CP só alcançado o ponto solitário na última jogada, um pontapé de penálti marcado por Jovane Cabral.

Não foi um jogo feliz. Já na primeira volta, a Belenenses SAD tinha causado muitas dificuldades, conseguindo perturbar o fio do nosso jogo com alguma facilidade. A história repetiu-se. Um penálti falhado e um erro de Adán atrapalharam a possibilidade de chegar à vitória. Podia discorrer agora sobre o menor rendimento de algumas das peças do nosso 11. Mas prefiro ver o grande jogo que fez Nuno Mendes. Do alto dos seus 18 anos, esteve destemido e alegre, mudando até de posição para central, não lhe pesando a camisola nem a desvantagem dos dois golos durante 81 minutos. Prefiro focar-me em Jovane Cabral, uma vez mais decisivo a saltar do banco, conquistando e marcando o penálti que valeu o empate. Prefiro recordar Nuno Santos, a esticar o jogo em todo o comprimento, com agilidade e leveza, tendo feito o cruzamento para o golo de Coates. E prefiro também lembrar o nosso capitão Coates, imperial a defender e inteligente a marcar o seu quinto golo no campeonato. Quando não vão uns à luta, vão outros.

Mau grado este malfadado empate, temos seis jogos até final do campeonato. São 18 pontos em disputa. Continuamos em primeiro lugar isolados, onde todos os outros candidatos ao título queriam estar. Continuamos a ter o segundo melhor ataque e a ter, de longe, a defesa menos batida. É ainda um nosso jogador o melhor marcador, Pedro Gonçalves. Dos seis jogos que faltam, empatámos apenas um na primeira volta. Os pontos de vantagem sobre o nosso mais directo perseguidor não são um fosso intransponível. Mas quem lidera é o Sporting CP. E é a mesma equipa que já conquistou o único troféu da época, a Taça da Liga, que não perdeu ainda esta época com rivais e que ganhou ao SL Benfica em casa para o campeonato, após nove anos sem o conseguir. Saibamos agradecer mais a esta equipa, que tanto fez para chegar aqui, do que a exigir-lhe, desmedidamente, este mundo e o outro, e as vitórias que precisamos virão. É altura de saber sofrer com este empate. Mas também é altura de seguir para os próximos jogos agradecidos pelo que a equipa já nos deu e ainda vai dar. A começar já no domingo, contra o SC Braga.

 

Continuar a acreditar

Por Pedro Almeida Cabral
15 Abr, 2021

(...) Duas Taças seguidas só tinha acontecido há 45 anos. Um feito agora alcançado à medida de quem acredita que esta equipa tudo pode ganhar

Na semana passada, as breves linhas que tenho a honra de escrever todas as semanas no nosso Jornal tinham como título “Acreditar”. Falei do historial do basquetebol no Sporting Clube de Portugal e da extraordinária vitória que tivemos contra a AD Ovarense. Levámos de vencida a equipa vareira num emocionante jogo por 97‑92, que nos garantiu o primeiro lugar na fase regular do campeonato. Essa vitória foi obtida no quarto e último período com três triplos certeiros de Travante, quando, a seis minutos do fim, perdíamos por 12 pontos. Ganhou esse jogo quem é do Sporting CP. Mas ganhou‑o mais quem acreditou na equipa, mesmo quando parecia que não íamos ganhar.

Foi a acreditar, com muita alegria, mas com pouca surpresa, que vi o percurso da nossa equipa de basquetebol no fim‑de‑semana. Jogava‑se a final a quatro da Taça de Portugal. Na meia‑final, tínhamos pela frente o FC Porto, com quem havíamos perdido, ingloriamente, os últimos dois desafios. Talvez alguns achassem que íamos ficar pelo caminho logo ali. Travante e companhia, especialmente Diogo Ventura, Shakir Smith e James Ellisor arrumaram com o jogo nuns esclarecedores 85‑77. No domingo, veio a final, contra o Imortal BC e por larga margem, 59‑83, o Sporting CP colocou a sua sétima Taça de Portugal no Museu, revalidando o título do ano passado. Duas Taças seguidas só tinha acontecido há 45 anos. Um feito agora alcançado à medida de quem acredita que esta equipa tudo pode ganhar.

Foi a acreditar que vi o jogo contra o FC Famalicão também no domingo. Um bom golo de Pote na primeira parte, seguido de uma jogada desinspirada e de uma segunda parte pouco eficaz, renderam novo empate no campeonato. Sporting CP segue em primeiro com seis pontos de avanço sobre o FC Porto. A nossa equipa não conhece a derrota até agora, quando faltam apenas oito jogos para o fim, quatro em casa e quatro fora. O Sportinguista ansioso pode escolher como quer encarar a recta final do campeonato. Tanto pode ver estes empates e algum pouco acerto ofensivo como uma tendência preocupante, como pode orgulhar‑se das 20 vitórias no campeonato alcançadas com uma equipa recheada de jovens jogadores, uns ainda juniores, acreditando que os triunfos nestes últimos oito jogos virão com naturalidade. É a diferença entre encarar os adversários olhos nos olhos sem nada a temer, lembrando o que custou chegar aqui, ou nervosamente esquecer os grandes momentos que o Sporting CP já nos deu esta época, com exibições imaculadas e vitórias perante rivais. Eu escolho acreditar. Ou melhor, continuar a acreditar.

 

Acreditar

Por Pedro Almeida Cabral
08 Abr, 2021

Regressando ao jogo com a equipa vareira, assistir àquele último período foi sentir a essência do que é o Sporting CP

No passado sábado, aconteceu Sporting na Arena de Ovar. O Sporting CP defrontou a Ovarense e ganhou por 97‑92 num emocionante jogo de basquetebol. Sobretudo na segunda parte, o marcador raras vezes esteve de feição e, a seis minutos do fim, perdíamos por 14 pontos. Uma distância talvez irreversível para a maior parte das formações da Liga Placard. Mas nada é impossível para a nossa equipa, especialmente para o mágico Travante. O norte‑americano rugiu bem alto e marcou três triplos certeiros neste último e quarto período. Este resultado garante ao Sporting CP o primeiro lugar da fase regular do campeonato. Pormenor pouco importante quando se segue uma fase a eliminar, diriam alguns. Nada mais errado, digo eu, pois o factor casa é crucial quando a competição se reparte também pelo campo do adversário.

Entremos, pois, na segunda fase do campeonato nacional de basquetebol com esperança num título que o Sporting CP não conquista desde 1982. Esteve perto no ano passado, 38 anos depois, mas o cancelamento da competição não permitiu que o Sporting CP lutasse até ao fim. Para quem pensa que o basquetebol do Sporting CP nasceu recentemente, devemos recuar até 1954, quando conquistámos o primeiro campeonato dos oito que temos. A história dessa modalidade em Portugal confunde‑se com a do Sporting CP, onde brilharam jogadores como Ernesto Ferreira da Silva, António Encarnação, Rui Pinheiro, Mário Albuquerque, Carlos Lisboa, Nelson Serra, os irmãos Baganha, mas também os norte‑americanos John Fultz e Mike Carter. Agora, queremos que sejam atletas como Travante Williams, John Fields, João Fernandes ou James Ellisor a fazer história com a verde e branca.

Regressando ao jogo com a equipa vareira, assistir àquele último período foi sentir a essência do que é o Sporting CP. Contra todas as aparências de um mau resultado, Travante e os restantes jogadores não se deixaram ficar e recuperaram os pontos que faltavam para o triunfo. Quem assistiu, nunca deixou de acreditar que a vitória era possível e, a cada triplo travantiano, sentiu‑se que nada ia parar o Sporting CP. Se os jogadores devem honrar a camisola do Sporting CP, Sócios e adeptos têm a missão de acreditar, sobretudo quando a equipa segue em primeiro e leva tantas boas exibições em pavilhões espalhados por Portugal. É a acreditar na nossa equipa de basquetebol que termino esta crónica (também) sobre o empate do Sporting CP com o Moreirense FC no futebol.

 

Páginas de Sportinguismo

Por Pedro Almeida Cabral
31 Mar, 2021

Quase um século depois do primeiro Boletim, o Jornal Sporting continua a fazer tanta falta como em 1922. Essa é a melhor prova que estas páginas de Sportinguismo fazem parte da vivência do Clube

Faz hoje o Jornal Sporting, que tem a gentileza de me acolher nestas páginas, 99 anos. Um Clube centenário, como é o Sporting Clube de Portugal, à beira dos 115 anos, não é apenas uma associação desportiva com equipas e atletas em várias modalidades. A longevidade de um Clube como o nosso vem de algo bem mais profundo: a força dos seus Sócios e adeptos e a vontade que têm que o Clube singre. Não deve haver Clube como o nosso que agregue tantas sensibilidades, tantas organizações e que suscite variadas iniciativas de Sócios e adeptos. Um Clube assim tão envolvente só podia ter o jornal mais antigo de clube desportivo do Mundo. Não é de mais ninguém. Não é de nenhum outro clube, nacional ou estrangeiro. É nosso. E dele devemos cuidar, lendo e contribuindo para que seja lido.

Foi a 31 de Março de 1922 que saiu o primeiro número, ainda com o nome Boletim. O que mais impressiona nessas linhas de apresentação é a sua actualidade. Sublinhava-se que os Sócios do Sporting CP não podiam ficar apenas por um ou outro desafio de ‘foot-ball’. Já então o Clube se assumia como ecléctico e incentivava os Sócios a acompanharem todas as modalidades do Clube. É por isso que a edição de hoje é a melhor homenagem a essas linhas fundadoras, dando conta não só da actualidade do Clube, como de vitórias do Sporting CP em desportos que não apenas o futebol.

Podemos ler nesta edição o relato emocionante sobre a vitória na Taça da Liga em futsal, frente ao SL Benfica, por uns esclarecedores 6-2. Um jogo implacável da equipa Leonina com o pivô Zicky Té, de apenas 19 anos, a assinar uma exibição monstruosa, com dois golos de pura arte na quadra. Ou sobre a conquista dos campeonatos nacionais de atletismo em pista coberta, tanto em masculinos, como em femininos, com prestações sensacionais de atletas como Auriol Dongmo, com um lançamento de peso de relevo, de 19,20 metros. Mas também podemos saber mais sobre o título de campeão nacional de râguebi feminino, ao bater o SL Benfica por 11-8, após desempate por pontapés aos postes. Foi para contar tudo isto, em detalhe, que nasceu o nosso Jornal. Quase um século depois do primeiro Boletim, o Jornal Sporting continua a fazer tanta falta como em 1922. Essa é a melhor prova que estas páginas de Sportinguismo fazem parte da vivência do Clube. E assim continuará a ser por muitos e bons anos.

 

As lágrimas de Dário

Por Pedro Almeida Cabral
25 Mar, 2021

Dário entrou aos 84 minutos para fazer história. É o mais novo a jogar pelo Sporting CP e na Liga NOS. Provavelmente, continuará pelo plantel, espreitando oportunidades e procurando escalar no imprevisível e exigente mundo do futebol profissional

Há momentos que o Sporting Clube de Portugal nos dá que ficam para sempre. No sábado passado, no final do jogo com o Vitória SC, aconteceu uma dessas ocasiões. A seguir à estreia absoluta na equipa do Sporting CP, o menino Dário Essugo, com 16 anos acabados de fazer, acusou a solenidade do momento e expressou‑se como melhor sentiu a emoção, vertendo algumas lágrimas quando o jogo terminou. Dário viveu um dia inesquecível. E todos os Sportinguistas também.

Dário entrou aos 84 minutos para fazer história. É o mais novo a jogar pelo Sporting CP e na Liga NOS. Provavelmente, continuará pelo plantel, espreitando oportunidades e procurando escalar no imprevisível e exigente mundo do futebol profissional. Talvez devêssemos ver esta estreia como uma mera curiosidade cronológica, abrilhantada pelas memórias de infância que nos traz. Quando vi Dário irromper em lágrimas, lembrei‑me das horas a fio que, enquanto miúdo, passava a jogar futebol nas ruas de Lisboa. Eram tardes inteiras, que chegavam a engolir as noites, em becos esconsos, parcamente iluminados, com balizas feitas de pedras e golos discutidos até à exaustão, mas sempre na equipa dos que jogavam pelo Sporting CP. Nessa idade, mais novos que Dário, o sonho de qualquer um de nós também era, tal como Dário, pisar o relvado de Alvalade com a camisola do Sporting CP.

Se ficarmos encalhados nesta doce nostalgia, estaremos a ver um quadro muito incompleto. Dário não é um acaso. Não se estreou por sorte. E também não entrou em campo por estrelinha. Jogou porque era preciso que jogasse. Não havendo atleta mais experiente disponível para essa posição, e tendo Dário qualidades evidenciadas nos escalões de formação, como potência física assinalável, mentalidade competitiva e destreza técnica, não se compreenderia que ficasse no banco. É um dos efeitos naturais da recuperação da formação consistente e profissional que tem sido realizada nos últimos dois anos e meio. A Academia vive muito de um trabalho invisível que só fica concluído quando o atleta está apto a jogar na equipa principal. Juntando este investimento a um treinador que partilha a ideia de que a formação é essencial para a vitalidade clubística, desportiva e financeira do Sporting CP, temos, em apenas um ano, sete jogadores da formação a debutar com a verde e branca. As lágrimas de Dário significam afinal bem mais para o Sporting CP do que a emoção do momento.

 

Duas questões sobre o caso Palhinha

Por Pedro Almeida Cabral
18 Mar, 2021

As competições desportivas precisam de regras claras, que tragam justiça e minorem o erro dos árbitros. A decisão do TAD, redigida de forma cuidada, pensada e rigorosa, dá pistas para uma melhoria do enquadramento disciplinar da Liga

Finalmente, o Tribunal Arbitral do Desporto, conhecido como TAD, proferiu a sua decisão sobre o afamado caso Palhinha. Tudo começou com a exibição de um (escusado) cartão amarelo a Palhinha no jogo contra o Boavista FC, no final de Janeiro passado. Por considerar que o cartão foi mal mostrado, como é evidente que foi, Palhinha recorreu para o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. Este organismo não deu razão a Palhinha, que, por sua vez, recorreu para o TAD. Entretanto, tudo ficou suspenso por uma providência cautelar. Este emaranhado novelo judicial conheceu por estes dias um avanço importante: o TAD deu razão a Palhinha e considerou que o cartão amarelo foi mesmo mal mostrado, anulando‑o. 

A partir daqui, há duas questões que se devem colocar. A primeira questão é saber se o essencial da decisão do TAD se irá manter. O TAD deu extrema importância ao facto de o árbitro, Fábio Veríssimo, ter reconhecido, frontalmente, que não devia ter mostrado o cartão amarelo. Não será habitual este mea culpa nos árbitros portugueses. Mas a verdade é que foi o que aconteceu. Num futebol que privilegie a verdade e o trabalho construtivo dos árbitros, em casos flagrantes de erro como este, este entendimento deveria prevalecer.

A segunda questão prende‑se com a doutrina do terreno do jogo, que já circula em qualquer conversa com o seu nome original, field of play doctrine. Este princípio é fundamental para garantir que o árbitro tem autoridade em campo nos 90 minutos de jogo. Acaso não existisse, um jogo de futebol seria uma balbúrdia, susceptível de recurso permanente, esvaziando a capacidade decisória do árbitro. O que está em causa é uma extensão exagerada desta doutrina por parte do Conselho de Disciplina, que sustenta que o reconhecimento do erro do árbitro na amostragem do cartão amarelo só valeria se ele afirmasse ter visto o lance em toda a sua extensão. É uma exigência impossível de cumprir que, a ser escrupulosamente respeitada, não daria qualquer relevância ao reconhecimento do erro pelo árbitro. Além de contrariar entendimento consolidado no Comité Disciplinar da FIFA, que valora acontecimentos durante o jogo que o árbitro não se tenha apercebido. Persistirá o Conselho de Disciplina nesta interpretação peculiar da doutrina do terreno do jogo?

As competições desportivas precisam de regras claras, que tragam justiça e minorem o erro dos árbitros. A decisão do TAD, redigida de forma cuidada, pensada e rigorosa, dá pistas para uma melhoria do enquadramento disciplinar da Liga. Espera‑se que a malha legal disciplinar seja aperfeiçoada no sentido das orientações do TAD e que o Conselho de Disciplina acerte os seus entendimentos. Ficaríamos todos a ganhar.

 

Associação Nacional de Fazedores de Futebol

Por Pedro Almeida Cabral
11 Mar, 2021

(...) Teríamos até que dar os parabéns a tão atenta Associação e aos sapientes instrutores da Liga por terem desmascarado esta tramóia. Se não fossem eles, nunca se teria descoberto que Rúben Amorim treinava o Sporting CP

Soube‑se há dias que Rúben Amorim pode ser suspenso por um a seis anos da sua actividade profissional. Em Março de 2020, a Associação Nacional Treinadores de Futebol fez uma denúncia à Liga acusando‑o de não poder ser treinador de futebol do Sporting Clube de Portugal. E agora, um ano mais tarde, a Comissão de Instrutores da Liga entendeu acusar Rúben Amorim de fraude e falsas declarações. O Sporting CP também não está livre de acusações, considerando a Comissão que contratar Rúben Amorim só foi possível com um contrato fraudulento.

Seriam fraudes em cadeia, num esquema bem urdido para enganar Portugal inteiro. Teríamos até que dar os parabéns a tão atenta Associação e aos sapientes instrutores da Liga por terem desmascarado esta tramóia. Se não fossem eles, nunca se teria descoberto que Rúben Amorim treinava o Sporting CP.

O único problema é que o parágrafo anterior só existe nas cabeças de quem entendeu que todo o mérito deve ser castigado. Todos sabiam qual era o percurso e a qualificação profissional de Rúben Amorim quando veio para o Sporting CP. Ninguém ignorava que teria de fazer um curso específico. Nenhum atleta do Sporting CP se recusou a ser treinado por Rúben Amorim. Os Sócios e adeptos do Sporting CP também não puseram em causa a pretensa desqualificação do treinador. Em resumo, ninguém se importou com o irrelevante papelinho.

A verdade é que não houve investigação alguma de nenhum organismo. Trata‑se apenas de tentar manter um caduco sistema de qualificações que é impossível de cumprir, dado que tem vagas limitadas e obriga a permanência no mesmo nível vários anos. Pior. A prática de inscrever treinador‑adjunto até obter a qualificação de treinador principal existe há mais de dez anos, sendo aceite pela Liga sem questionar. É este o triste retrato de um Portugal corporativista, burocrático e avesso ao mérito que mais parece pretender ser o protagonista do último terço do campeonato. Os dirigentes da associação querem tanto escolher ‘quem treina quem’ que se comportam como a Associação Nacional dos Fazedores de Futebol. Talvez assim esqueçam os seus fraquíssimos resultados como treinadores. Já a comissão, em vez de instruir, mais parece apostada em destruir, agindo como Comissão de Destruidores da Liga, desestabilizando e procurando influenciar o campeonato. Mais um triste episódio a que estou certo que Rúben Amorim responderá onde tem respondido: em campo.

 

Sensibilidade e Bom Senso

Por Pedro Almeida Cabral
04 Mar, 2021

A Maria José Valério nunca verdadeiramente se despedirá da família Sportinguista enquanto assim for. E essa é a melhor homenagem que lhe podemos fazer

O embate do Sporting Clube de Portugal com o FC Porto fez parar o país. As duas equipas que lideram a prova defrontaram‑se pela terceira vez esta época. De um lado, o Sporting CP com apenas três empates e sem derrotas para o campeonato. Do outro, o FC Porto, campeão em título, vindo (quase) directamente de uma vitória sobre a poderosa Juventus FC.

Muito se falou sobre as circunstâncias deste jogo. Tempo útil, posicionamento defensivo, escassa produção ofensiva, a continuada arruaça do banco do FC Porto e a falta de desportivismo (para não dizer mais) de um jogador portista. Tudo isto pertence ao clássico. Mas tudo isto nos diz pouco sobre o clássico. E ainda menos sobre o que significou o empate a zero e o ponto alcançado pelo Sporting CP. Em seis jogos com rivais e SC Braga temos quatro vitórias e dois empates, ambos com o FC Porto. Nos últimos oito jogos, sofremos apenas um golo. E foi a primeira vez que o FC Porto não marcou para o campeonato em casa esta época. Mas o mais impressionante é mesmo a maneira como se apresentou este Sporting CP. Alinharam sete jogadores sub‑23, dois dos quais juniores. E foram estes miúdos que souberam dar luta a jogadores da craveira de Pepe ou Corona. Quem não acompanhe este Sporting CP pode achar que foi mero acaso. Quem estiver mais atento, reconhece que a articulação táctica da equipa se vem consolidando e que a inteligência em campo para anular este FC Porto nunca poderia ser sorte. Resultado importante, exibição de qualidade e crescimento da equipa.

Embora se tenha mantido a distância para o FC Porto, o SC Braga aproximou‑se, estando agora a nove pontos. Faltam 13 jogos, 39 pontos em disputa, deslocações aos campos do SC Braga e do SL Benfica e jogos com quatro equipas da primeira metade da tabela. Pensar que este campeonato está encerrado é como pensar que a pandemia já acabou. Jogo a jogo. Lance a lance. Golo a golo. Nunca é demais repetir.

 

P.S. – Uma palavra final de pesar. Desde há décadas que a Marcha do Sporting faz parte do património imaterial de cada Sportinguista. Assistir a um jogo no estádio exige cachecol ou camisola e cantarolar os versos da nossa Marcha. A Maria José Valério nunca verdadeiramente se despedirá da família Sportinguista enquanto assim for. E essa é a melhor homenagem que lhe podemos fazer.

 

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