Concentradíssimo a recordar experiências
21 Abr, 2016
Paulo Futre falou da interferência da comunicação social nos intervenientes
O ex-atleta de futebol subiu ao palco para partilhar algumas das experiências vividas ao longo da sua notável carreira. Afinal, não são apenas os jogadores da actualidade que têm de lidar com a pressão imposta pela comunicação social. A transferência de um menino de 21 anos para um dos melhores clubes do mundo – Atlético de Madrid – gera mediatismo em qualquer que seja a época. Recuámos até 1987 para falar da maior transferência do futebol português até então. No palco, o protagonista, Paulo Futre, que foi arrancando algumas gargalhas à plateia e, principalmente, ao técnico Jorge Jesus.
“Eu só tinha 21 anos. Cheguei a Madrid e deparei-me com um cenário apoteótico: centenas de fotógrafos, dezenas de jornalistas. Nunca tinha visto nada assim na minha vida. Lembro-me que estranhei o facto de ser obrigado a falar para todas as rádios espanholas, para que depois as minhas declarações passassem na edição das 00:00. O meu primeiro pensamento foi: Em Portugal, às 00:00, está tudo a dormir e aqui dá-se importância às estações de rádio?”, de facto, dava-se, sendo que, por estação, calculavam-se cerca de dois milhões de ouvintes. Prosseguindo, Paulo Futre relembrou ainda os desentendimentos que travou com o então presidente do Atlético de Madrid, Gil y Gil,e a forma como os mesmos marcavam a imprensa espanhola. “O Atlético vendia mais jornais quando eu e o presidente nos pegávamos. É verdade. Lembro-me até da polémica com Dino Viola, ex-presidente da Roma. Gil y Gil não aceitou a proposta do clube italiano, mas eu tinha o sonho de lá jogar, então convidei Dino Viola para nos reunir-nos em minha casa, na tentativa de arranjar uma maneira de pressionar Gil y Gil. No dia seguinte, estava tudo no jornal ‘Marca’”, contou, olhando para Sergio Omedilla, actual editor do periódico espanhol.
Paulo Futre foi-se apercebendo do poder dos seus depoimentos, num processo pelo qual, ainda hoje, todos os jogadores têm de passar, sendo que já existe um controlo bem maior, de modo a evitar as polémicas de que todos os clubes querem fugir. “Fui percebendo o impacto que as palavras podem ter, mas também me apercebi do estímulo que os rumores tinham em mim. Eu crescia! Ficava imparável, porque adorava jogar sob pressão. Contudo, é óbvio que as notícias mexem com os jogadores, principalmente durante os mercados”, acabou por confessar um dos poucos ex-profissionais de futebol que se pode gabar de ter jogado nas quatros principais ligas europeias: portuguesa, espanhola, inglesa e italiana.