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A Dinamarca como trampolim para o Rio

Por Jornal Sporting
26 Nov, 2015

Lançamento do Mundial de Odense com Sílvia Saiote, Diogo Abreu e Pedro Ferreira

A Dinamarca fica no Norte da Europa. Ali os Invernos são longos e rigorosos com noites muito compridas e dias curtos, pálidos e gelados. A neve cobre a terra e os telhados, os rios gelam, os pássaros emigram para os países do Sul à procura de sol, as árvores perdem as suas folhas. Só os pinheiros continuam verdes no meio das florestas geladas e despidas”. O cenário, descrito por Sophia de Mello Breyner Andresen no seu livro ‘O Cavaleiro da Dinamarca’, refere-se ao lugar onde três ‘leões’ estão, a partir de hoje, quinta-feira, e até domingo, à procura do passaporte para uma cidade no outro lado do Globo, onde os Invernos são curtos e quentes, os dias compridos e as noites ainda mais compridas, mas pela festa, não pelo clima. Neve nem vê-la e a única coisa que cobre os telhados é o sol escaldante que também cobre o mar, sempre presente, e onde refecte multiplicando a luz. 

Ali, no Rio de Janeiro, há Jogos Olímpicos em 2016, no Inverno da ‘cidade maravilhosa’. E Sílvia Saiote, Diogo Abreu e Pedro Ferreira, a elite ‘leonina’ dos trampolins, busca a partir de hoje, em Odense (Dinamarca), no Campeonato do Mundo, uma vaga para as suas primeiras Olimpíadas. Sílvia Saiote é cautelosa nas previsões. “Chegar aos Jogos é um objectivo muito forte para mim, mas tenho a noção que trabalho para ser o melhor que conseguir ser. Se o meu melhor não passar por aí temos pena. Só quero, naquele dia, estar em topo de forma e dar o meu melhor. Claro que tenho objectivos muito específicos, mas se pensar demasiado na nota final pode ser prejudicial, até porque o resultado não depende só de nós, mas também de uma observação subjectiva dos juízes”, considera a ginasta de 27 anos que, no ano passado, abandonou o duplo mini para se dedicar a 100% ao trampolim, com vista a uma presença olímpica. “Realmente sinto que esta será a minha última ou penúltima oportunidade. Estou confiante de que trabalhei muito. Sinto-me muito bem, em topo de forma física e psicologicamente, mas tudo vai depender daquele dia, daqueles 30 segundos por série”.

Sílvia espera, nas provas preliminares de hoje, quinta-feira, repetir os resultados do ano passado e ficar nas 24 primeiras, apurando-se para a semi-final. Assim garantirá a presença no ‘test event’ que vai decidir a vaga olímpica em Abril – a menos que outra atleta portuguesa atinja a final e se classifique nos oito primeiros lugares, garantindo o acesso directo aos Jogos (nesse caso, já não haverá participação portuguesa no ‘test event’). Como principal concorrente interna, Sílvia terá Ana Rente, participante nos últimos Jogos Olímpicos. “Costumo dizer que a nossa competição faz-nos melhores. Se não tivesse uma rival, ou rivais, tão boas, não estava tão bem e a lutar tanto por isto”, salienta a ginasta, que vai jogar pelo seguro em Odense. “Trabalhei o ano inteiro para pôr dois triplos na série, mas percebi que os juízes estão a privilegiar a consistência, a altura do salto e a beleza, por isso vou manter a série que faço há quatro anos, que é mais consistente, e estou a apostar tudo na execução e na altura”, explica. 

A cumprir a quarta presença em Mundiais, Diogo Abreu também vê a Dinamarca como um trampolim – literalmente – para o Rio de Janeiro. “Ficar nos oito melhores da final é muito difícil. Tenho essa pequena esperança, mas sendo realista o meu objectivo é, nas preliminares, ficar nos 24 que dão acesso ao ‘test event’”, salienta o ginasta dos ‘leões’, que alcançou uma brilhante participação na Taça de Mundo de Loulé, em Outubro passado: terminou em 5.º lugar da final em sincronizado e em 6.º na prova individual. “Fiz a preparação toda que podia ter feito, tenho a capacidade técnica de atingir o resultado, agora é ter cabeça; chegar ao momento e fazer bem. Uma pequena falha pode deitar tudo a perder”.

Em ano de apuramento olímpico, Diogo sabe que a concorrência será mais renhida. “Temos visto, pelas Taças do Mundo, que o nível está muito forte, os países estão a apostar muito na preparação dos atletas. A concorrência maior vem da China e do Japão, e, no nível seguinte, temos Portugal, França e Bielorússia”, considera o atleta, que vai competir tanto na prova individual como na sincronizada, ao lado de Tiago Lopes. “O nosso sincronizado está ao nível do topo do Mundo. No individual é mais difícil, porque há mais concorrência, muito mais gente a tentar apurar-se. Mas mesmo aí estou confiante, porque tenho tudo para chegar lá”. E por falar em concorrência, a nível nacional a mais forte vem de Diogo Ganchinho, 15.º classificado nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e 11.º nos de 2008, em Pequim. “É um atleta excepcional, fora de série. Eu tenho a vantagem da idade, ele tem a experiência. Vamos ver o que acontece”, diz o ginasta de 22 anos. Para atingir a meta, Diogo vai apresentar uma série nova. “Vou apostar na dificuldade para ajudar na nota, o que nem sempre é bem jogado, mas no meu caso sinto-me seguro”.

Pedro Ferreira fecha o lote de atletas Sportinguistas em prova e, apesar da tenra idade (apenas 18 anos), também está focado no apuramento olímpico. “É o meu principal objectivo, mas tenho consciência que sou muito novo, por isso não me vou preocupar muito se não conseguir. Ainda assim, tenho capacidade para me qualificar para o ‘test event’”, sublinha a mais recente aquisição dos trampolins ‘leoninos’, que vai disputar o seu segundo Mundial como sénior – o primeiro foi no ano passado. “Estive muito bem porque consegui a semi-final, que corresponderia a um lugar no ‘test event’. Depois fiquei em 19.º, o que, para primeiro Mundial, é excelente. A competição está muito mais forte, mas agora estou melhor, a fazer uma série melhor e penso que posso atingir um resultado melhor também”.

Os atletas falaram ao Jornal Sporting no início do derradeiro treino antes da partida para a Dinamarca e, embora não soubessem ao certo todos os exercícios que iam executar, já sabiam como ia terminar. Pelo menos Sílvia Saiote. “Espero que consigamos jogar um pouco de futevolei no final, que é a nossa tradição para relaxarmos um pouquinho. E eu sou campeã em título! Pode haver informações contrárias mas, para todos os efeitos, eu e a minha equipa somos campeões”, rematou numa gargalhada.