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Foto Francisco Lino, D.R.

Diário de Le Mans – Dia 1

Por Sporting CP
30 Abr, 2025

Um largo dia de viagem e a chegada a Le Mans

O apagão electrónico que paralisou a Península Ibérica há pouco mais de 24 horas está presente nas conversas e na multidão que, perto das 13h - e para além do caos já antecipado -, transforma o Aeroporto Humberto Delgado num ponto de encontro de infinitos destinos. 

Pela manhã, ainda antes de a essa multidão se unir, a equipa de futsal do Sporting Clube de Portugal fez o seu último treino em solo luso rumo à 12.ª final four da sua história. O arranque da prova, agendado para sexta-feira, coloca os Leões frente a frente com os espanhóis do Illes Balears Palma, actuais detentores do título, num reencontro com sabor a desforra: trata-se da repetição da final da temporada passada.

Apesar dos receios iniciais, o painel de voos anunciava apenas cinco minutos de atraso na nossa viagem para Paris. No entanto, o avião partiria de Lisboa já perto das 16h30, cerca de uma hora depois do previsto. E apesar de o tempo de espera dentro da aeronave ser pouco, é o suficiente para que vários atletas adormeçam ainda antes da descolagem.

Por essa altura, os despertos Allan Guilherme – integrado na comitiva apesar da lesão que o impede de dar o seu contributo -, Taynan e Bruno Dias aproveitam para fazer ‘a festa’, registando em fotografias e vídeos o momento de descanso dos colegas. A descontracção natural, necessária e tão valiosa de quem sabe que, em breve, será hora de regressar ao trabalho sério.

O ambiente a bordo voltou a encher-se de risos quando percebemos que um dos comissários de bordo podia muito bem ser o gémeo à nascença separado de Gonçalo Portugal. O próprio guardião reconheceu as semelhanças. De sorriso aberto e emoção na voz, o ‘irmão’ perdido não escondeu o seu Sportinguismo: “Vocês não imaginam o orgulho que é ver-vos jogar”, disse, ainda antes de encetar as habituais demonstrações dos procedimentos de segurança.

[Não imaginam mesmo.]

Mais recatados, Sokolov e Bernardo Paçó mantiveram-se entregues à leitura. O russo, com um leitor digital entre mãos; o português, com um exemplar de Murdle #1 – uma escolha que combina bem com a sua capacidade de unir raciocínio lógico e sangue-frio entre os postes.

Pouco mais de duas horas depois, com o salto temporal que a mudança de fuso horário exige também, aterrámos na capital gaulesa. Às 19h33 locais somos recebidos por uma temporada invulgarmente amena: 25ºC. A aplicação de meteorologia deixava um alerta para a má qualidade do ar na cidade e arredores, mas, já a bordo do autocarro rumo a Le Mans, as planícies verdes que ladeiam a estrada pareciam antecipar outra coisa: a esperança associada à nossa cor. Só escureceu depois das 21h e um bonito pôr do sol acompanhou-nos pelas largas janelas do veículo em movimento, numa chegada que parecia desenhada a pincel.

Entre músicas - quase sempre brasileiras - que animavam o ambiente no autocarro, ouviam-se também relatos mais dispersos: o golo solitário de Ousmane Dembélé no Emirates Stadium, no duelo entre Arsenal FC e Paris Saint-Germain nas meias-finais da UEFA Champions League de futebol, chegou até nós misturado nos acordes cantorias.

Por fim em Le Mans, cidade conhecida pela alta velocidade, passava das 22h30 quando toda a comitiva se sentou à mesa para jantar. Em contraste com o retrato típico da cidade, os movimentos de todos denunciavam já alguma lassidão natural de quem viajou durante largas horas - mas na mesa portuguesa houve bacalhau (por entre outras opções), num momento de pausa merecida antes do descanso.

A partir desta quarta-feira, o foco será único e inegociável: lutar pela conquista do terceiro título europeu da história do futsal Leonino, naquela que é a maior e mais ambicionada competição de clubes do mundo.

Por Filipa Santos Lopes, em Le Mans.