Mário Albuquerque e Nélson Serra lembram episódios marcantes das suas passagens pelo Sporting.
Nélson Serra e Mário Albuquerque fizeram parte das mais marcantes equipas de basquetebol da história do Sporting Clube de Portugal, que entre 1975 e 1981 conquistaram muitos títulos nacionais. O primeiro media 1,85 metros e destacava-se pela eficácia nos lançamentos exteriores e pela forma soberba como assistia os companheiros. Na altura, foi bastante prejudicado pelo facto de não haver lançamentos de 3 pontos…
Quanto ao segundo, era um jogador muito poderoso fisicamente, media 1,92 metros, era ambidextro e também muito produtivo a finalizar. Muitos consideram-no o melhor basquetebolista português de todos os tempos.
Passaram a infância em Lourenço Marques (apesar de ambos terem nascido em Portugal) e jogaram durante muitos anos no Sporting local, transferindo-se para o nosso Clube com uma diferença de um ano: Mário Albuquerque chegou em 1975 e Nélson Serra em 1976.
“Primeiro, vim eu, o Pinheiro e o António Manuel Alves, convidados pelo Hermínio Barreto, que tinha sido nosso treinador em Lourenço Marques e que na altura exercia esse cargo no Sporting. Depois, chegou o Nélson e formámos uma equipa muito poderosa, da qual faziam também parte o Carlos Sousa e o Encarnação, por exemplo”, recorda.
Nélson Serra reconhece que integrou as melhores equipas «leoninas» na modalidade: “A aferição pode ser feita pelo número de títulos e entre 1975 e 1981 ganhámos muita coisa…”. Albuquerque sublinha que “essas formações congregaram excelentes jogadores que já cá estavam, com outros vindos das colónias. Só havia praticamente portugueses, o que contribuía para a união no grupo… Na altura, só era permitida a presença de um estrangeiro por equipa, que era quase sempre norte-americano”, lembra.
Nélson Serra era um especialista nos lançamentos exteriores, lamentando que no seu tempo a regra dos 3 pontos ainda não existisse. “Já reclamei para a Federação por causa dos retroactivos!”, atira, em tom de brincadeira. E Mário Albuquerque até defende que o seu ex-colega era superior a Carlos Lisboa neste particular. “O Lisboa quando ‘engatava’ acertava sem parar, mas o Mário era mais certo e regular”, afiança. No entanto, apesar do seu acerto, Serra garante que gostava muito mais de passar a bola do que tentar o lançamento.
O regresso do Sporting ao basquetebol, para já apenas com uma equipa feminina, é bem-visto por ambos. “Espero que este regresso seja auspicioso e tenha futuro, mas não pode ser apenas feminino. Mas de qualquer forma, o futuro da modalidade está sempre nos miúdos. É preciso investir no minibasquetebol, para que as crianças de 5 e 6 anos ganhem gosto pela modalidade”, considera Albuquerque.
Depois de representarem o Sporting como jogadores, os nossos entrevistados também serviram o Clube no cargo de treinador e de novo com assinalável sucesso. Nélson Serra tem boas recordações desse período. “Uma vez, começámos do zero, desde a III Divisão e sem condições nenhumas. Havia jogadores, mas tudo o resto teve de se arranjar. E lá se arranjou! Saltámos até à I Divisão e quando ainda estávamos no segundo escalão, chegámos a ter jogos no nosso pavilhão com casa completamente cheia!”, lembra.
Mário Albuquerque chegou ao cargo de treinador de forma inesperada, na sequência da demissão de Hermínio Barreto. “A equipa caiu-me na mão em 1975 e fiquei como técnico-jogador. Fomos campeões, depois na época seguinte, perdemos porque muitos jogadores ‘fizeram o favor’ de se lesionar e em 1977 e 1978 voltámos a ganhar outra vez. Ou seja, ganhámos três vezes em quatro anos, mas sinceramente não gostava de ser treinador e abandonei o cargo”, confessa, atirando: “Ser técnico era uma chatice, o que eu gostava era de estar dentro de campo, a jogar”.
Para além de um grande jogador de basquetebol, Mário Albuquerque fazia-se notar pelo desportivismo exemplar. Um episódio ficou na história, numa decisiva partida diante do Ginásio Figueirense. Aqui fica a narração, na primeira pessoa:
“Foi a final do Campeonato Nacional e estávamos a perder por 3 ou 4 pontos, já muito perto do fim. Houve uma bola disputada debaixo da tabela e ela tocou-me na mão e foi para fora. O árbitro José Martins marcou ao contrário, mas eu disse-lhe instintivamente que era deles… A decisão foi corrigida e depois até acabámos por ganhar”, recorda.
Mário Albuquerque e Nélson Serra têm algumas histórias curiosas para contar do seu tempo no Sporting de Lourenço Marques. E uma envolveu o Benfica e Eusébio.
“Ganhámos um campeonato ao Benfica, em Lisboa, no Pavilhão dos Desporto mas eles protestaram e a Federação não homologou o campeão. Agarrámos na Taça e fomo-nos embora, porque ganhámos dentro do campo! E o Eusébio foi multado pelo Benfica porque estava a fazer claque pelo Sporting de Lourenço Marques”, lembra Mário Albuquerque.
Texto: André Cruz Martins
Fotos: César Santos