Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Taxonomy term

Português, Portugal

Mais do que um número

Por Pedro Almeida Cabral
23 Jul, 2020

(...) não consigo conceber que alguém queira o engrandecimento do Clube, exigindo títulos e glória, sem que isso implique quaisquer deveres

Como acontece a cada cinco anos, teve lugar há bem pouco tempo a renumeração dos Sócios do Sporting Clube de Portugal. É sempre um momento especial sentir o estreitamento da nossa ligação ao Clube. Não que o número mais baixo indicie maior ou menor Sportinguismo. Mas é sempre uma altura que nos lembra todo o nosso percurso associativo até aos dias de hoje, bem como o que significa ser Sócio do Sporting CP.

Não tinha pais Sportinguistas. Quis o acaso que nos meus verdes anos andasse numa escola a poucas centenas de metros do nosso antigo estádio. Por insistência minha, achando que deambular pelas imponentes arcadas desse estádio me fazia mais crescido, quis, desde muito novo, praticar um desporto lá. Qualquer desporto. E assim, pelos meus cinco anos, inscreveram-me na ginástica do Sporting CP. Foi quando me tornei Sócio do Sporting CP. Sob o olhar desgostoso do meu pai benfiquista, claro. Os anos foram passando e a ginástica ficou para trás. Exercendo o seu poder paternal de malus pater benfiquistus, o meu pai discretamente deixou de me pagar as quotas uns anos mais tarde, argumentando que não pagava quotas de outros clubes. Algures por aí, recordo com saudade o tempo em que o Senhor Amaro ia a nossa casa fazer a cobrança das quotas. Sempre se trocavam dois dedos de conversa sobre o Clube. Mal comecei a trabalhar, tendo recursos próprios, dirigi-me à secretaria do Clube para tornar a ser Sócio. O que nunca mais deixei nem vou deixar de ser.

Conheço bons Sportinguistas que sofrem pelo Clube tão ou mais que muitos Sócios. Procuro sempre convencê-los a fazerem-se Sócios. Não é somente pela garantia de que as quotas pagas vão direitinhas para o orçamento das modalidades, permitindo-nos vibrar e celebrar tantos títulos, nacionais e europeus, num Clube que é muito mais que futebol. É também porque não consigo conceber que alguém queira o engrandecimento do Clube, exigindo títulos e glória, sem que isso implique quaisquer deveres. É um sacrifício que todos temos de fazer para termos um Clube maior. Ser Sócio do Sporting CP é ainda entrar numa galeria de milhões de pessoas que, nos últimos 114 anos deram, nalgum momento da sua vida, um pedaço de si ao Clube. Fazer parte desta história, que se confunde com a história do desporto em Portugal, é um privilégio. Por isso, ser Sócio do SCP é muito mais do que um número.

Os Miúdos

Por Pedro Almeida Cabral
09 Jul, 2020

(...) Grandes jogadores haverá sempre. Miúdos que queiram entrar em Alvalade de leão ao peito depende muito do que nós, Sócios e adeptos, lhes queremos e desejamos

Há muitos e muitos anos, quase por acaso, tive o privilégio de jantar ao lado de Aurélio Pereira, um dos maiores recrutadores de talentos de todos os tempos. Primeiro, como treinador do futebol da formação, depois como líder da captação do Sporting Clube de Portugal, Mestre Aurélio deixou uma marca profunda no futebol. Futre, Figo, Quaresma e Cristiano Ronaldo são jogadores de classe mundial que foram descobertos e começados a delapidar por este enorme Sportinguista.

Nesse repasto Leonino, perguntei a Aurélio Pereira o que era determinante para que um jovem singrasse. Surpreendentemente, e creio não cometer inconfidência alguma, Mestre Aurélio disse que nunca havia certezas. Dependia de muitos factores. Tanto físicos e desportivos, como psicológicos e motivacionais. O actual mercado global de jogadores torna o crivo de ascensão a um patamar de excelência muito apertado. Cabe aos clubes reconhecidamente formadores, como o Sporting CP, reduzir ao mínimo os riscos neste caminho. E não deixar de apoiar quem, investindo muito de si, por alguma razão, fica para trás.

Nestes últimos dias, temos falado dos miúdos lançados por Rúben Amorim. Eduardo Quaresma, Nuno Mendes, Matheus Nunes, Tiago Tomás e Joelson Fernandes prometem. Ainda não é certo como evoluirão. Cada um de nós terá as suas certezas. Mas sabemos que tudo se define desde cedo, na primeira ou na segunda época na equipa principal.

Em tempos de esperanças nestes jovens, há a notícia que Fábio Paim visitou, tantos anos depois, a Academia que lhe deu fama, mas que, por mau destino, não lhe deu proveito. Talvez hoje não se tenha bem a noção do que se dizia de Fábio Paim, curiosamente, na mesma altura em que jantei com Mestre Aurélio. Era certo que seria um dos maiores. Mas não foi. Nem perto andou. Vê-lo na Academia, não escondendo as saudades do que poderia ter sido, faz-nos pensar em todos os que agora têm uma oportunidade. A eles, a melhor das sortes. Ao Fábio, tudo de bom. Aos Sportinguistas, a consciência de sabermos lembrar quem um dia sonhou de verde e branco. Grandes jogadores haverá sempre. Miúdos que queiram entrar em Alvalade de leão ao peito depende muito do que nós, Sócios e adeptos, lhes queremos e desejamos. 

O Clube de Portugal

Por Pedro Almeida Cabral
01 Jul, 2020

Quando se escrever uma verdadeira história dos clubes desportivos em Portugal (…) descobrir-se-á que foi o Sporting CP a estabelecer a matriz da prática desportiva no país

1 de Julho não é um dia qualquer. É o dia da fundação do Sporting Clube de Portugal. No momento em que ler este texto, já o Sporting CP alcançou a idade de 114 anos. Desde que se começou a jogar football do campo das Mouras, corria o ano de 1906, até aos desafios no moderno Estádio José Alvalade, como o que será jogado logo à noite, viveram o Sporting CP milhões de atletas, Sócios e adeptos. Quando se escrever uma verdadeira história dos clubes desportivos em Portugal, que exclua os pequenos detalhes que fazem furor, como os anos de fundação (em que, aliás, abundam charlatanices, misturando e confundindo clubes estranhos que desapareceram rapidamente), descobrir-se-á que foi o Sporting CP a estabelecer a matriz da prática desportiva no país.

Nas suas primeiras décadas de vida, o Sporting CP confunde-se com a história do desporto nacional. E isso tem uma razão. A alma da fundação do Clube, como se lê na recente (e excelente) História do Sporting Clube de Portugal de Luís Augusto Costa Dias e Paulo Barata, era, acima de tudo, a prática desportiva enquanto componente fundamental da formação da pessoa humana, tanto de homens como de mulheres. Longe de ser um Clube elitista, reservando a prática desportiva para camadas privilegiadas da sociedade, nessas luminosas páginas fica claro que a ideia de José Alvalade sempre foi a prática do desporto pelas massas, “sem distinção de forças”, como se lê numa carta até agora inédita do fundador do Clube, que os distintos historiadores revelam. Era uma visão muito à frente do seu tempo, que marcou profundamente o desporto português, fazendo com que outros clubes fizessem do nosso Clube o seu modelo. Sempre imitado, mas nunca igualado, é assim o Sporting CP.

Talvez seja esta vocação universal, também presente no vigoroso eclectismo do Sporting CP, com 36 títulos europeus em sete modalidades diferentes, que explica a enorme popularidade do Clube e a forma intensa como o vivem os nossos Sócios e adeptos. Não podemos esquecer que as grandes instituições soçobram quando traem as suas origens. O Sporting CP não será excepção se trair a sua génese de Clube desportivo e formador da personalidade de homens e mulheres. Por isso, no momento em que comemoramos os 114 anos do Sporting CP, é também tempo de recordar o que estava na mente de quem concebeu e fundou um Clube tão grande como os maiores da Europa. E dizer apenas: Sporting CP sempre.

Eu Sou

Por Pedro Almeida Cabral
16 Jun, 2020

Eu sou de um Clube cuja história se confunde com a história desportiva de quase todas as modalidades em Portugal

Eu sou do Clube que escolhi ser. Talvez não seja comum. Mas foi assim. Pelos meus cinco anos, aí nos agora distantes anos 80, perguntaram-me que clube era o meu. Sem que ninguém me dissesse nada, não hesitei. Filho de pai encarnado, foram muitas as tentativas para me fazer atravessar a segunda circular. Desde bilhetes para jogos, cachecóis, camisolas e propaganda avulsa. Nunca nada funcionou, nunca nada me levou a ser o que não era.

Eu sou daquele Clube em cujo estádio entrava e saía constantemente desde tenra idade. Ia aos treinos de ginástica, debaixo das bancadas, comia croissants quentes à saída e escapulia-me pelos varandins afora para ver melhor aquele estádio que me parecia gigantesco. Aguardava horas para renovar o cartão de Sócio, em filas intermináveis, sempre abismado com a quantidade de gente que lá estava para fazer o mesmo. E a partir dos dez anos, com miúdos da mesma idade, comecei a ir ver os jogos de futebol nas bancadas de pedra sem que nada nos detivesse, nem a falta de bilhete, disfarçada com arte, colando bilhetes já usados e substituindo fotografias num único cartão de Sócio. 

Eu sou de um Clube cuja história se confunde com a história desportiva de quase todas as modalidades em Portugal. Futebol, andebol, atletismo, basquetebol, ciclismo, futsal, goalball, hóquei em patins, judo, kickboxing, natação, ténis de mesa, voleibol e tantas outras seriam bem diferentes sem o meu Clube. E é o meu Clube que é um dos clubes europeus mais titulados, com um eclectismo vigoroso que já leva uns impressionantes 36 títulos europeus em sete modalidades diferentes, contando com atletas de nível mundial, como Jordão, Manuel Fernandes, Balakov, Figo, Schmeichel, Cristiano Ronaldo, Nani, Rui Patrício, Slimani e Bruno Fernandes, no futebol, mas também Carlos Lopes, Fernando Mamede, Francis Obikwelu, Rui Silva, Naide Gomes, Joaquim Agostinho, António Livramento ou Bessone Basto.

Eu sou do Clube de Portugal, conhecido e reconhecido por todo o mundo, onde a paixão e o esforço nunca esmorecem, onde há sempre uma esperança tingida de verde que o esforço, a dedicação e a devoção serão gloriosamente recompensados. Sou do único Clube que podia ser. Eu sou do Sporting Clube de Portugal.

Nikčević

Por Pedro Almeida Cabral
28 maio, 2020

Ter tido um jogador assim em campo é um orgulho. Até sempre Nikčević

Com o termo prematuro das épocas desportivas em curso, os plantéis vão sendo recompostos. Assistem-se a algumas dispensas, aguardam-se contratações e desespera-se para voltar a ver o Leão rampante em campo. Uma das saídas dos últimos dias foi a de Ivan Nikčević. O sérvio de 39 anos, talentoso ponta-esquerda da nossa equipa de andebol, terminou a sua quarta e última temporada ao serviço do Clube.

Se há jogadores que apenas passaram pelo Sporting CP, outros há que se tornam inesquecíveis. É esse tipo raro de atletas que nos lembraremos daqui a décadas, quando estivermos a celebrar as vitórias destes anos. Isso acontece não tanto pelo que jogam ou pelo que fazem jogar. Mas, sobretudo, pelo que entregam em campo.

Ficam dois campeonatos nacionais, uma Taça Challenge e golos do outro mundo no João Rocha. Chegado em 2016, o primeiro título de Nikčević foi a Taça Challenge de 2017. É bom recordar o que foi essa final a duas mãos, ganha aos romenos do AHC Potaissa Turda. Nikčević foi o melhor marcador do Sporting CP nos dois jogos. Em casa, com dez golos e fora, com seis. Logo a seguir, a conquista do campeonato nacional, ainda em Odivelas, num épico confronto com o SL Benfica, que valeu o título. Se o golo de Ruesga que faz o 25-23 há-de me acompanhar até ao fim dos meus dias, a concentração do número 37 nos momentos finais, descaindo e distraindo o bloco defensivo do SL Benfica, certamente lembrando os tempos em que jogava com Ruesga em Espanha, no Portland San Antonio, também não será esquecida. Veio o campeonato seguinte, de 2018, e mais exibições superlativas do ponta-‑esquerda, destacando-se o jogo do título novamente contra o SL Benfica, com cinco remates certeiros, apenas atrás de um perfeito Pedro Portela com seis. Pleno de raça, lá andava Nikčević nas funduras da esquerda, sempre pronto a disparar, naquele que foi um dos seus melhores jogos em Portugal.

Tenho pena de não ver Nikčević a chegar aos 400 golos pelo Sporting CP. Estava nos 390 e prometia ainda ser uma boa ajuda para reconquistar o título nacional. Do que sentirei mesmo falta será do seu gesto habitual quando marcava um golo no João Rocha. Dirigia-se para a bancada, com o braço direito em V, em posição de força, e, com um olhar autoritário, exigia que apoiássemos o Sporting CP. A nós, restava-nos corresponder e puxar ainda mais pela equipa. Os títulos que ficam são saborosos. Ter tido um jogador assim em campo é um orgulho. Até sempre Nikčević.  

Deo Gratias

Por Pedro Almeida Cabral
14 maio, 2020

Só podemos estar agradecidos a tão grande atleta que marcou a história do Clube como poucos

Anda para aí uma teoria que não devemos apreciar excessivamente os atletas do Sporting Clube de Portugal. É uma espécie de atitude preventiva. Como, tarde ou cedo, o atleta deixa o Clube ou fará algo com que não concordamos, mais vale atalhar caminho e dizer, circunspectamente, que é apenas um trabalhador assalariado do Sporting CP. A tese vem embrulhada num slogan peremptório: zero ídolos. Assim que surge oportunidade, lá vem ele, pronto para usar em todas as modalidades e desilusões. Só que achar que não se deve admirar os atletas que se transcendam com a verde e branca é negar a essência do Sporting CP. Em mais de um século de história, o Clube tem uma galeria de atletas que merecem ser recordados pelo que nos deram. Sem eles, haveria Clube, mas seria outro, bastante mais pobre. 

Um desses que serão para sempre lembrados é André Henrique Justino, mais conhecido por Deo. O ala brasileiro chegou ao Sporting CP em Janeiro de 2002. Ainda jogou na nave do velhinho estádio e foi ele quem marcou o último golo do Sporting CP nessa quadra de ambiente infernal. O melhor ainda estava para vir. E veio. Foram 16 temporadas. 604 partidas. 295 golos marcados. 26 títulos. Uma Liga dos Campeões, oito Campeonatos, seis Taças de Portugal, sete Supertaças, uma Taça da Liga e três Taças de Honra. 

O jogador de futsal com mais jogos de sempre do Clube. Uma lenda da quadra que marcava quando ninguém esperava. Um artilheiro mortífero que vivia cada desafio, em especial os jogos grandes, como um Leão insubmisso. Um atleta inspirador que nunca virou a cara a um adepto para uma conversa simpática. 

Se tivesse que escolher um momento de Deo, será sempre o golo na meia-final da Liga dos Campeões do ano passado. Defrontávamos o Inter FS, nosso carrasco nas duas finais anteriores, e já perdíamos por um golo. Como Deo me disse uma vez, a equipa sabia que se não marcássemos rapidamente, a ansiedade apoderar-se-ia de corpo e mente. Não podíamos perder uma vez mais com o Inter FS. Sabendo disso, Deo partiu do meio campo, cavalgou meia quadra e, com um tiro de meia distância, empatou o jogo sozinho. O resto foi história. 
Só podemos estar agradecidos a tão grande atleta que marcou a história do Clube como poucos. Se o futsal do Sporting CP é uma das modalidades que nos enche de orgulho, foi graças a Deo. Ou, em latim, numa tradução Sportinguista: Deo gratias.

Sporting CP contra o vírus

Por Pedro Almeida Cabral
01 maio, 2020

Cada Sportinguista deve cuidar do Clube que, pelo esforço de tantos, lhe foi entregue

Vivemos tempos que nunca tínhamos vivido. Devido à emergência viral, mudámos os nossos hábitos mais elementares. Passámos a controlar o que tocamos, onde respiramos e com quem falamos. Não é a vida que tínhamos. Mas também não é outra, tão irreal que parece.

Este estado pandémico afectou profundamente o desporto. As competições estão interrompidas e discute-se se devem e como podem acabar. Em particular, o futebol levanta as maiores dúvidas. Uns defendem que os campeonatos nacionais só podem ser anulados. Outros defendem que têm que ser terminados custe o que custar. Enquanto não há solução definida, emergiu a dura realidade financeira da maior parte dos clubes portugueses, deixando a nu o que muitos fingem não ver. Salários em atraso, estruturas em implosão, atletas em dificuldades, há de tudo.

Este será o ano em que futebol parou. Com os mercados de compras e vendas encerrados, todos os clubes que não pertençam a emires ou oligarcas endinheirados serão afectados com consequências imprevisíveis. Em Portugal também será assim, com tesourarias suspensas e engenharias financeiras criativas para fintar cofres vazios sedentos de transferências tilintantes.

Quando regressar o futebol, durante algum tempo não será o que conhecemos. Atletas estarão sujeitos a testes preventivos. A doença infecciosa mais conhecida do mundo poderá ser considerada uma lesão. O cuidado com a integridade física dos jogadores pode até inibir prestações desportiva de alto rendimento. E os jogos à porta quase fechada só poderão levar poucas centenas de adeptos ao estádio. Há quem diga que será um novo futebol. Eu digo que dificilmente será futebol algum. 

Nunca em 114 anos (verdadeiros) de história, o amor e a dedicação ao Clube foram tão postos à prova. Cada Sportinguista deve cuidar do Clube que, pelo esforço de tantos, lhe foi entregue. Somos todos nós que vamos levar o Clube, o nosso Clube, em ombros para que atravesse estes tempos com o seu património de paixão intacto. Quando tudo passar, regressaremos em força aos nossos lugares no estádio, no pavilhão e onde quer que haja um atleta de verde e branco para celebrar um golo, um ponto ou uma marca. É isso que a grandeza do Sporting Clube de Portugal exige de nós. E é isso que tantos que ergueram este Clube nunca nos perdoariam que falhasse. 

Leituras Sportinguistas

Por Pedro Almeida Cabral
16 Abr, 2020

Presto a minha sentida homenagem a todos aqueles que enfrentam diariamente o vírus na linha da frente

Em tempos de pandemia tenho ficado por casa, confinado, como agora se diz. Os dias passam iguais, com teletrabalho e em família. Agradeço com respeito a todos os que asseguram que parte da população possa viver desta forma, mantendo em funcionamento serviços essenciais. E presto a minha sentida homenagem a todos aqueles que enfrentam diariamente o vírus na linha da frente. Aos médicos (incluindo o nosso presidente Frederico Varandas), enfermeiros e auxiliares de acção médica espero que nunca falte o reconhecimento que merecem.

Entretanto, a vida vai seguindo. Parece que a infecção causada pelo vírus tira o paladar, fazendo com que tudo saiba a nada. A inexistência de jogos, competições, títulos ou sombra de época desportiva, tem parte desse efeito, retirando algum sabor ao nosso Sportinguismo. As conversas e as discussões sobre equipas, jogadores e a próxima época suspenderam-se à espera de melhores dias. Como as grandes paixões não morrem, partimos em busca do que nos faz senti-las. Por isso, dediquei-me a ler dois excelentes livros que nos alargam os horizontes sportinguistas. Afinal, ser do Sporting Clube de Portugal é também saber mais sobre o Clube.

O primeiro é uma História do Sporting Clube de Portugal que pretende ser uma nova abordagem às nossas origens. Foi publicada há poucos meses pela editora Contraponto, sendo os seus autores os historiadores Luís Augusto Costa Dias e Paulo Barata. Em prosa bem documentada, o nascimento do Sporting Clube de Portugal surge enquadrado na perspectiva mais vasta do desporto português, comprovando que o tão afamado eclectismo Leonino é congénito. Algumas interessantes curiosidades valem também a leitura. Por exemplo, aprende-se que a história do atletismo em Portugal se confunde com a história do Clube.  

O outro livro já tem ano e meio, mas ainda não tinha tido oportunidade de o ler. Big Mal e Companhia de Gonçalo Pereira Rosa, na editora Planeta, é um achado. Lê-se de uma penada e conta a dobradinha de 1982, em que o Sporting Clube de Portugal conquistou campeonato e taça com Malcolm Allison ao leme. Uma época gloriosa relatada em grande ritmo, não deixando de fora as intrigas e as idiossincrasias do então presidente João Rocha e do excêntrico treinador inglês. Uma temporada excepcional, com os inevitáveis Manuel Fernandes, Jordão e António Oliveira, que até teve algo que poucos Sportinguistas sabem: a primeira vitória de uma equipa portuguesa em solo inglês, nas competições europeias, frente ao Southampton FC. 

Ficam estas sugestões de leitura, para que, nestes dias difíceis, nunca nos esqueçamos do sabor a Sporting Clube de Portugal!

 

O nosso Jornal

Por Pedro Almeida Cabral
31 Mar, 2020

O que me deixa verdadeiramente satisfeito é ter a certeza que haverá sempre mais Sportinguistas a carregar a pena do jornal, por pelo menos mais 98 anos

Em tempos de pandemia, que nos obriga a reclusão, cuidados redobrados e a uma esforçada luta colectiva pelas vidas de todos nós, não podemos perder o fio do tempo que passa. A uns dias sucedem-se outros, mas não são todos iguais. Há datas que nos recordam que pertencemos a algo maior. A algo que não começou ontem, nem quando nascemos. O Sporting Clube de Portugal é um clube secular, dos históricos clubes europeus, à beira dos 115 anos de vida. Um Clube assim tem histórias únicas que nunca deve esquecer nem deixar de celebrar. Uma delas é, precisamente, o jornal que está a ler. Hoje, o Jornal Sporting, o mais antigo jornal desportivo do mundo, faz 98 anos.

Tudo começou no longínquo 31 de Março de 1922. No editorial de abertura, escrevia-se claro. Muitos dos Sócios não conheciam todas as actividades que o Clube já na altura desenvolvia. O então chamado Boletim queria que os Sócios não ficassem apenas por um ou outro desafio de “foot-ball”. Quase um século volvido, o Jornal Sporting continua a cumprir a sua missão. Mesmo para leitores experimentados – eu já levo umas décadas! –, o nosso jornal tem sempre novidades. Ou um evento desportivo que não se sabia que se iria realizar. Ou um resultado desportivo animador. Ou uma história Sportinguista para conhecer. É uma prova da imensa riqueza do Sporting Clube de Portugal e de como Sócios e Adeptos são sempre surpreendidos pelo eclectismo e pelo vasto universo Leonino.

Do n.º 1 ao n.º 3773, que é o que tem em mãos, o Jornal Sporting testemunhou títulos, campeonatos, vitórias, conquistas, vidas, alegrias e tristezas de milhões de Sportinguistas. Longe de ser um fóssil em papel, mantido por caturrice histórica, faz parte da vida quotidiana do Clube. É lido, analisado, discutido, por vezes, treslido, mas sempre presente no imaginário leonino. Não poderia ser de outra forma. Falar do que gostamos é também uma forma de amor. E se há adeptos com paixão violenta pelo Clube, somos nós. 

A coluna que aqui venho mantendo são apenas umas linhas mais na história do nosso jornal. Muito me orgulha poder escrevê-las, esperando sempre que tenham algum uso para o espírito Leonino. Mas o que me deixa verdadeiramente satisfeito é ter a certeza que – mesmo quando tudo parece perecer – haverá sempre mais Sportinguistas a carregar a pena do jornal, por pelo menos mais 98 anos. Parabéns ao Jornal Sporting! Parabéns ao Sporting Clube de Portugal! 

Sempre a Combater

Por Pedro Almeida Cabral
20 Mar, 2020

É assim que vai o Sporting Clube de Portugal: sempre a combater e dando tudo o que tem, juntando-se ao esforço de milhões de portugueses

Nestes tempos difíceis, tudo parece mais pequeno. A vitória de há semanas. O título da época anterior. Ou tantas e tantas conquistas deste centenário Clube. O insidioso vírus instalou-se de rompante no nosso quotidiano, paralisando Portugal inteiro. As competições estão canceladas e nem se sabe bem quando e se terminarão. Com campeões suspensos, seguimos atónitos uma batalha que põe em causa a nossa vida, a vida das nossas famílias, dos nossos amigos e de todos os que nos rodeiam.

Clubes desportivos com dimensão nacional e europeia, como o Sporting Clube de Portugal, têm a obrigação e a responsabilidade de lutar contra a propagação da doença infecciosa COVID-19. Por muito que outros assuntos aflorem – já se preparam discussões homéricas sobre quem será o campeão de futebol –, é tudo insignificante face à necessidade de salvar vidas e de procurar atenuar (até onde for possível) o colapso humano e económico da nossa sociedade.

O recolhimento em casa é praticamente obrigatório e durará tempo ainda indeterminado. O Sporting Clube de Portugal tem tentado ajudar nesta reclusão, mostrando como os seus atletas também estão em casa. Não se julgue que é coisa de somenos. É importante sublinhar que todos devemos impedir que a doença se propague. Também destaco o divertido jogo do quatro em linha montado nas redes sociais pelo Sporting Clube de Portugal e pelo Vitória Sport Clube no sábado passado. O nosso Clube foi um justo vencedor, tendo sido recompensado pelo seu ataque flanqueado e diagonal. Ajudando quem mais precisa, Francisco Geraldes ofereceu-se para comprar mantimentos. A formação que este atleta recebeu do Clube foi afinal muito mais que uma mera formação desportiva. Só eu sei porque fico em casa, glosando o cântico desportivo mais conhecido do país, é um bom mote a seguir.

Deixo para o fim o esforço com mais significado. Tanto o Pavilhão João Rocha como o relvado do estádio estão disponíveis para acolherem hospitais de campanha. A possibilidade de ser necessário prestar cuidados médicos em instalações improvisadas é real e pode salvar vidas. O presidente Frederico Varandas, médico de profissão, e o corpo clínico do Clube estão disponíveis para prestar cuidados médicos. É assim que vai o Sporting Clube de Portugal: sempre a combater e dando tudo o que tem, juntando-se ao esforço de milhões de portugueses e de tantas outras instituições que sabem responder aos duros dias que vivemos.

 

Páginas

Subscreva RSS - Pedro Almeida Cabral