Ir às Aves e ver Gelson voar
06 Ago, 2017
Estreia do Sporting CP na Liga NOS 2017/2018 e 'bis' de Gelson, que valeu a vitória frente ao Desp. Aves por 2-0
Quantas vezes dissemos: “Chuta, Gelson!”? E ele dava ao lado, o colega fazia abanar as redes e o menino franzino sorria. De assistência em assistência, Gelson Martins habitou-nos a colocar a bola no sítio certo para ‘o outro’ lá ir encostar. Essa característica valeu-lhe o título de jogador com mais passes acertados para golo na LIGA NOS 2016/2017 – 10, para sermos precisos.
Passaram sensivelmente quatro meses. Gelson continua a levar nas costas o número 77 e a equipar de verde e branco. No entanto, à primeira jornada do novo campeonato, decidiu ouvir as vozes da bancada e sorrir… como ‘artilheiro’. Frente ao Desportivo das Aves, ‘bisou’, passando o papel que costumava ter a Acuña e Battaglia. O Sporting deslocou-se ao terreno de um adversário cujo nome nos deixa tentados a fazer trocadilhos com animais que possuem asas, mas foi o menino franzino que voou numa exibição para inglês ver (só ver, entenda-se).
Na conferência de imprensa que antecedeu o desafio da ronda inaugural, Jorge Jesus deixou a dica no ar: “posso utilizar Bruno Fernandes e Adrien Silva no mesmo sistema táctico”. Tanto pode, que utilizou. Num esquema de 4x4x2 em que o ex-Sampdoria se posicionou atrás de Bas Dost, William e Adrien tomaram conta do meio-campo. Nas alas, Piccini e Fábio Coentrão mais atrás, enquanto o ‘homem-golo’ e Acuña ocuparam terrenos dianteiros. Rui Patrício, invariavelmente apoiado pelo conhecido ‘siiiim’ esteve guardado por Mathieu e Coates, uma dupla que lhe valeu ‘segurança apertada’. Desta defesa, veio também o primeiro sinal de perigo por parte do Sporting. Coates, ao estilo daquilo que já nos habituou a época passada – investidas no ataque de quem parece gostar de respirar outros ares -, cruzou como nenhum outro tinha conseguido, ainda que Dost não tenha chegado de cabeça. Na recarga, Bruno Fernandes encheu o pé para intervenção apertada de Adriano Fachini (19’). Sim, este foi o minuto do primeiro lance digno de registo, prova da forma competente como o opositor se posicionou em campo e tentou condicionar o jogo leonino. Instantes depois, mais uma vez de longe, Acuña voltou a aquecer as luvas de Fachini, que sacudiu por cima. Do outro lado, Rui Patrício também quis mostrar serviço e travou as intenções de Braga, cedendo canto. Dizem, por aí, que agitação nas duas áreas é sinónimo de golo iminente. Talvez tenham razão.
A jogada que antecede o 1-0 a favor dos leões prova bem que um ‘momento de aperto’ pode transformar-se rapidamente numa conjuntura positiva – isto não acontece só no futsal. Aos 23’, a defensiva verde e branca sacudiu o pontapé de canto cobrado pelo Aves. Não conseguimos anotar quantos foram os metros que Acuña correu colado à lateral esquerda, mas podemos dizer que só precisou de levantar a cabeça um milímetro para ver a movimentação de Gelson. “Mete”, pensámos. Ele meteu. “Corre”, gritámos, após o número 77 ficar com via aberta para a baliza contrária. “Chuta, Gelson!”. Chutou. Calma. Não antes de bailar em frente ao adversário directo, deixando-nos à beira de um ataque de nervos. “Golo!”, explodiram as bancadas.
Com a vantagem, o Sporting adormeceu. O livre de Adrien para outra boa defesa de Fachini foi a única criação agradável desenhada pela equipa de Jorge Jesus até ao intervalo. Alexandre Guedes e Falcão tentaram ‘molhar a sopa’ numa altura em que a bola parecia queimar na posse da formação leonina. Contudo, o marcador manteve-se favorável aos forasteiros.
Apito de Tiago Martins para o início da etapa complementar e ‘bomba’ na barra do Desportivo das Aves. O ‘atirador? Acuña, ficando a ‘um triz’ de fazer levantar o estádio. O remate do ‘meio da rua’ obrigou qualquer Sportinguista a levar as mãos à cabeça. Há medida que o cronómetro avançou, os leões tornaram-se donos e senhores da partida, contando para isso a entrada de Battaglia, que teve pernas para correr para todos os lados – Adrien saiu, claramente desgastado - e de Daniel Podence, talhado para os desequilíbrios.
Parecendo que não, aqueles que desequilibraram (para não variar) foram os adeptos leoninos. “E faz o golo allez, allez. E faz o golo allez, allez”. Posto isto, adivinhe quem sorriu. Gelson Martins, claro. Aos seus pés, veio parar uma bola atabalhoada proveniente de Battaglia. Chamou-lhe ‘um figo’ e fez o 2-0 (75’). Um ‘bis’ para começar que deixou água na boca para o que aí vem. Neste caso, é o Vitória de Setúbal no Estádio José Alvalade. Preparem-se, pois Bas Dost não ficou satisfeito com a exibição individual.